Drancy, 1942, fotografia do jornal "Le Monde" de hoje
Passaram 70 anos sobre a “raffle du Vel’ d’hiv’”! A "rusga" do Velódromo de Inverno, como foi conhecida depois.
Manhã de 16 de Julho, camiões da polícia que efectuaram a rusga (Le Monde)
O que foi? Bem, essa operação da Primavera (já no Verão, afinal...) foi como um "sequestro", foi a entrada da polícia em casas onde viviam judeus e foi “arrastá-los”
para o Vélodrome d’hiver, um espaço amplo onde ficariam a aguardar o futuro.
mapa da Europa ocupada
Qual futuro? Os campos de concentração.
Assim, tudo bem organizado: os celibatários e as famílias com
crianças com menos de 16 anos seguiram para o campo de concentração de Drancy. E os outros? Esses são
“arrumados” no Vel’d’Hiv – o tal Velódromo de Inverno.
Pode-se filmar o "Vél'd'Hiver"? cena do filme "Mr. Klein", de Josef Losey
A polícia francesa “teria agido” sob as ordens dos alemães :
foi essa a defesa das autoridades francesas.
Hoje sabe-se que não foi verdade...
Drancy foi um campo “de deportação” (temporariamente, de “concentração”)
criado em 1941 pelo governo de Vichy do Maréchal Pétain, governo que “apoiou” a
ocupação alemã.
Situado a poucos quilómetros de Paris, esteve sob o controlo da polícia francesa até à altura em que
vieram os alemães para “acelerar as exterminações” (wikipedia).
Construído
para “abrigar” 700 pessoas, chegou a ter 7.000 prisioneiros. Igualmente estiveram prisioneiros homossexuais. As condições de detenção eram brutais: as crianças eram
separadas dos pais, a fome grassava.
A maior parte dos que ali foram parar, ou seguiram para Auschwitz, ou morreram ali.
O campo foi libertado em Julho de 1944 pelas tropas aliadas. (wikipedia)
Thomas Bernard, desenho de Toulouse-Lautrec
Neste campo estiveram os escritores Max Jacob (que ali
morreu em 1944), Thomas Bernard (pseudónimo de Paul Bernard), o coreógrafo René Blum,
entre outras figuras mais conhecidas, todos eles de origem judaica.
Dos 120.000 prisioneiros que passaram por ali 65.000 eram
judeus e, desses, morreram 63.000.
a actriz Kristin Scott Thomas
Em 2011, saiu um filme do realizador francês Gilles Paquet
Brenner, intitulado “A Chave de Sara" (Sarah’s key) sobre a "raffle du Vel’d’hiv".
Como contaram alguns sobreviventes, mais tarde, “é impossível
que de 1940 a 1942 os nazis trabalhassem sozinhos na “eliminação” dos judeus. Como
noutros países ocupados na altura, os nazis tiveram os seus cúmplices”.(1)
Em 1995, o então Presidente Jacques Chirac, na cerimónia
comovente dos 50 anos desse momento dramático, realizada no Panteão de Paris, declarou:
“A França nesse dia
cometeu o irreparável.”
Sabe-se que a polícia francesa agiu de forma
independente e não, apenas, na dependência das ordens alemãs.
E isso é imperdoável!
Passaram 70 anos e a “raffle” continua a ser uma ferida e uma
vergonha para a França...
1956, manifestação recordando
É que nos anima: a parte da humanidade que sempre se redime do mal que os outros fazem. Essa
parte é
a que “salva” a humanidade!..
De facto, inúmeros franceses “desobedeceram” às ordens, e protegeram e
esconderam e alimentaram judeus.
(1) O livro de Limore
Yagi, que fala deste horror, saiu há cerca de um mês e intitula-se “La France,
terre de réfuge et de désobeissance civile 39-44” (éditions du Cerf, 2012)
Arrepia pensar do que alguns são capazes mas é reconfortante saber que também há os que não se deixam corromper.
ResponderEliminarObrigada por nos lembrar disso.
Um beijinho e uma boa semana
É um período tão-tão doloroso, tão humanamente revoltante!! Fui, com o meu pai, ver o lugar onde aconteceu o desembraque da normandia, o dia "D", e lembro-me de não conseguir impedir as lágrimas. Pensemos nos homens bons!
ResponderEliminarBeijinhos e saudades
Querida Maria João,
ResponderEliminarUm post pertinente. O "irreparável" é sempre uma palavra a abolir, não é?
Atrocidades... desumanidade...silêncio cáustico.
Beijinho e bem haja pela indignação.:)
É vital lembrar, é inevitável e necessário agradecer.
ResponderEliminarnais tukê por tudo querida Falcão.
http://cozinhadosvurdons.blogspot.com.br/2012/07/resposta-e-o-nosso-muito-obrigada.html
Não podemos esquecer a nossa História, temos que levá-la às costas com o bom e com o impresentável. Aqui há uns anos saiu esse filme delicioso "Monsieur Batignole", com Gérard Jugnot, não sei se viste. Uma história comovedora. Fazes bem em escrever sobre estas coisas, nunca, nunca é demais recordar tanto horror, mas sobretudo os gestos heróicos no meio do caos.
ResponderEliminarNão li o livro, fujo destes temas muito.
Un beijo