O que é “ensinar”?
É comunicar, claro, é “tentar” dar o que se sabe, é “tentar” abrir portas e janelas sobre
o mundo.
Tudo a partir de qualquer coisa que se sabe – porque se
estudou. É um lugar comum, mas digo-o à mesma: ninguém sabe nem pode ensinar
sem aprender de “outros”.
O que é “ensinar”?
Robin Williams, professor do "Clube dos poetas mortos"
a frágil planta...
Penso nas "corridas de estafetas", penso no simbolismo e na simbologia dos Jogos Olímpicos.
Penso
até nos versos de Régio tão mal interpretados por vezes. Ele fala da sua
loucura e eu peço-lhe o verso emprestado para falar de educação...
“Ergo-a como um facho a arder na noite escura..." e sinto que "entrego" essa luz ao que vem depois de mim, e esse entregará a outros até ao fim dos
tempos, saindo das ténebras e da noite escura.
Ensinar é como um “bichinho” bom que entra dentro de nós e
que temos que mostrar –revelar?- aos outros. Porque gostamos desse bichinho.
Tenho uma grande alegria quando as minhas antigas alunas se
lembram de mim, ou se chegam um pouco mais. Sinto um calor muito bom dentro do
peito.
Mas não me vou comover!
Porque hoje eu venho aqui para "gritar" e para me “solidarizar”
com os professores que farão uma “vigília” de protesto contra os desmandos
que vão pela “Educação”... Com um E grande!
Como penso que ser professor é uma condição “para sempre”,
sinto-me “atingida” sempre que atingem as minhas e os meus colegas, apesar de "retirada" !
E não posso –nem quero!- ficar de parte.
Resta-me a palavra e é com ela que venho dizer que chega!
Penso que muitos não saberão exactamente o que se passa com
os professores.
Seres estranhos, há quem pense, que “aturam meninos”, ou que “não
aturam meninos”, queixam-se as mães, exaustas, que entregaram os filhos aos
professores, porque a vida pesa e o trabalho é muito; pessoas que “ensinam” –ou
que não ensinam, queixam-se tantos pais, carregando todas as culpas e
frustrações das vidas para cima dos professores...
Não sou pessoa de emoções violentas –pelo menos externas-
exteriorizo pouco, mas, por dentro, “ardo” e anseio, como todos...
E a utopia é palavra do meu vocabulário do possível.
Comovo-me sempre, ao ver o filme "Cuore" (1) com a figura da "maestrina dalla penna rossa" que vi em Itália pela primeira vez...
Tudo isto vem a propósito de mais “intervenções” do governo.
De desrespeito, de tentativa de “divisão”!
Elas são tantas!
O horário “0” que vai atingir um grande
número de professores significa: não haver trabalho para eles na escola.
O espalhar do sistema dos “agrupamentos”, juntando assim vários
estabelecimentos, com “espíritos” tão diferentes, do infantil ao secundário...
outra versão do filme "Cuore"
Para uma profissão que
não deve ser vista como tendo “horas marcadas”!
Porque o trabalho de cada professor é “também” as leituras
para se actualizar, a correcção de trabalhos e fichas e coisas várias para além
dos testes e dos exames – trabalho extenuante.
É a “feitura” das pautas e a arquivação de cada “função”
realizada, no computador, são as novas
tecnologias usadas para dar as aulas mas também para a organização de trabalhos,
de motivações...
Tudo isto, com as novas “decisões”, significa “deitar abaixo”
uma série de postos. Significa mais desemprego
mesmo nos funcionários públicos porque quando uma escola fecha são todos que
perdem, a começar pelos alunos (em primeiro lugar, porque estariam bem melhor em turmas
mais pequenas).
crianças ciganas, estudando (blog cozinha dos vurdóns)
Estas medidas têm “fracturado” por dentro a solidariedade do professor
com o outro professor. Ergueram-se entre eles “barreiras”, incompreensões e concorrências
desnecessárias.
Tudo começou antes, eu sei, mas este governo tem o defeito de
nem sequer ter feito nada de bom, apenas “acentuou” o mal que já existia e o
mal estar enorme desta profissão que tudo “dá”, e se esgota – a profissão que
mais percentagem de depressões e esgotamentos e suicídios apresenta...
(1) O inesquecível filme "Cuore", série televisiva de Luigi Comencini, tirado do livro de Edmondo de Amicis, com a bela Giuliana De Sio.
(O livro já foi levado ao cinema três vezes!)
excelente
ResponderEliminar... e não será o último grito
Não! Há sempre uma voz ao nosso lado que não nos deixa calar...
EliminarExcelente!
ResponderEliminarÉ tão bom chegar aqui e ver que há gritos que se espalham. :)
Beijinho!
O melhor é ouvir o "eco" da voz dos outros... Obrigada, Ana.
EliminarNeste momento e como as leis estão, podemos dizer que ninguém tem o lugar seguro. Esta insegurança é o pior de tudo.
ResponderEliminarUm beijinho grande e obrigada pelo excelente post.
É verdade, Isabel! Esta insegurança, a instabilidade que se espalhou é o pior!
EliminarResta-nos gritar a ver se alguém ouve!
Beijinhos e bom "finde" (como diz a Maria)...
Ensinar é tudo... é transmitir, é dar, é entregar, é gostar, é amar...
ResponderEliminarO problema é não haver, muitas vezes, condições, modos ou maneiras...
O ensino devia ser mais amparado e acarinhado! Afinal, estamos a ensinar e a educar as pessoas para o amanhã!
Gostei muito!
Beijos e boas férias
Raul
É quase uma atitude suicida... O futuro é agora, claro. Mas haverá futuro? Bjs e boas férias!
EliminarEnsinar é dar aos outros os nossos conhecimentos, eu sempre que aprendo algo quero que os meus filhos também o saibam. Ensinar é um gesto altruista, (não tem nada que ver com gostar de luzir cultura para impressionar, que é outra história). Os tempos de repente tornaram-se muito difíceis para todo, e quem sabe se isto não é só o princípio de outra era escurantista como a Idade Média. Todos estamos obrigados a reagir, que "eles" não pensem que lhes vai ser fácil mudar o mundo aos seus interesses. Temos que dizer NÃO todos unidos, a ver se serve para alguma coisa.
ResponderEliminarClaro que não os vamos deixar levar-nos à obscuridade! Só sobre o nosso cadáver!
EliminarEnfim, acontece tanta coisa por aí, que às vezes desanimo...
Vale a pena?
Depois "sinto" um eco, tantos "corações" a dizerem o mesmo... Temos que continuar! TODOS JUNTOS!
Parabéns aí aos "nuestros hermanos" que lutam e se portam como leões!
beijos
Obrigada, querida Professora!
ResponderEliminar... sem palavras...
EliminarNos últimos anos tem-se assistido a uma tremenda falta de respeito pela classe docente.
ResponderEliminarAqui junto e deixo o meu grito de protesto.
Obrigada, Cláudia! Sei que conto sempre com a sua voz pela justiça!~
Eliminarbeijinhos e bom week end!
A defesa da escola pública é um dever de todos nós!
ResponderEliminarOs ataques à escola pública têm a mesma origem que os ataques ao Serviço Nacional de Saúde, à Cultura, à Ciência...
E sem a luz do conhecimento, o que levaria luz ao seres?
ResponderEliminarO mundo se apagaria.
bjs nossos
Quero agradecer-lhe do fundo do coração o que vai escrevendo sobre os professores (e nem interessa o nível de ensino). São poucas as pessoas que compreendem o que os professores hoje em dia fazem. Nem nós seríamos capazes de descrever o nosso trabalho na íntegra…Há tanto, mas tanto trabalho invisível...
ResponderEliminarL.S.