Vi
ontem, “Sweeney Todd, o terrível barbeiro de Fleet Street”, de Tim Burton.
O
filme passou em Portugal, em Março de 2008, tendo saído nos USA, em Dezembro de 2007 e, no Reino Unido, em Janeiro de 2008.
Ganhou
uma série de prémios desde o Golden Globe Award para a melhor realização, e o
Academy Award para o melhor filme.
Os
seus actores também foram premiados: a inglesa Helena Bonham Carter (sua
mulher) ganhou o Golden Globe para a melhor actriz e Johnny Depp o actor da
maioria dos seus filmes, que “sente” e “vive” em sintonia com o realizador- ganhou nesse ano o Academy Award na
categoria de melhor actor.
O primeiro filme juntos, "Eduardo Mãos de Tesoura"
Filme
impressionante, horrível? Só?
Filme gótico!?
Não
basta para qualificar um filme destes, onde a poesia se mistura à brutalidade,
em que a beleza alterna com a fealdade das acções, em que os loucos são vítimas
dos sãos de espírito, em que os inocentes vão para a cadeia. Em
que a maldade persegue os indefesos.
E etc etc...
Drama? Claro.
Enfim,
como diz Sweeney Todd para Mrs. Lovett: “Ouves
o barulho lá fora? São os homens a comer os outros homens...”
Está
tudo dito? Não está...
Onde
começa a loucura? A dor enlouquece? Penso que sim. Sweeney, ao saber o que
aconteceu a Lucy, enlouquece? É provável.
O
amor pode enlouquecer também?
Sim,
Mrs Lovett ama Sweeney, ouve-o, sonha e entra num torvelinho em que o
canibalismo passa a ser um “modo de vida”. Para vencer a “concorrência” nas
“pie”, explica ela. "A vizinha usava gatinhos nas empadas", e ela? Ela tem as
empadas mais horríveis de Londres!
Num tempo em que a pobreza é o trivial, as
baratas correm por cima das bancadas da padaria, juntando-se-lhe a fome, e,
logo, a perda dos escrúpulos perante a obstinada e indecente riqueza e
prepotência de poucos.
O
corrupto e perverso juiz Turpin – que Alan Wickman interpreta muito bem - merece
viver? E o seu apaniguado, Dedley?
Todos
vão achar que não merecem...
Mas
muito terão que ver antes de saber o que vai acontecer ao juiz e ao seu
meirinho...
É
um “musical” que fala dos horrores de uma Londres soturna que conhecemos dos
livros de Dickens, como “Hard Times” ou Oliver Twist.
Ou o romance “Martin
Chuzzlewit” (1843), onde, aliás, Dickens refere a existência do tal barbeiro.
História
real? Legenda post-romântica? O barbeiro londrino que assinava os seus clientes
terá mesmo existido?
História
da pobreza e da perversidade. Assustadora e violenta.
Em
1926, aparecera um filme mudo, sobre a história.
Em
1973, Cristopher Bond, dramaturgo inglês, escreve a peça intitulada “Sweeney
Todd”.
Pela primeira vez, aparece o alter ego
de Sweeney, Benjamin Barker, a figura luminosa que é o oposto de Todd.
O
jovem Benjamin do passado feliz com Lucy e a filhinha Johanna.
Tudo
desaparece como desaparecem as histórias boas. Benjamin é condenado ao degredo,
pelo Juiz Turpin que lhe quer roubar a bela Lucy.
“Don’t forget, don’t forgive” é o seu
lema.
Em
1979, sai na Broadway um espectáculo musical com o mesmo nome: a música (e a
letra) das canções é de Stephen Joshua Sondheim (nascido em Março 1930) e a coreografia de
Hugh Wheeler.
CD com a banda sonora
O
filme de Tim Burton inspira-se nesse musical.
Imagens
maravilhosas sempre bem enquadradas, perfeitas, no azul da noite, sobre o negro e o cinzento, ou no
brilho das navalhas de prata.
quadro do pintor russo Kuindji
Música
suave, bela, a de Sondheim “talvez o
maior e o mais conhecido compositor do
musical americano”, como refere o New
York Times.
Konstantin Korovin, pintor russo
Londres
das desigualdades sociais gritantes, o "canibalismo" de um capitalismo nascente, resultado da revolução industrial, no seu bem e no mal.
Vemos a sujidade, a pestilência dos esgotos de Londres, onde corre também o sangue e onde
as ratazanas se apressam.
Os
rostos negros de carvão, tão negros como algumas almas. E as crianças de
rosto sujo e olhar límpido, exploradas. As almazinhas que entristecem.
Está
tudo dito?
Ainda
não...
E
um não sei quê de “humor negro”...
Muito negro!
Muito negro!
Tudo
isto envolto numa beleza ...terrível!
Gostei deste filme. É um pouco negro mas fez-me viajar até à época vitoriana.
ResponderEliminarGosto do Tim Burton e do Johnny Depp.
Beijinhos. :)