Os pãezinhos da Dona Severiana
rosa de porcelana
São Tomé na Gravana (foto da internet, de JPG)
Era a novidade de tudo que me encantava. Ver uma mesa comprida onde, como em todas as pensões do mundo
os comensais se sentavam e conversavam, distraía-me. A comida diferente, e, no
fundo, sempre igual: peixe grelhado com gindungo verde e cebola, sopa de matabala ou canja e frango assado ou de churrasco.
No segundo dia,
a dona Severiana passou a pôr-nos uma mesinha, separada, para estarmos mais à
vontade.
O tempo correu,
e aos dias de Gravana sucedeu-se a estação das chuvas. Foi por essa altura que mudámos
para a vivenda bonita que durante esse tempo fora restaurada.
eu, no jardim, mais o Zac
Nessa casa, vivi
os cinco anos de São Tomé. Uma casa
branca, bem desenhada, com janelas encantadoras e com uma risca azul que me lembrava a das casas alentejanas e que nunca se vira ali.
Toda ela rodeada por um jardim enorme que, pouco a pouco, com a ajuda do jardineiro da embaixada, o “nosso” Senhor Semedo foi enchendo de lindos arbustos, de flores que eu nunca imaginara haver.
As chuvas torrenciais duravam oito meses e lavavam as pedras e davam brilho a todas as plantas que eu não conhecia e eram lindas e coloridas com as cores mais vivas: rosas de porcelana, "bicos de papagaio" de um vermelho vivíssimo, ou os rosados bordões de São José ou as estrelícias azuladas...
a entrada da casa que eu amei!
Toda ela rodeada por um jardim enorme que, pouco a pouco, com a ajuda do jardineiro da embaixada, o “nosso” Senhor Semedo foi enchendo de lindos arbustos, de flores que eu nunca imaginara haver.
ramo de flores são tomenses
os bicos de papagaio
As chuvas torrenciais duravam oito meses e lavavam as pedras e davam brilho a todas as plantas que eu não conhecia e eram lindas e coloridas com as cores mais vivas: rosas de porcelana, "bicos de papagaio" de um vermelho vivíssimo, ou os rosados bordões de São José ou as estrelícias azuladas...
A ave do paraíso, ou estrelícia
o meu jardim, na estação das chuvas
a perfumada flor do cafèzeiro, que havia no meu jardim
Sofri a falta da
electricidade, senti o impossível refúgio ao calor, durante horas e horas, de dia e de noite.
E os mosquitos
que me atacavam por mais sprays ou aparelhoseléctricos, de pastilhas para queimar, que pusesse à minha volta! Não havia electricidade, como poderiam funcionar?
O ar condicionado não trabalhava, pelo mesmo motivo na maioria dos dias e "eles" escondiam-se nos cantos dos cortinados e, à noite, vinham picar-me.
O ar condicionado não trabalhava, pelo mesmo motivo na maioria dos dias e "eles" escondiam-se nos cantos dos cortinados e, à noite, vinham picar-me.
O Zac à porta...
Por teimosia –
ou inconsciência- não usámos o que sei
que hoje é considerada a melhor protecção: o véu mosquiteiro que cai do
tecto e nos “embrulha” protegendo-nos dos anofeles.
O meu cão Zac sentia-se dono do jardim e vinha cá fora espreitar, desconfiado, sempre que o Senhor Semedo se distraía e deixava a cancela aberta.
Mas tudo isto
vem a propósito dos pãezinhos da Dona Severiana!
Um dia, já na
casa nova, soubemos que a pensão tinha
fechado e que a senhora viera viver
perto da nossa rua.
eu e o meu cão Zac, em São Tomé
Custava-me muito
quando o pão acabava na pequena padaria, um pão com muita mistura que nunca
soube qual era. Um belo dia, porém, a Dona Severiana mandou um recado ao nosso
jardim, dizendo que estava a fabricar pão e bolinhos para os amigos...
O sofrimento acabou, porque todos os dias a senhora cozia o seu pão, espécie de papo-seco pequenino, saboroso e branquinho.
duas fotografias do Miki, a brincar
E a Milly, rabugenta
logo de manhã, respondia, áspera:
- Ai, tem fomi? Você não comeu lá em sua casa?!
O Miki encostava-se, ao lado da rede-mosquiteiro da porta, a olhar, com os olhos muito
abertos, cheios de lágrimas.
Eu sabia que ele vinha sempre comer, de manhãzinha, a nossa casa, porque a Milly tinha três filhos, vivia na Chácara que era um bairro pobre, e a vida custava.
Eu sabia que ele vinha sempre comer, de manhãzinha, a nossa casa, porque a Milly tinha três filhos, vivia na Chácara que era um bairro pobre, e a vida custava.
Eu insistia:
- Milly, dá-lhe de comer! É uma criança... Dá-lhe lá um pãozinho com manteiga!
as traseiras da casa de São Tomé, e o meu jeep um UMM
a janela do estúdio
a janela do estúdio,na parte da frente
- Miki! Tomi lá
pão, tu minino furado!
A paz do jardim
envolvia-me. A minha casa de São Tomé nessas manhãs era acolhedora. Sentia-me bem.
E havia os pãezinhos
da Dona Severiana!
Gosto de "ouvir" as suas histórias sobre S.Tomé.
ResponderEliminarFlores tão lindas!
Tinha saudades, mas estava rodeada de tanta beleza!
Gostei muito de a ver naquela foto com o Zac.
Um beijinho grande
(Já é a terceira vez que aqui tento deixar comentário e não consigo. Apareceu-me um quadrado grande, sem as palavras "Publicar e Pré-visualizar". Agora já aparecem. )
Tenho mais saudades agora é do Zac...bjs
EliminarOfereci-lhe um Liebster Blog Award. Bjs!
ResponderEliminarObrigada! não sei onde o ir buscar, mas agradeço! BEIJO
EliminarAs memórias são um registo que têm o condão de me fazer sorrir.
ResponderEliminarGostei de todas as fotos mas houve uma que pela perspetiva me cativou particularmente: foi a da Gravana.
Devem ter sido tempos muito bons. :))
Difícil responder que não foram... Ou que foram. Aprendi muitas coisas isso sim! O que é bom, sempre...
EliminarA Gravana era uma estação maravilhosa. É ainda...
Venho oferecer, tal como a Margarida, um Libster Blog Award. :)
ResponderEliminarPode passar no (In)Cultura ou no Memórias e Imagens e trazer a imagem do Libster Blog Award.
Bj. :)
Saudade, muita saudade...
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