Gosto do estilo dele, seco, das descrições breves mas vivas,
como em pinceladas que pintam uma realidade diversa, num tom, que não é europeu, queria dizer, que não é ocidental.
O segundo romance -que acabei de ler- chama-se O Vaso de areia.
Noto em tudo a sensibilidade especial do autor e a variedade dos assuntos que lhe interessam. Fala da sensibilidade criativa. Creio que ele a tem.
a nebulosa da constelação Orion
O segundo romance -que acabei de ler- chama-se O Vaso de areia.
“Não pude impedir-me de pensar que sem a sensibilidade
criativa não há senão uma performance técnica." (pg. 80)
Aqui, é um dos seus personagens, o inspector, que comenta um artigo numa revista cultural, sobre a música dodecafónica.Que, aliás, vai fazer parte da "trama" do romance.
Encanta-me ficar a conhecer melhor os hábitos dos
japoneses, povo que admiro: a sua pintura, literatura e poesia atraem-me.
Aparecem de um modo diferente, sem agressividade, falam com
suavidade, movem-se com delicadeza e respeito.
desenho do pintor Hocusai
Além disso, ama a natureza que sabe observar nos mais pequenos
pormenores. E analisa os estados de ânimo, as paixões, a ambição, o sacrifício.
imagem do filme de Mizoguchi, "Contos da Lua Vaga depois da chuva"
Outra coisa que me interessou foi ver o cuidado, a minúcia com que descreve os trabalhos do comissário e da polícia de investigação criminal.
Matsumoto procura ser explícito, claro, quase científico: o modo como examina a cena do crime; ou como são estudadas as impressões digitais, as pistas - tantas coisas que hoje estão ultrapassadas.
De 1954 até hoje muito se “evoluiu” nesse campo.
“Fumiko dava o braço a Sekigawa. A rua estava sombria e
ouvia-se ao longe o ruído triste do comboio. Fumiko olhou para o céu cheio de
estrelas. Ele disse:
- Já é tarde, Orion já ali está.
- Qual é a Orion?
-Aquela ali, mais em baixo. Sekigawa apontava para o céu com
o dedo. Vês as três estrelas alinhadas no meio e as outras quatro à volta?
- Ah, ali?
- Sim. Aparece sempre no Outono.
E continuou:
- De Inverno brilha intensamente, no
céu puro. Quando a vejo aparecer, penso logo que o Outono vem aí.” (Pg 78)
os áceres vermelhos do Japão
Lembro a descrição da paisagem e dos arrozais, quase dentro da cidade:
Susukis ao luar (fotografia enviada por Yoshyuki Sakano)
(Traduzir "susuki"? Difícil. Pedi ajuda a um amigo japonês: nada como a imagem que me enviou logo- aqui a deixo...)
Pouco mais adiante, escreve Matsumoto:
A acção e a intriga desenvolvem-se entre observação, análise
psicológica e o fluir do pensamento. O comissário desta vez chama-se Imanishi.
São belas também as personagens femininas.
Uma delas é inesquecível, misteriosa e melancólica.
Na carruagem do
comboio... Ah!sim, há sempre comboios e estações e linhas férreas nos livros de Matsumoto! E mapas para não nos perdermos na viagem.
E isso é mais um dos seus atractivos para mim: adoro comboios e histórias policiais que se passam em comboios!
Uma delas é inesquecível, misteriosa e melancólica.
Claude Monet (1875) Le train dans la nuit
E isso é mais um dos seus atractivos para mim: adoro comboios e histórias policiais que se passam em comboios!
Uma cena muito conseguida, em que se desenham as duas personagens que vão ter um papel decisivo.
Na carruagem, pois, uma figura feminina delicada, sentada e silenciosa, levanta-se, abre a malinha de mão e deita uma nuvem de papelinhos brancos para a linha.
Na carruagem, pois, uma figura feminina delicada, sentada e silenciosa, levanta-se, abre a malinha de mão e deita uma nuvem de papelinhos brancos para a linha.
desenho japonês (imagem da net)
A acção é sempre viva, o suspense mantém-se e o final surpreende-nos, apesar de ser natural, porque o autor no-lo sugeriu desde o início, sem nos forçar a entendê-lo.Pouco a pouco, tudo se vai desenrolar frente aos nossos olhos.
Tal como se espera de um bom livro policial!
Nota 1. O romance está traduzido em francês, nas editions Picquier poche (colecção L’Asie en Noir)
Nota 2. A Orion é uma constelação em forma de trapézio, com quatro estrelas nos seus ângulos e três estrelas muito brilhantes no meio: Delta, Epsilon e Zeta, chamadas "as três Marias".
No Japão, está ligada à história do Clã Genji (wikipedia).
Nota 3. Mais sobre Mtsumoto:
Tal como se espera de um bom livro policial!
Nota 1. O romance está traduzido em francês, nas editions Picquier poche (colecção L’Asie en Noir)
Nota 2. A Orion é uma constelação em forma de trapézio, com quatro estrelas nos seus ângulos e três estrelas muito brilhantes no meio: Delta, Epsilon e Zeta, chamadas "as três Marias".
No Japão, está ligada à história do Clã Genji (wikipedia).
Nota 3. Mais sobre Mtsumoto:
Boa partilha
ResponderEliminarDeve ser muito interessante esse policial que acabas de ler.
ResponderEliminarO Japão é um referente em muitas coisas, "...como é tão grande um povo tão pequeno"!
Se fosse mais rica, era um dos países que visitava de certeza. Menos mal que hoje não é indispensável viajar para conhecer montes de coisas! E de pessoas...
Beijinho
Eu também adorava conhecer...Talvez nos saia o euromilhões...e vamos as duas!
Eliminarbeijo
Adorei este post.
ResponderEliminarA Maria João consegue colocar poesia até em policiais!
Fui espreitar o outro post, porque tinha uma vaga ideia de ter lido alguma coisa.
Mas acho que não há nada em português. Pelo menos no meu site habitual - wook, onde sempre procuro o que quero, antes de ir à livraria.
Já encomendei o Romance do Genji - espero que haja!
Também gosto de comboios.
Um beijinho grande e boa semana!
Ó Isabel, tu és o máximo! Obrigada. Fico contente por teres gostado!
EliminarE o Genji vais lendo aos bocados, mas vais gostar de certeza, porque tens sensibilidade para isso...
Uma boa (meia?) semana de trabalho e depois...férias!