Dia do Trabalho (que não há p'ra tanta gente..), dia do Trabalhador (que já não tem onde trabalhar), dia de Festa (onde tantos estarão tristes), dia da Mãe (que vê os filhos sem emprego) ou da outra Mãe, lá por longes terras (que não tem comida para dar ao filho que nasceu)... Por ironia... Já agora podia ser também o dia do Patrão!
Vinha no DN de hoje: “Patrões despedem 362 pessoas por dia”.
Mais:
Vinha no DN de hoje: “Patrões despedem 362 pessoas por dia”.
Mais:
"Primeiro trimestre registou 1319 vítimas de despedimento colectivo em 143 empresas”.
E ainda:
“Os centros de emprego receberam no primeiro trimestre 32637 desempregados que alegaram ter sido despedidos”.
Eu não culpo apenas os governos (é, aliás, um fenómeno geral, que atingiu o sistema mundial), mas o "tipo de governo" que foi imposto por outros a esses governos, alegando ser essa a solução de vida e economia para a humanidade.
Um capitalismo enérgico e competitivo que é igual a capitalismo selvagem, que quer dizer procura de mão de obra barata já que o que conta nessa tal “competividade” é o lucro, logo significa deslocalizações, despedimentos em série.
Como consequência, o trabalhador “aceita” qualquer trabalho (se o houver!) porque a isso é obrigado, aceita salários mais baixos - se não, a chantagem é ouvir dizer : "é pegar ou largar", "se não quiserem, há mais quem queira...”
E é verdade : porque há gente que está ainda pior do que eles, os que emigraram para cá, à procura do "El Dorado".
E lá está: o trabalhador que fica aceita todas as condições...
Quer isto dizer: acabaram-se as conquistas tão difíceis de conseguir, os direitos que demoraram séculos a adquirir.
cartaz do filme "As Vinhas da Ira", de John Ford (1940)
Vem-me à memória as imagens de um filme que revi há pouco, tirado de um livro que li há muito: “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck. O filme, feito em 1940, é de John Ford: dois grandes!
Lá vão eles, de terra em terra, em busca de trabalho, hordas de homens desempregados, empurrados de herdade para herdade, tratados como gado...
Com as famílias atrás.
Com as famílias atrás.
Ou deixando a família para trás...
Dá vontade de chorar...
Desenraizados, desiludidos, desesperados. E cheios de esperança!
Como os desesperados de hoje que chegam às portas da Europa para não morrer de fome nas terras que deixaram lá longe. E que morrem às centenas antes de cá chegar!
Como os desiludidos que saem hoje do país, aceitando o trabalho que houver, quantas vezes bem classificados, qualificados mas que –aqui- não encontram as condições necessárias.
E que fazem falta cá!
O homem que julgou estar no centro do mundo, que conquistou mundos, dominou as máquinas, o homem que lutou pelos seus direitos, e em cuja luta tantos morreram...
Ele “aí vai de foz em fora/na sua barca falaz/à procura da ventura/que ninguém sabe onde mora/se não depois quando chora/saudades que o tempo traz...”
Sei estes versos de cor, mas ignoro quem foi o seu autor... De qualquer modo, adaptam-se à situação.
Indigno-me!
Não comento. Todos pensarão por si.
Protesto!
Mais ainda me indigno quando leio no mesmo jornal as declarações de uma figura maior do capitalismo, presidente da SONAE, que critica os políticos e tem a lata de dizer, com todo o descaramento:
"País precisa de pessoas competentes".
E lamenta, parece, este senhor que os políticos mais capazes estejam escondidos.
Escondidos? Onde?
"Política já temos em excesso. Agora precisamos é de pessoas competentes. E para mim, pessoas competentes podem ser chineses, angolanos, americanos. Os políticos portugueses competentes estão escondidos".
Ah! Os competentes são outros! Estão lá fora: chineses, angolanos, americanos...
Politica em excesso? A política (onde todos nos encontramos inseridos é na polis, não é?) nunca é em excesso!Pode estar é mal orientada...
Mas isto o que é, meu Deus?
No dia do Trabalhador, do Desempregado, custa ouvir estes despautérios de quem nunca pensou nos outros, de certeza!
Nem nos empresários pequenos, coitados! O senhor que "quebrou” completamente o preço da nossa cortiça que deixou de interessar aos que com ela trabalhavam, porque a dele é a “melhor preço”, pois é: mais competitiva...
E nos trabalhadores pensou? Pergunta retórica, claro. Nesses, ainda menos!
Enfim, Bom Dia do Trabalho!
Bom 1º de Maio!
Ouçam Victor Jara e Isabel Parra, para "puxar pela alma"!
Olá Falcão, colocás-te o dedo em muitas feridas, de facto até se pode berrar muito, a ideia que eu tenho é que o mundo mudou e muita coisa parece-me irreversível!
ResponderEliminarNão está tempo para «rodriguinhos»!
Li o livro vi o filme e através dos mesmos é impressionante a vida de luta pela sobrevivência!
Bjs,
Manuela
Isso tudo que está acontecendo. Será tão difícil assim arrancar a raiz? Há sempre um limite para todas as questões. Temo que seja hora de rever as bases, mais uma vez. Que seja em paz.
ResponderEliminarbjs 5
Cozinha dos Vurdons
Presenteia-nos sempre com uma análise social ligada ao momento e à literatura. É um gosto passar por aqui.
ResponderEliminarBeijinho!
Recordo os 1º de Maio do pós 25 de Abril... onde tanta imaginação andava à solta...
ResponderEliminarRecordo os 1º Maio da Ditadura, onde lançar ao ar uns panfletos de protesto contra a Guerra Colonial era o máximo que conseguíamos...
O 1º de Maio de hoje deixou-me mais triste... tantos homens e mulheres sem emprego, tanta injustiça... Até os donos das grandes cadeias de Supermercados ajudaram à festa.
Ao finalizar o dia, esta boa surpresa: este texto, estas vozes, estas sensibilidades...
Obrigado Maria João!
Os tempos passam... Infelizmente, este ano o 1º de Maio foi um tanto "assustador" para os que trabalham (e esses já têm sorte!), e para os que não trabalham!
ResponderEliminarMas outros dias hão-de vir! Eu sou uma optimista invencível!
E não quero mudar!!!
Esperemos esses dias...
Abraço para todos, neste Maio!
Olá Jana, passei fora o primeiro de Maio.
ResponderEliminarComo é possível que se continue a poder roubar, e não se possa trabalhar, se o trabalho é a própria vida, a dignidade, o amor, a saúde, a alegria!
"¡Quién no lo iba a decir!"
Yo también te sigo queriendo.
É sempre um grande prazer passar por aqui.Nem sempre com tempo suficiente.
ResponderEliminarAndo pelo primeiro de Maio,também.
Ando a perseguir as minhas ilusões.
Um cordial abraço,
mário
Isabel! Claro que li o teu comentário à música do Manitas de Plata, fantástico guitarrista!
ResponderEliminarbeijinhos