Katsushika Hocusai (1760-1849, pintor do "período Edo")
Hokusai, 1834
Falo uma vez mais do livro de Armando Martins Janeira que me tem mantido curiosa e interessada - tantas são as coisas nele descubro.
A chegada dos Portugueses, o espanto, a sintonia e, depois, a expulsão dos missionários jesuítas. Por "intolerância", segundo alguns historiadores japoneses.
Ando Hiroshige
De facto, entre os anos 1591 e 1614, “a curiosidade pelas coisas
de Portugal é enorme. É um momento em que há uma grande aproximação entre o
Japão e o que se passava na Europa”, diz o historiador James Murdock, citado por Martins
Janeira.
Acontece na moda, na comida, no vestuário e na língua! É
importante notá-lo porque essa presença está
nas coisas do “dia a dia” da vida japonesa.
Isso mostra quanto os Japoneses estão abertos ao que é novo,
ao que é “estrangeiro” –diz Martins Janeira.
pormenor de um biombo namban
E o Japão –país dos samurais- admira as maravilhosas espadas dos fidalgos portugueses, bem temperadas, autênticas obras-primas de ourivesaria.
Mais curiosa, ainda, é a moda dos Japoneses usarem rosários ao pescoço - e
crucifixos pendurados das vestes de seda!
Refere-o João Rodrigues, "intelectual" jesuíta que se debruça, profundamente, sobre esta civilização desconhecida.
Na própria língua japonesa começam a entrar vocábulos
portugueses, nessa época.
O problema é que surge também o vício do tabaco!
“Foi então que o que, com essa influência, o vício de fumar
entrou nos hábitos dos japoneses.” (p.211)
E o autor lembra as caixinhas de tabaco com motivos namban, representando pois figuras dos "bárbaros do Sul", nós, os Portugueses|.
E fala de um conto, que vai aparecer séculos mais tarde, na chamada “era Tosha” :
“O Tabaco e o Demónio”.
Esta “era Tosha” compreende
o período do reinado do Imperador Tosha, que parece ter sido um período
conturbado, mas de justiça.Veio a seguir à "era Meiji" (que viera depois da "era Edo") caracterizada pelo grande impulso cultural dado pelo Imperador Meiji (de 1862-1912). Neste período florescem as artes no Japão e há uma grande abertura à Europa e a todo o Ocidente. De notar, por exemplo, que um dos grandes pintores desse momento, Kobaiyashi Kiyoshiku (1847-1915) escolhe o tipo de pintura "ocidental".
Lembro que nesse mesmo período, na Europa, chegara o interesse pelas coisas do Japão. E Manet que corria os antiquários de Paris para encontrar peças dessa arte oriental que ele admirava.
Lembro que nesse mesmo período, na Europa, chegara o interesse pelas coisas do Japão. E Manet que corria os antiquários de Paris para encontrar peças dessa arte oriental que ele admirava.
duas pinturas de Kobaiyashi
Momento de grande curiosidade pelo que se passa no Ocidente, pois, no Japão: atitude idêntica à do período de que fala, atrás, Martins Janeira: os finais do século XVI
e princípios do século XVII, aquando da chegada dos portugueses:
“Alguns historiadores japoneses dizem que o período que vai
de 1591 a 1614 na sua mania das coisas ocidentais é semelhante à era Meiji.” (p.211)
Os padres intelectuais que chegam ao Japão vindos de Portugal
têm grande influência sobre as élites
cultas do Japão.
Entranham-se nas diversas classes sociais, sobretudo junto dos grandes senhores da terra. Procurando protecção, tentam estrategicamente chegar-se às élites culturais e do poder.
Desde a conversão ao cristianismo do daimió de Kagoshima, Shimazu, por Francisco Xavier, que os jesuítas tentam tirar partido da fraqueza do poder centrar, e das guerras intestinas entre os vários senhores, os shoguns, ou samurais, que, por vezes, estavam com o Imperador e punham os seus homens ao serviço dele, mas na maior parte, das querelas, eram eles o poder.
Entranham-se nas diversas classes sociais, sobretudo junto dos grandes senhores da terra. Procurando protecção, tentam estrategicamente chegar-se às élites culturais e do poder.
Desde a conversão ao cristianismo do daimió de Kagoshima, Shimazu, por Francisco Xavier, que os jesuítas tentam tirar partido da fraqueza do poder centrar, e das guerras intestinas entre os vários senhores, os shoguns, ou samurais, que, por vezes, estavam com o Imperador e punham os seus homens ao serviço dele, mas na maior parte, das querelas, eram eles o poder.
o "daimió" Shimazu, por Ichiki Shiro
J. M.W. Silver , "Daimió e família a ver fogo de artifício"
J.M.W. Silver ('s/d')
Pela sua cultura e trabalho sobre a língua
japonesa (“Arte da Língua do Japão”), distingue-se João Rodrigues (1561-1634) que chega ao
Japão com 15 anos (1604) e se deixa “impregnar” por essa cultura.
Hokusai
E como essa realidade o “atraiu”.
Estuda a língua japonesa e consegue “sistematizá-la”,
trabalho que nunca fora feito e que foi muito valorizado pelos japoneses.
o shogun Ieyasu
o shogun Hodeyoshi
Quando, anos mais tarde, os padres jesuítas são expulsos, durante muito tempo ainda se vai manter a imagem do português, do "namban" - e a admiração não desaparece...
(*) O Shogun ou "samurai" era um chefe guerreiro, no Japão, uma
espécie de ditadura militar, hereditária.
Pertenciam a “castas” por vezes nobres, ou apenas guerreiras-
eram chefes de guerra poderosos, tendo alguns um poder semelhante ao do
Imperador.
(**) Os Dáimios eram poderosos senhores da terra, no Japão pré-moderno, senhores feudais, com terras e poder hereditários.
(***) Os desenhos de J.M.W.Silver fazem parte de um livro que ele publicou em 1867, em Londres ("Sketches sobre cenas e costumes do Japão": Este pintor foi tenente da Marinha Inglesa e viveu no Japão.
(**) Os Dáimios eram poderosos senhores da terra, no Japão pré-moderno, senhores feudais, com terras e poder hereditários.
(***) Os desenhos de J.M.W.Silver fazem parte de um livro que ele publicou em 1867, em Londres ("Sketches sobre cenas e costumes do Japão": Este pintor foi tenente da Marinha Inglesa e viveu no Japão.
J.M.W. Silver, "execução"
Fabuloso MJ!
ResponderEliminarAdorei revisitar algumas memórias que destaca.
Beijinhos e parabéns!:)
Gostei muito de ler.
ResponderEliminarUm post fantástico.
As imagens que escolheu são muito bonitas.
Um beijinho e boa uma noite.
Muito bom!
ResponderEliminarTenho de ler esse livro.