Ofereceram-me uma orquídea deliciosa, mimosa e linda. Veio do
Alentejo de uma cidade que esteve rodeada de neve, há dias. A minha cidade, Portalegre.
Pu-la na minha janela, a olhar lá para fora.
O Ratinho continuou, sonhador:
- Queres dizer orquídeas! São três! E tão pequeninas.
Olhava-as, com um sorriso.
- Devem ser tão suaves
as suas pétalas.
- Lindas!, disse o Ouricinho que girava à volta, a
espreitar o jarro de vidro, como se quisesse entrar lá para dentro.
- Vê lá se cais daí..., avisei.
Era inútil. Ele subia, descia, agarrava-se ao vidro, cheirava.
- Gostava mesmo de lhes tocar! Posso?
- As flores delicadas não gostam que se lhes toque muito. São
como as pessoas...
O Ratinho já tinha percebido tudo.
- Flores delicadas...
A verdade é que iam vê-las ao quarto, todos os dias, e gostavam de as ver. Mas
eu distraí-me, não reguei a planta como devia e ela,
delicada, ressentiu-se e, de repente, duas das florinhas secaram.
Quando me preocupei, só já lá estava uma. Tirei o vasinho do bocal, reguei-o, mas as outras jaziam mortas.
Quando me preocupei, só já lá estava uma. Tirei o vasinho do bocal, reguei-o, mas as outras jaziam mortas.
Eles repararam logo. Percebi uma leve censura na voz do Ratinho:
- Só cá ficou uma... Deixaste-as secar...
- Coitadinhas! Tão feias que estão agora...
O Ouricinho olhava para o bocal de vidro vazio, com tristeza.
- Dizes tu, mas depois esqueces-te e lá vai esta ao ar...
- Não confias em mim?
- Sim...
Hesitou, e olhou-me muito sério:
- Tu tens bons sentimentos, eu sei, mas pões-te a fazer
tantas coisas ao mesmo tempo! E não chegas para tudo...
- Eu acho que posso chegar, Ratinho.
Acenou com a cabeça,
para a flor. Eu só via a cauda dele muito esticada e cor de rosa.
- Lembras-te do Petit
Prince? Quando tu "cativas" alguém e queres ser seu amigo, crias laços com
ele...
- O que é domesticar?, interessou-se o
ouricinho, sempre curioso.
O Ratinho explicou:
- É quando precisas
de alguém. Quando decides ser amigo de verdade. Como são as crianças...
Voltou-se para mim,
sério:
- As orquídeas
precisavam de ti, tu tinhas tomado conta delas. Eras responsável...
Encolheu os ombros,
tristemente:
- Mas tu não
precisavas delas, tens sempre tantas flores ali na varanda...
Olhava-me,
desconfiado:
- Se calhar também
não precisas de nós.
- Ó Ratinho, até fico ofendida...
- Ó Ratinho, até fico ofendida...
O Ouricinho, que saltitava por ali, apoiou-me.
- Não te esqueças que ela esteve doente!Tu gostas de nós, não gostas?
O Ouricinho é uma alma simples e boa e acredita nos outros. Tem muitos amigos cá por casa.
Já se tinha apaixonado outra vez e não largava o vaso pequenino onde a florinha mostrava as pétalas de uma cor branca e transparente como a flor do nardo.
Já se tinha apaixonado outra vez e não largava o vaso pequenino onde a florinha mostrava as pétalas de uma cor branca e transparente como a flor do nardo.
- Esta é mesmo linda!
Eu não dizia nada. Sentia-me culpada. Perante os meus amigos
e perante a amiga que ma oferecera e que era uma artista. Bem me tinha dito, ao telefone:
flor esculpida num nabo, pela Mané
“Elas são frágeis. Não lhes ponhas muita água...”
- Eu gosto de ti, não estejas triste! Preciso de ti e tu
precisas de mim, eu sei! Esta flor era a única que tinha vontade de viver! E teve força. É assim
na vida...
- Ó Ratinho...
Maria João, nem sei por onde começar. Se pela beleza da orquídea, se pela ternura dos nossos amigos, se pela forma enternecedora do post e pela verdade de certas expressões...
ResponderEliminarO que escreveu é para reflectir.
Precisamos uns dos outros. Por vezes, alguns ficam para segundo plano, mas não significa que não gostemos menos deles.
É importante que os outros sintam que gostamos deles...
Agora, tem de investir na orquídea, para se redimir!:)) E, em consideração a quem a ofereceu.
Um beijinho para todos.:))
Orquídeas!!! Lindas mas tão frágeis.
ResponderEliminarSabes que nunca recebi uma orquídea, eheh.
O "nabo" da Mané com o arranjo que lhe fiz ficou um mimo.
Para a próxima pedes ajuda ao Ratinho e ao Ouricinho para tomar conta das Orquídeas que só querem mimos, atenção.
Beijo meu doce Falcão Lunar!!!
Carlota Pires Dacosta
Pensei em ti enquanto escrevia a história da orquídea!beijos
Eliminarsinto-me importante! por fazer parte de uma historia...adoro-te Jana.
EliminarQue lindo!
ResponderEliminarEsses bichinhos dizem coisas muito sérias e verdadeiras.
Pobre plantinha. Mas recupera! Vai ver!
Como não podia deixar de ser, adorei este post, os dois amiguinhos, as fotos tão lindas, as imagens do Principezinho...Tudo!
Hoje até me comovi um bocadinho.
Enfim, SOU FÃ!!
Beijinhos (para todos!)
Tu és uma alma boa, minha querida! Um beijinho!
EliminarTal como a Cláudia, não sei por onde começar...
ResponderEliminar— Roubei-te a 6ª foto, que me parece muito conseguida, o reflexo perfeito do que tu és na tua melhor versão ( he, he, he). Dizer muito em pouco, falar na forma mais poética da tua sensibilidade, do teu gosto pela beleza e até do que careces. Para o meu gosto — e aqui vai um comentário arriscado, mas eu sou estupidamente arriscada — deverias mostrar só o melhor de ti mesma, por ex., se numa série de fotos tens uma estupenda, porquê pôr o lote completo, sem seleccionar, o que não faz mais que perjudicá-la? Não sei se me explico, nem se te interessa , suponho que não.
— "Domesticar alguém" soa-me a uma relação de dependência por uma das partes, preferiria a palavra "Attirer", ou "atrapar" em espanhol, que significa simplemente uma forte atracção. Quando necessitas de alguém, não domesticas essa pessoa, e às crianças menos.!
— Quando há uma distracção e não se rega uma planta, ela morre sem remédio. Alegro-me que tenhas salvado a tua orquídea "in extremis". Esqueceste-te por um momento de que as orquídeas são muito delicadas.
— Concordo contigo e com o Saint- Exupéry que numa relação de amizade tem de haver uma necessidade mútua.
— As flores delicadas estragam-se se se tocam muito, mas as pessoas estamos preparadas para muitos roces, eu gosto, oxalá me acariciassem até gastar-me!
Só me falta dizer que Te quiero.
Beijinhos
Tens razão, Maria, não é -nem poderia ser- "domesticar" mas a palavra que o S. Exupéry usa não é fácil de traduzir em português: já vi que os espanhóis traduzem melhor "apprivoiser"! Tive preguiça de andar a ver pelos dicionários mas sei que há melhor do que a que arranjei...
EliminarCá vamos regando as nossas plantas! Que amamos e que são frágeis. Um abraço apertadooooooo!
A palavra é "cativar", muito mais sensível a todas as "nuances"e com as mesmas conotações de precisar e querer ao mesmo tempo...
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma ternura
ResponderEliminarGostei muito, muito, muito deste post.
ResponderEliminarJá me ofereceram há alguns anos, duas orquídeas e não consegui tratar bem delas. Felizmente não tinha um ratinho e um ouricinho a repararem nisso, mas decidi entretanto que se me derem outra, irei logo dá-la a uma das minhas irmãs que tem jeito/arte/coração para cuidar bem delas.
um beijinho grande
Gábi
Conheço essa flor nabo de algum sítio. Beijinhos bela flor.
ResponderEliminarOrquídea Carlota Pires Dacosta