quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tim Burton e o belo-horrível do filme "Sweeney Todd"



Vi ontem,  “Sweeney Todd, o terrível barbeiro de Fleet Street”, de Tim Burton.
O filme passou em Portugal, em Março de 2008, tendo saído nos USA, em Dezembro de 2007 e, no Reino Unido, em Janeiro de 2008.
Ganhou uma série de prémios desde o Golden Globe Award para a melhor realização, e o Academy Award para o melhor filme.



Os seus actores também foram premiados: a inglesa Helena Bonham Carter (sua mulher) ganhou o Golden Globe para a melhor actriz e Johnny Depp o actor da maioria dos seus filmes, que “sente” e “vive” em sintonia com o realizador- ganhou nesse ano o Academy Award na categoria de melhor actor.

O primeiro filme juntos, "Eduardo Mãos de Tesoura" 

Filme impressionante, horrível? Só?

Filme gótico!?

Não basta para qualificar um filme destes, onde a poesia se mistura à brutalidade, em que a beleza alterna com a fealdade das acções, em que os loucos são vítimas dos sãos de espírito, em que os inocentes vão para a cadeia. Em que a maldade persegue os indefesos.
E etc etc...
Drama? Claro.
Enfim, como diz Sweeney Todd para Mrs. Lovett: “Ouves o barulho lá fora? São os homens a comer os outros homens...”

Está tudo dito? Não está...
Onde começa a loucura? A dor enlouquece? Penso que sim. Sweeney, ao saber o que aconteceu a Lucy, enlouquece? É provável.

O amor pode enlouquecer também?

Sim, Mrs Lovett ama Sweeney, ouve-o, sonha e entra num torvelinho em que o canibalismo passa a ser um “modo de vida”. Para vencer a “concorrência” nas “pie”, explica ela. "A vizinha usava gatinhos nas empadas", e ela? Ela tem as empadas mais horríveis de Londres!

 Num tempo em que a pobreza é o trivial, as baratas correm por cima das bancadas da padaria, juntando-se-lhe a fome, e, logo, a perda dos escrúpulos perante a obstinada e indecente riqueza e prepotência de poucos.

O corrupto e perverso juiz Turpin – que Alan Wickman interpreta muito bem - merece viver? E o seu apaniguado, Dedley?
Todos vão achar que não merecem...

Mas muito terão que ver antes de saber o que vai acontecer ao juiz e ao seu meirinho...

É um “musical” que fala dos horrores de uma Londres soturna que conhecemos dos livros de Dickens, como “Hard Times” ou Oliver Twist.

Ou o romance “Martin Chuzzlewit” (1843), onde, aliás, Dickens refere a existência do tal barbeiro.
História real? Legenda post-romântica? O barbeiro londrino que assinava os seus clientes terá mesmo existido?
História da pobreza e da perversidade. Assustadora e violenta.

Em 1926, aparecera um filme mudo, sobre a história.
Em 1973, Cristopher Bond, dramaturgo inglês, escreve a peça intitulada “Sweeney Todd”.
Pela primeira vez, aparece o alter ego de Sweeney, Benjamin Barker, a figura luminosa que  é o oposto de Todd.

O jovem Benjamin do passado feliz com Lucy e a filhinha Johanna.
Tudo desaparece como desaparecem as histórias boas. Benjamin é condenado ao degredo, pelo Juiz Turpin que lhe quer roubar a bela Lucy.


Quinze anos da sua vida, perdidos, acusado de um crime que não cometeu.
Ao voltar, Benjamin “é” Sweeney Todd. Voltou para se vingar.
Don’t forget, don’t forgive” é o seu lema.

Em 1979, sai na Broadway um espectáculo musical com o mesmo nome: a música (e a letra) das canções é de Stephen Joshua Sondheim  (nascido em Março 1930) e a coreografia de Hugh Wheeler.

CD com a banda sonora

O filme de Tim Burton inspira-se nesse musical.

Imagens maravilhosas sempre bem enquadradas, perfeitas, no azul  da noite, sobre o negro e o cinzento, ou no brilho das navalhas de prata.
quadro do pintor russo Kuindji

Beleza desde a primeira imagem do barco a chegar ao Tamisa. O barco onde vem Sweeney Todd, alias Benjamin Barker.

Música suave, bela, a de Sondheim “talvez o maior e o mais  conhecido compositor do musical americano”, como refere o New York Times.

Konstantin Korovin, pintor russo

Londres é a mais bela cidade? “No place like London” canta Sweeney Todd, o actor Johnny Depp que teve de estudar canto para poder cantar.
Londres das desigualdades sociais gritantes, o "canibalismo" de um capitalismo nascente, resultado da revolução industrial, no seu bem e no mal.
Vemos a sujidade, a pestilência dos esgotos de Londres, onde corre também o sangue e onde as ratazanas se apressam.
Os rostos negros de carvão, tão negros como algumas almas. E as crianças de rosto sujo e olhar límpido, exploradas. As almazinhas que entristecem.

Está tudo dito?
Ainda não...


E o sangue?!, o vermelho do sangue e as imagens - duma violência  quase insuportável- da morte, “atenuadas” pelo ar de “marionettes” que ganham os mortos...

E um não sei quê de “humor negro”...


Muito negro!

Tudo isto envolto numa beleza ...terrível!

1 comentário:

  1. Gostei deste filme. É um pouco negro mas fez-me viajar até à época vitoriana.
    Gosto do Tim Burton e do Johnny Depp.
    Beijinhos. :)

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