Bashô
(Matsuo Kinsaku), poeta japonês de ‘haikais’, e diarista, nasceu em 1644, na
província de Iga, numa terrinha perto de Kyoto, Ueno.
Filho de um samurai de casta inferior, estudou no Castelo
de Ueno com o Samurai Todo Yoshitada, filho do Senhor feudal da terra, os versos de 17 sílabas, os ‘haikus’
ou ‘haikais’ se consagra à poesia e, segundo ele próprio diz, “faz do haikai a
sua vida”.
Castelo de Ueno
Depois da morte precoce desse amigo, em 1667, mudou-se para Edo
(hoje, Tóquio) onde estudou com Kigin, um distinto poeta de Edo.
Estudou Taoísmo
e poesia Chinesa e continuou a escrever versos.
Bashô (Matsuo Munefusa)
Em 1672, em Edo, Bashô preparava-se para uma carreira literária. Em dado momento da vida, decidiu isolar-se do mundo e foi viver para uma cabana nos arredores de Edo. Criou um grupo de discípulos com quem discutia sobre a arte do 'haiku'. Ao mesmo tempo, viajava e aceitava a hospitalidade dos templos e de outros colegas poetas. E escolheu o nome de Bashô quando um dos seus alunos lhe ofereceu uma árvore, espécie de bananeira sem frutos e de folhas suaves que serviam para dar sombra.
Por
volta de 1682, começa as longas jornadas a pé, que duram meses.
"Deambulei, como uma nuvem no vento, querendo só capturar a beleza das flores e dos pássaros."
"Deambulei, como uma nuvem no vento, querendo só capturar a beleza das flores e dos pássaros."
Hocusai, Monte Fuji
Pelas estrada,s observa e encontra ‘material’ para uma nova forma poética por ele criada, chamada ‘haibun’. O Haibun é uma
forma híbrida entre haiku e fragmentos de prosa: entre as imagens do exterior, observadas no caminho, e as imagens
internas que passam no espírito do viajante durante essa jornada, um pouco à maneira de um 'diário'.
Viajante é o seu nome...
Sente-se na sua poesia uma forte influência da seita Zen do Budismo. Bashô foi um monge Zen.
Hiroshige, Monte Fuji
Viajante é o seu nome...
"First winter rain -
I plod on,
Traveller, my name."
Bashô
gostava da solidão e da natureza que contemplava com atenção. Preferia uma vida
livre de ambição, de posse e de independência. Os seus haikus são o resultado
de um trabalho do seu olhar atento às coisas simples, às flores, aos pássaros, à neve, aos campos de cereais...
E, também, de um espírito
meditativo – aberto à vida, à passagem das estações e à beleza do mundo em seu redor.
No sintético e efémero que é este
tipo de poema, Bashô consegue dar a complexidade do que é simples e aparentemente ligeiro. Deixo alguns poemas que tirei do livro que estou a ler: "On love and barley" (Amor e Cevada).
*
Os
amigos separam-se
Para
sempre – gansos selvagens
Perdidos
nas nuvens.
(Friends
part
Forever
– wild geese
Lost
in cloud.)
*
Luz
da lua crescente
Flores
de trigo-
Esta
terra nublada.
(Crescent
moon lights
Buckwheat
flowers –
This
hazy earth.)
*
Que
agradável –
Uma
vez só não ver
Fuji
no meio do nevoeiro.
(How
pleasant –
Just
once not to see
Bashô morre em 28 de Novembro de 1694, em Osaka. Fundou uma escola de poesia e teve muitos seguidores.
(*) “On love and barley”, “Amor e cevada”, Penguin Books Classics, 1985, tradução e introdução de Lucien Stryk.
Ilustração da capa: “Papoilas” pormenor de um desenho num biombo, por volta de 1643 (período Edo), hoje no Museum of Fine Arts, Boston.
Ilustração da capa: “Papoilas” pormenor de um desenho num biombo, por volta de 1643 (período Edo), hoje no Museum of Fine Arts, Boston.
Gostei muito deste post e das imagens que escolheu:)
ResponderEliminarUm beijinho e desejo-lhe um bom fim-de-semana:)
Uma lufada de ar fresco oriental, que sabe sempre bem. Guardei para mim o haiku dos amigos que se separam para sempre, quais gansos selvagens perdidos nas nuvens.
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminarApreciei muito a leitura.
Os meus conhecimentos sobre esta cultura são muito limitados,
apenas não esqueço a belíssima e incrível onda de Hocusai.
~~~ Beijinhos, MJ. ~~~
Devo dizer-lhe, Majo, que é uma literatura riquíssimaa! procure Kawabata, "Pays de Neige" que existe em português, ou A casa das Belas adormecidas e outros. Ou estes livrinhos de 'haikus'. Pintura extraordinária: Hocusai, Hiroshige e sei lá quantos. Tente ver na internet, é um prazer. bj
EliminarPor vezes um abraço oriental
ResponderEliminaré uma transfusão de sangues
Maria João, muito interessante, esta "exposição" que aqui trouxe de Bashô.
ResponderEliminarA beleza das coisas simples, mas profundas!
Um beijinho saudoso.:))