O Ratinho e Ouricinho e as festas... Hoje é Rosh-Ha-Shana!

Conversavam os dois, à janela. O Ratinho folheava uma revista.

- Chove ou não chove afinal?, pergunta o Ouricinho.

- Chuvisca, respondeu o Ratinho, a fingir que estava a ler.

- Dizem que há festa hoje…explica.

- Onde é que há festa? Em Cascais, com as casas iluminadas à noite?

- Não!, insiste o Ouricinho. É uma festa com romãs e mel. Vi na internet. Tem que ser tudo doce! Olha, a propósito, comi-te um bocado dos dióspiros que tinhas lá dentro! Doces! 

E apontando para o Ratinho Poeta:

- Ele também comeu...

- Pois foi. Mas quando é que foste à internet?, riu-se o Ratinho. Sabes lá ir?

- Ó Ratinho não impliques com o Dan. É claro que ele sabe trabalhar com computadores! Diz lá que festa viste…

Reuven Rubin, Romãs (Denver Art Museum, Colorado)

- Era uma festa religiosa. Como o Natal talvez. Mas sem árvore de Natal. Só muitos bolos e mel e muitas romãs vermelhas! Como nos quadros que me mostraste do Rubin!

Rubin, Mulher com filho e romãs

Era verdade, tínhamos andado a rever um catálogo de uma exposição que um dia víramos em Israel, no Museu Rubin exactamente. Estávamos no Rosh-ha-shana!

- Já sei. É o Rosh-ha-Shana! É o ano novo hebraico.

- Isso mesmo! O que é?

O Ratinho que já tinha investigado tudo mas tinha estado calado, disse, então:

- É o Ano Novo dos judeus. Rosh-ha-shana quer dizer mesmo “cabeça” - início - do ano. Costuma-se desejar “shana tova” e outras coisas.

- Então eles não festejam a  nossa passagem do ano?

- Depende dos lugares. Em Telavive festejavam o ano hebraico e o ano cristão. A véspera do dia 1 de Janeiro é uma festa enorme, com foguetes e fogo de artifício! 

Lembrei-me de irmos ver os fogos de artifício, perto da meia-noite, debruçados na esplanada do Café Panorama, com a Danit. E o Rosh-ha-shana também festejávamos sempre. Comiam-se maçãs doces banhadas em mel!

no Café Panorama, com a Danit

- O ano judaico é o 5776…´E não calha sempre no mesmo mês. Este ano é Setembro, para o ano não sei. Eles têm um calendário diferente, um calendário lunar. Mas para eles é sempre no mesmo mês de Elul.

 Passámos alguns anos em Telavive e todos esses anos tinham duas passagens do ano.

- Como é que eles têm tantos anos mais do que aqui?

- Bem, Ouricinho, a verdade é que na religião desta parte do mundo, o mundo começa com a era de Cristo. Há 2015 anos, quando segundo a religião cristã, Jesus nasceu. 

- O menino Jesus...

- Sim, é isso que se festeja. E começa um ano novo a seguir. É um calendário solar. Houve o calendário Justiniano e o Gregoriano, que é o actual. 
- E os judeus?
- Ora os judeus não respeitam essas datas. Para eles, a criação do começou muito antes: segundo o do Antigo Testamento, no mês de Elul há 5776 anos. E Cristo para ele sé um Profeta, um Messias.

- Ah.... E há mais anos diferentes? E os árabes como fazem?

- Têm outra data. É um calendário lunar como o hebraico. Para eles o mundo começa a contar com a fuga do Profeta Maomé, de Meca para Medina. 

Maomé, o Profeta

- Quando é que ele nasceu?, pergunta o Ouricinho, curioso.
- Maomé nasceu no ano de 570. É outra "era". Chama-se a Hégira. Passaram 1436 anos. Festejei muitas coisas bonitas quando vivi em Marrocos.

Lembrei-me da festa do Aïd, em casa do Mustafá e da Nahma.

Marrocos, Festa do Aïd (matança do carneiro)

- Ah!, Festejavas tudo? És como eu! Assim é que eu gosto! E comias coisas boas, não?
E repetia:

- És como eu! Tutto il mondo è il nostro mundo! Há uma só raça no mundo: a raça humana!

Onde teria inventado esta? E deu uma cambalhota e comeu um pouco do dióspiro que estava ao lado. O Ratinho olhava-o com um ar irónico mas terno.

- E há mais passagens de ano, por esse mundo fora?, voltou o Ouricinho a perguntar.

- Claro! Ainda há pouco foi o ano chinês!

- Sim, sei que tem animais! Tu pertences ao ano do Cavalo! É também um calendário lunar? 

- Não, respondeu o Ratinho, metendo-se na conversa-  é um calendário lunissolar! Intervem o sol e a lua... E há o calendário Maia e…

Interrompeu-se pois o Ouricinho não o ouvia: já estava distraído a brincar com tudo o que estava na mesa ao pé da lareira. 

E preparava-se para comer o dióspiro que por lá ficara. O Ratinho encolheu os ombros e foi ter com ele. 

E disse-me, a rir:

- Vá, tira-nos lá uma fotografia! Tu gostas tanto... Anda cá Gatinha!