“Morreu em Budapeste o escritor Imre Kertész, Prémio Nobel em 2002 e um dos
últimos sobreviventes do Holocausto", leio no jornal La Stampa.
O Kaddish (*) para um escritor, pensei...
O Kaddish (*) para um escritor, pensei...
Sabia que era um judeu húngaro e que, aos 14 anos (1944) estivera em Auschwitz-Birkenau e em de cuja experiência fala no livro “Ser sem Destino” (**).
aos 14 anos
“Kertész era um
homem empenhado, actual, um indesejado para o governo anti-semita e fascista de
Viktor Orbàn, um desiludido da Europa sobre a qual escreveu palavras duras:
Viktor Orbàn
«A
Europa, uma entidade que possivelmente só existiu até ao momento em que teve um
Parlamento comum».
Penso que pouco se falou dele. Depois do ano 2002 - ano em que foi o vencedor do Nobel de Literatura- e da euforia desses momentos, a seguir... quem o leu? Teve o sucesso que merecia?
No entanto era um criador e um escritor e um pensador sério. Kertész costumava
dizer que a “arte não serve para julgar as pessoas, mas sim para recriar um
instante”.
Tinha
86 anos. Vivera intensamente de certeza. Pensara na sua experiência trágica com honestidade e interrogava-se. E indignava-se.
Na secção de Literatura da revista francesa 'Marianne', escreve Guy Konopnicki:
“Se tivesse nascido 50 anos antes, teria escrito na língua alemã, como outros
judeus da mittel-europa, Kafka ou Joseph Roth. Foi reconhecido tardiamente, este escritor invulgar. Vinha da literatura dum mundo destruído: a
dos judeus da Europa Central. Que de Praga, a Lemberg ou Budapeste, tinham formado a elite do
Império Austro Húngaro.”
Praga
Budapeste, Chain Bridge (liga Buda a Pest)
O escritor interrogava-se sempre: Qual
é a minha história particular? Quem sou? O que sou?"
Indignado e insatisfeito, desabafava, no livro 'Detective Story': "Falar não é suficiente. As palavras não esclarecem nada. Terei que
bater. Mas bater em quê. Ou em quem?"
Por outro lado, o articulista de La Stampa explicava: "Para ele, a sua experiência do ‘lager’ não fora uma chegada a nada, mas sim "um ponto de
partida" para conhecer a Europa de hoje, e "o homem em absoluto".
Sobre o Julgamento de Nurimberga (1946), como judeu húngaro que era, e “vencido” pois, pensava que tudo era mais complicado: “o mundo das vítimas e dos carrascos e logo também o da condenação tremenda
estão fora das aulas dos tribunais.”
o depoimento do nazi Hermann Göring
Nos últimos tempos, perante os acontecimentos
europeus e mundiais que se sucedem, tragicamente, escrevia, lúcido: "a liberdade é o perigo mais grave
que rodeia ao homem, porque a liberdade é a conquista definitiva que nos torna
imbelli.”
O artigo termina, com certo pessimismo:
"A sua obra-prima é, talvez, “O Século Infeliz”, o 'fechar do círculo', a pedra tumular de uma civilização – a europeia- que a partir do mito do século XVIII, o das "luzes", o da ‘razão’, construiu o seu último ‘mito’".
Dali para a frente tudo se limitou a uma 'evolução', depois 'involução' e, finalmente, 'desentendimento' sanguinário.
"A sua obra-prima é, talvez, “O Século Infeliz”, o 'fechar do círculo', a pedra tumular de uma civilização – a europeia- que a partir do mito do século XVIII, o das "luzes", o da ‘razão’, construiu o seu último ‘mito’".
Como
não dar-lhe razão?! Vou já lê-lo! Façam o mesmo - se o não fizeram ainda!
(*) O Kaddish é o nome dado à oração dedicada à memória dos falecidos, dando ênfase à glória e Deus. Normalmente é lida pelos filhos.
(**) Em 2005, o realizador húngaro, Lajos Koltai, adaptou ao cinema o seu livro Ser sem Destino.
Koltai trabalhou com outro húngaro famoso Szabo Istvan e com o italiano Giuseppe
Tornatore.
Apesar de ser Prémio Nobel, acho que não me lembro de ouvir falar nele. Também fiquei com vontade de ler alguma coisa dele, depois de ler o seu post. Vou ver o que há no Wook.
ResponderEliminarUm beijinho grande:)
Eu também vou procurar! beijinhos
EliminarTenho um livro dele.
ResponderEliminarVi a notícia no jornal da noite e fez-me impressão. Agora, neste momento, não consigo ler o tema holocausto.
Mas vou ler um dos títulos que indica e que ainda não li.
Beijinho. :))
Ana, há momentos em que não se suportam certas coisas, percebo-te bem. Um beijinho
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