O
tempo corre como um rio apressado para um mar qualquer onde tudo acaba e que, se calhar, não
nos interessa saber onde é. Ou, pelo menos, só o mais tarde possível!
Tudo passa e nada volta. “Sous le pont Mirabeau/, coule la Seine", dizia Apollinaire.
Tudo passa e nada volta. “Sous le pont Mirabeau/, coule la Seine", dizia Apollinaire.
Muita
coisa esperámos que mudasse. Para bem, claro. Aquilo que pensamos seja a ideia de
Bem. Ainda, segundo Apollinaire: "Comme la vie est lente/ et l’Esperance est violente."
Mudaram as coisas?
Paulatinamente, como diziam em São Tomé, algumas mudaram. E algumas para bem. Outras
deixam-nos um amargo na boca, por incompletas, ou injustas.
Nos livros, continuo a encontrar as melhores perguntas. E as dúvidas que me dividem.
Dizia André Gide que é melhor "procurar do que encontrar" e o sábio Einstein explicava que "a procura da verdade era mais importante do que a sua posse”.
As respostas temos de ser nós a dá-las, como pudermos, depois de as procurar, ao longo da vida. Os livros amparam-nos nessa procura.
Será que hoje a escolha das atitudes morais deixam a desejar na "nossa" Europa?
Seria bom que o mundo desse uma volta ao contrário e a Terra passasse a girar ao inverso. Quem sabe se o desconforto da Terra, a girar pela esquerda, lhe não faria bem! Talvez saísse algo de bom desse mal-estar consciente, algo que agitasse os espíritos parados e cansados. Desconfiados e pasmados, também.
Nos livros, continuo a encontrar as melhores perguntas. E as dúvidas que me dividem.
Dizia André Gide que é melhor "procurar do que encontrar" e o sábio Einstein explicava que "a procura da verdade era mais importante do que a sua posse”.
As respostas temos de ser nós a dá-las, como pudermos, depois de as procurar, ao longo da vida. Os livros amparam-nos nessa procura.
Será que hoje a escolha das atitudes morais deixam a desejar na "nossa" Europa?
Seria bom que o mundo desse uma volta ao contrário e a Terra passasse a girar ao inverso. Quem sabe se o desconforto da Terra, a girar pela esquerda, lhe não faria bem! Talvez saísse algo de bom desse mal-estar consciente, algo que agitasse os espíritos parados e cansados. Desconfiados e pasmados, também.
Leio
um livrinho de Antero de Quental, “Prosas Dispersas”,que o poeta Ruy Belo
organizou e prefaciou(Editorial Presença, 1966).
Antero de Quental, um poeta, um escritor e um Homem inteiro. Quer que aconteçam coisas no país onde vive, a meio do marasmo e deste 'nosso' modo de viver de "alma pasmada".
Deseja defender “grandes causas”! Que se vá em frente, que se avance! Falar, dizer, protestar é importante para ele. Poderia rejeitar como Salústio, na sua 'Catilinaria', que a vida dos homens se passasse no silêncio dos rebanhos: 'Ne vitam silentio transeant velut pecora...'
Olho o que anda por esse mundo fora e fico agoniada, apanha-me uma angústia que não queria ter. Porque um dia eu julguei que acabasse a injustiça, o desespero e a dor – dos homens.
Onde está a voz de um Antero? O desejo de se sacrificar –vida, carreira, saúde, nome- por uma causa nobre?
Antero de Quental, por Columbano
Deseja defender “grandes causas”! Que se vá em frente, que se avance! Falar, dizer, protestar é importante para ele. Poderia rejeitar como Salústio, na sua 'Catilinaria', que a vida dos homens se passasse no silêncio dos rebanhos: 'Ne vitam silentio transeant velut pecora...'
Olho o que anda por esse mundo fora e fico agoniada, apanha-me uma angústia que não queria ter. Porque um dia eu julguei que acabasse a injustiça, o desespero e a dor – dos homens.
Onde está a voz de um Antero? O desejo de se sacrificar –vida, carreira, saúde, nome- por uma causa nobre?
Escreve
ele a Jaime Magalhães Lima, em 1890, pedindo-lhe que venha ajudá-lo, por seis
meses, aceitando um lugar -difícil e cheio de responsabilidades- na Linha
Patriótica do Norte.
“Preciso absolutamente de si no Porto durante seis meses. A Liga vai naufragar por causa de um homem (…) que o Porto não tem. O que se vai passar no Porto é seriíssimo. Há-de vir. É um sacrifício por uma causa. (…)”
“Preciso absolutamente de si no Porto durante seis meses. A Liga vai naufragar por causa de um homem (…) que o Porto não tem. O que se vai passar no Porto é seriíssimo. Há-de vir. É um sacrifício por uma causa. (…)”
Magalhães de Lima aceita. Mas, ao fim e ao cabo, vai tudo "acabar em droga" (expressão que Antero usava). Porque muitos outros vão dizer que sim e depois ficam em casa, de pantufas a ler o jornal. E continua Antero:
"Eu
sacrifico a minha saúde, a minha vida (…) Quero sacrificar a vida e morrerei
contente se tiver vivido seis meses ao menos da verdadeira vida de homem que é
a da acção por uma grande causa.”
Sacrificou a sua vida. E viveu "vivo" muito mais do que seis meses a verdadeira vida de um homem, a “servir” essa causa.
Sacrificou a sua vida. E viveu "vivo" muito mais do que seis meses a verdadeira vida de um homem, a “servir” essa causa.
Suicidou-se. No entanto, a sua vida valeu a pena ser vivida enquanto durou – porque soube sacrificar-se por coisas mais altas do que a mera vida dos “carneiros” de
que falava Salustio.
Quem
se sacrifica hoje? Vejo indivíduos e grupos que o fazem. E lembro a Grécia,
sim, e as gentes da Itália de Lampedusa e de outros lugares. Que agem como seres humanos, no meio do egocentrismo e do nacionalismo acerbo dos países que, "sicut pecora" deixam que os governantes decidam (mal) por eles.
E apeteceu-me falar do filme "Fuocoammare"! É um documentário, de Gianfranco Risi, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim há dias. E que espero ver.
Risi dedicou o Prémio "àqueles cujas viagens de
esperança nunca chegaram a Lampedusa” e aos habitantes da ilha a
que “há 23 anos abrem os corações àqueles que ali chegam.”
Sim, fala da tragédia dos que morreram no mar. E dos que vivem, depois de saírem vivos do mar, o horror da vida.
E apeteceu-me falar do filme "Fuocoammare"! É um documentário, de Gianfranco Risi, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim há dias. E que espero ver.
imagem de "Fuocoammare"
socorrendo os migrantes, ao largo de Lampedusa
Sim, fala da tragédia dos que morreram no mar. E dos que vivem, depois de saírem vivos do mar, o horror da vida.
Urso de Ouro para "Fuocoammare"
Num mundo desiludido, como encontrar a esperança? Diz o salmo XI: "Quando os alicerces tombam, o que pode o justo fazer?"
Bem, o justo não pode é calar-se, acho eu.
E volto à Utopia, que sigo e não largo: a bandeira rasgada, a que se agarram os que ainda acreditam no Homem.
Falo desta Europa enlouquecida, falo das escolhas e das atitudes (i)morais, cheias de medos e de interesses próprios, que se despejam pelos jornais e por aí fora.
Bem, o justo não pode é calar-se, acho eu.
E volto à Utopia, que sigo e não largo: a bandeira rasgada, a que se agarram os que ainda acreditam no Homem.
Falo desta Europa enlouquecida, falo das escolhas e das atitudes (i)morais, cheias de medos e de interesses próprios, que se despejam pelos jornais e por aí fora.
Onde passou o ideal da Europa unida? Diria mesmo: onde está a (nossa) Europa? Não a reconheço: as cedências, a falta de coragem para uma 'escolha comum' face à atitude soi-disant "nacionalista" e "securitária" dos governos que é, acima de tudo, uma forma de banal e cruel populismo.
Uma Europa da violência contra pessoas desarmadas. Como na Macedónia ou Hungria.
Macedónia
Macedónia
Grécia
Nos dias que correm. a Europa fechou-se num egocentrismo onde o que mais a preocupa é o problema económico, a defesa dos seus bens e dos comércios (à procura de mão de obra barata) conquistados.
Vejo as enormes hipocrisias e as “gaffes” voluntárias. Não percebo a Cimeira (pro-racista ou xenofobista?) da Áustria.
a Primeira Ministra da Áustria
instalações Olímpicas abertas
A Grécia e a Europa têm uma crise humanitária às portas, ou antes, já está em pleno centro de Atenas, onde se dorme no chão nas praças. Onde o velho aeroporto está a abarrotar de gente. E onde os Gregos abriram as instalações Olímpicas (de 2004) para os receber.
Podem vir a ser 70.000 dentro de poucos meses.
A Europa promete 'pagar' à Grécia... A Inglaterra promete 'pagar' à França... Como a UE já 'paga' à Turquia. Para manter longe -enquanto for possível- o problema! Será uma solução?
na Grécia
Não sou eu que o digo, vem nos jornais que se preocupam com as consequências de uma política europeia e mundial (há décadas) errada! E têm “cá”, na nossa Europa, as armas de que precisam.
E pergunto: por quê a Guerra do Iraque? por quê a ida à Líbia? Acções que desestabilizaram toda uma região. Uma questão de petróleo, sabemos.
La Jungle
Em Calais, ao Norte da França, milhares de refugiados aguardam a possibilidade de "fugir" num ferry para Inglaterra. Anteontem, tiveram de abandonar o campo a que chamavam "A Selva" (La Jungle), onde viviam mal instalados e sem condições sanitárias mas tinham criado uma espécie de família.
Serão espalhados por vários "bairros de contentores", em várias zonas da França.
os contentores
Houve protestos, mas a polícia francesa portou-se bem. Eu não posso criticar, não sei como faria. Sei, porém, que todos somos humanos e que o Homem não deve humilhar o outro Homem, nem empurrá-lo para o abismo.
Tem de haver outras soluções, que não me compete a mim saber, e exigem coragem e tolerância: é importante falar nelas.
Leio
a editorial do jornal Le Monde de há dias:
“Não
sabemos que expressão usar para a Europa. Sob a vaga de choque migratória, a
Europa desloca-se, desintegra-se e desconstrói-se…
imagem de "Fuocoammare"
Por onde anda a Europa? E para onde vai?! A solução será a dos governos populistas, xenófobos?
Não creio! E indigno-me! Repito-me, na minha indignação? Sim, sei que sim, mas prefiro repetir-me a ficar calada!
A verdade, no entanto, é que, como escrevia André Gide (Prémio Nobel de Literatura em 1947), que era um moralista a sério:
André Gide, por Theo Von Rysselberg (1907)
André Gide
E o escritor francês também dizia: "Quando deixar de me indignar, quer dizer que envelheci."
Fico bem acompanhada contra as nuvens do temporal que se aproxima!
nuvens da minha janela
https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/viver-e-morrer-em-lampedusa-1723246
Para os meus possíveis leitores, peço desculpa de me repetir e de dizer o que já "foi dito", mas é-me impossível calar. Agradeço aos que me lerem a paciência de ir até ao fim. Obrigada!
ResponderEliminarA História sp se repete, e a Europa nem sempre foi um lugar de acolhida. Os espanhóis refugiados em França dp da atroz guerra civil foram metidos em campos de concentração e muchos entregues à
ResponderEliminarGestapo. Os alemães fizeram o que fizeram com os compatriotas, etc etc.O que é urgente é acabar com essa guerra vergonhosa,que nunca devia ter começado. E isso não é uma utopia, é a obrigação dos políticos de turno. Enfim,bom finde, beijinhos
Tens razão, Maria, e é triste lembrar o que aconteceu aos republicanos fugidos de Espanha. E não ficamos por aqui, claro. Mas aí tínhamos de ir ao velho: "homo hominis lupus"...O homem foi (é e será) um lobo para os outros homens.
EliminarEsperemos que a guerra acabe. Mas qual guerra? já não sei onde vamos...
bom fim de semana
MJ,
ResponderEliminarNunca é demais. É uma realidade tão triste... um problema pungente. Ando cansada mas quis deixar um beijinho.:))
Tão bem dito: "Comme la vie est lente/ et l’Esperance est violente.".
ResponderEliminarTanta intenção de paz na boca do homem, mas a outra face, o lobo (como muito bem recorda) não tem pressa espera que a exaustão se apodere da vítima para a abocanhar.
Excelente crónica.
~~~
ResponderEliminarLeituras, sempre, sobremaneira agradáveis.
~~ Beijinho grato, MJ.
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