Entretenho-me a folhear um livro que em tempos tive de
estudar: "Introduction au Latin”, do grande filólogo francês, Jules Marouzeau.
E, de repente, prendeu-me outra vez aquela história toda... Tão longe vai o meu
latim! Como redescubro o interesse da viagem às origens do Latim! Os
parentescos, as línguas-irmãs, a língua-mãe. O Indo-europeu?
E qui paro para vos contar o que encontrei e me divertiu na divergência enorme entre o Grego e o Latim. Como os povos, eles mesmos, tão diferentes eram, na concepção das coisas da vida...
Alexandre Magno, mosaico
Na mentalidade, enfim.
A utilidade predomina em Roma, a construção de estradas, de pontes. E mesmo de termas, desconhecidas por cá!
estrada romana em Portugal, perto de Braga
ruínas de termas perto de Braga
A quem temos que agradecer nós todos, os que foram abrangidos pelo Império Romano. Lembrando as figuras inesquecíveis do nosso imaginário galo-romano: Astérix e Obélix, mais as legiões romanas!
famosa aldeia da Gália
A Ibéria
Astérix e Obélix, rindo dos exércitos romanos
ou fugindo dos romanos
restos da estátua gigantesca de Constantino
E que dizer da Grécia?!
Corrida, nas olimpíadas Gregas
Gregos nas olimpíadas
Em oposição bem clara imaginamos o que vimos acima: a leveza e o "quase lúdico" e sempre poético da Arte Grega.
Diferentes também nos nomes das coisas e das pessoas, como não podia deixar de ser.
A origem dos nomes. O espírito dos nomes...
Diferentes também nos nomes das coisas e das pessoas, como não podia deixar de ser.
o Discóbolo de Míron
restos de um frontão do Templo de Zeus, em Olímpia
Em Roma, os nomes próprios são, na maioria dos casos, ligados às coisas
da terra, aos bens materiais, a um certo pragmatismo.
imagem retirada da Livraria Lumière
Assim, Fabius era o homem das "favas", Ovidius viria
inevitavelmente de “ovis” ovelha, e Lentulus das “lentilhas” (lens) e,
claro, Porcius vem de “porco”.
Já agora Laetus era o "gordo". (Virá dai o nosso “leitão”?)
Já agora Laetus era o "gordo". (Virá dai o nosso “leitão”?)
Continuando...
Plantus era o que tinha os “pés-chatos” e Strabo era o “vesgo”. E Claudius era o "coxo", o que claudicava...
Plantus era o que tinha os “pés-chatos” e Strabo era o “vesgo”. E Claudius era o "coxo", o que claudicava...
E as crianças, meu Deus? Que nomes tinham?
Bem, por vezes eram apenas chamados Secundus, Quintus,
Sextus, Septimus, Octavus...
“Porque eram “numerados” à medida que nasciam, tal como hoje numeramos os nosso reis”, diz com certo humor J. Marouzeau.
“Porque eram “numerados” à medida que nasciam, tal como hoje numeramos os nosso reis”, diz com certo humor J. Marouzeau.
Os romanos viam a “excelência” nos bens materiais daí que
“optimus” se crie da palavra “ops” (riqueza). Outros nomes vinham da agricultura e, assim, temos “Felix” (hoje, “feliz”) que vem de terreno “fértil”.
"Desiderare" é "notar a ausência de um astro favorável"... E o termo “delirare”, hoje tão abstracto, veio da expressão “sair do rego” (lira)...
"Desiderare" é "notar a ausência de um astro favorável"... E o termo “delirare”, hoje tão abstracto, veio da expressão “sair do rego” (lira)...
E “ Rivalis” – o rival de hoje- teria sido o proprietário da
fonte ou das águas à beira-rio (rivus), disputadas pelos outros vizinhos...
Depois vêm as evoluções semânticas que vão mudar tudo, é certo...
Mais ainda:
Para os romanos, o
escritor era o “scriba” (que significava escriba, ou escrivão), "o que escreve", um
mero redactor , ou "copiador", sem grande valor, para quem a poesia era coisa estranha.
No latim, aliás, os substantivos masculinos terminados em “a” referem-se sempre a funções “vis”.
escriba acocorado (Egipto)
No latim, aliás, os substantivos masculinos terminados em “a” referem-se sempre a funções “vis”.
Também os nomes próprios têm outro espírito: referem-se a
“glória”, “honra”, democracia, “poder”, deuses.
Demóstenes
Sem muito rigor: nos gregos a teoria, nos romanos a prática.
ResponderEliminarMais que teoria...
ResponderEliminarInteressantíssimo, como de costume.
ResponderEliminarAchei uma maravilha aquela capa do album da Lumière.
Sou fã do Astérix. O que eu me divertia a ler os livros.
Um beijinho
Gostei muito de tudo. Nunca aprendi latim e gostava de ter aprendido, até porque gosto muito de saber a origem das palavras. E achei curiosa esta distinção entre a língua e a mentalidade dos gregos e dos romanos. Bjs!
ResponderEliminarFoi pena porque creio que ia gostar - se tem essa curiosidade da origem das palavras. A mim tornou-me tudo mais fácil: até... não dar erros!
EliminarE gostei muito mesmo. Tive 2 anos no Liceu e 3 na Faculdade, como opção...
beijinho
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ResponderEliminarLatim, sempre me lembra colégio de freiras ... rezava pra não ir pra um, deu certo e nunca fui. Pena que não aprendi latim também.
ResponderEliminarbjs nossos
As culturas grega e latina são apaixonantes, Esparta e Atenas, duas cidades com um desenvolvimento cultural incrível.
ResponderEliminarEu também tive 5 anos de Latim, e nenhum optativo! Menos mal que gostava muito, e também de grego, 2 anos no Liceu, suponho que tu também. Muito curiosa a origem dos nomes. Um cunhado meu chamava-se Octávio, "nome de imperadores", e afinal significa apenas o nº8 !
Já estou aqui, nesta noite de jasmins, recobrando a normalidade, de que também gosto muito como tu.
Um grande beijo
As línguas são a porta de entrada para o conhecimento dos povos e das suas culturas. As mentalidades não são traduzíveis.
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