VIVE E DEIXA MORRER!
Não é esta a minha máxima preferida, antes diria: “vive e
deixa viver!”, mas Ian Fleming escolheu esta...
Herói fictício, o
espião do M16, os serviços secretos de Sua Majestade Inglesa, foi criado
em 1953.
desenho de Fleming: James Bond
"Live and let die" (Vive e deixa morrer) é publicado em 1954.
No próximo Outubro/Novembro vai sair o novo filme, assinado
por Sam Mendes, com o “actual” James Bond. Intitula-se "Skyfall".
“Bond, o meu nome é James Bond...”
E hoje? Quem não tem hoje ordem para matar? Já não nos
escandaliza...
Lendo os seus livros, entende-se melhor. Viver sobre o fio da
navalha não é para todos, nem é simples...
Nos seus romances é mais fácil morrer, ou ser morto, do que
viver , por isso a “vida-viva” ganha esta força de indiferença em relação à
morte dos outros.
Uma espécie de “salve-se quem puder”?...
Salvar-se dos que querem matar? Ou dos que querem morrer... É
o mesmo.
Não atiremos nenhuma pedra ao escritor: quem não pensou já: “ai,
queres morrer? Então deixa-te morrer...”
O próprio Fernando Pessoa se lembrou disso nos versos "suicidas" do heterónimo Álvaro de Campos:
“Se te queres matar/por que não te queres matar?/Ah, aproveita! Que eu que tanto amo a morte e avida/se ousasse matar-me, também me mataria...”
“Se te queres matar/por que não te queres matar?/Ah, aproveita! Que eu que tanto amo a morte e avida/se ousasse matar-me, também me mataria...”
Porque há muito quem queira matar dentro de si a vontade de
viver. Para se sentir mais livre? Porque julga que é mais difícil viver assim?
Quer dominar os outros?
Ou é apenas indiferença?
Vai julgando que vive. Afasta de si tudo o que o incomoda, a
começar pelos outros.
E um dia surge o irreparável. Como no extraordinário e dolorosos quadro do russo Ilya Repin.
E o irreparável pode ser querer compor a vida, e só nos restar morrer.
Ilya Repin, Ivan o Terrível
E o irreparável pode ser querer compor a vida, e só nos restar morrer.
Ou matar. É o que acontece aos heróis de Fleming: matar para
não morrer...
Há muitos anos que o leio. Foi dos primeiros autores que
consegui ler em inglês. Tal como o meu primeiro escritor, em francês, foi outro
escritor policial Georges Simenon...
Divertiam-me aquelas histórias loucas de Fleming! Aventuras empolgantes, sem fim, sem limites!
007 Goldfinger
Escreve bem o autor. É inteligente. Analisa as “doenças” da
prepotência dos homens. Do que se julga mais forte, do que quer ser rei do
mundo. Dominar. Prevalecer. Ser o mais forte. Poder destruir o criado.
Alfred Adler
Porque é difícil viver com os outros? Não, claro, não é por
isso.
É porque só destruindo os outros nos sentimos suficientemente
fortes para aguentar a vida, o peso da vida, e ser “donos” dela? Talvez.
Ter o mundo aos pés? Mas para quê, meu Deus?
Se nunca vamos
ter alegria? Se não há qualquer contentamento. Se a insatisfação nos rói?
Se depois, ao morrer, na solidão final, termos apenas, no
universo gélido que nos rodeia, nesse mundo em que nos “fechámos”.
Orson Welles
uma bela imagem do filme "O Mundo a seus pés"
Oh! Rosebud, Rosebud...
E vem o justiceiro, o agente 007, pôr um pouco de ordem
nisto. Em boa hora.
Se não o que fariam estes homens que se perderam? Ou que se
querem perder?
Quem os salvaria?
Quem nos traria Rosebud?...
“Bond, o meu nome é
James Bond...”
Vai ser diferente pois será baseado na vida do próprio Ian Fleming, inspirando-se na biografia escrita por Andrew Lycett, “The Man behind James
Bond”.
Aguardemos, pois...
(1) Adler falava da agressão e da luta pelo poder - resultantes de um complexo de inferioridade- mas não as equiparava à hostilidade. Era mais um tipo de agressão para “superação” de obstáculos, na
sobrevivência individual e das espécies. Essa agressividade pode, então, manifestar-se
como vontade de poder.
Gostei muito de ler.
ResponderEliminarVia os filmes na televisão. Nesse tempo davam bons filmes.
Boa noite.
Estás muito filósofa!
ResponderEliminarVontade de poder, vontade de deslumbrar, de ter, de tudo!
No fundo todos tivémos um dia esse sonho impossível na cabeça, mas o importante é aterrar em terra firme, e não permanecer instalado na loucura de querer o impossível. C´est comme ça?
O post que acabo de escrever, veio-me inspirado por ti, a história da Bela Adormecida...Foi como uma luz, não tinha ideia de que falar...
Assim que Gracias y Besos
Pois davam. E agora se acabam coma RTP2 acabam com os filmes...
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