segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Uma pintora espanhola, em Portalegre...





Desta vez venho falar de uma pintora espanhola. De uma pintora séria que é uma mulher que agarra a vida, nas suas pequenas e grandes coisas, nos seus dramas e alegrias e as transforma em poesia. Com linhas e cores fortes e suaves ao mesmo tempo.

Lembro-me da Lita Falcão pequenina – sim, conheço-a, apesar de ultimamente quase nunca nos vermos - risonha, com duas covinhas na face, quando se ria.
na fila da frente é a 3ª a contar da esquerda (eu sou a 1ª)


"Vejo-a" saltitando pelas escadas largas, quase de caracol, da Calle Torres Naharro, em Badajoz, onde ficava a sua casa.

Calhou ser minha prima, porque o pai dela era irmão do meu pai. O tio Manuel era uma pessoa tranquila, o tal “homem tranquilo” que se chega a invejar porque sentimos vive em paz consigo.

o meu avô João Diogo

Como o era o meu avô João Diogo – o pai da minha mãe...

Pessoas, que os outros podem até considerar, "fracas" - porque vivem no seu silêncio, no seu mundo interior, o que não os preocupa nada, porque eles ouvem e vêem os outros, mas não pesam.
 Eles conseguem ser essenciais. Aparentemente fracas, só... Essenciais.

Vejo os olhos verdes desse tio que pouco conheci. Sonhadores. Iluminados. E vou procurar outra fotografia: a do “nosso” avô Falcão – meu e dela.

O avô falcão


Olhos puros, também claros, talvez “garços” – cor que nunca descobri como era e de que tanto falam os poetas.

Esse avô tinha um olhar doce, determinado na sua doçura, e olhos inteligentes. Foi um dirigente associativo nos tempos da I República, na cidade de Portalegre, de quem hoje poucos se lembrarão. Foi respeitado no seu tempo.


O meu pai adorava-o, isso sei. Admirava-o e falava dele horas sem fim.


Ah! O meu pai também tinha uns olhos diferentes!

o meu pai e eu

Mas não eram verdes, eram cor de avelã. Abertos para o mundo, sem medo, curiosos de tudo o que era humano mas, com a “sua” componente científica, falava dos poliedros: dos homens que conseguiam “abarcar” tudo: todas as faces e toda a riqueza da vida. Sem excepção.

São "Falcão" os olhos da pintora de que vos falo: esverdeados, iluminados, vivos!

Sim, muito vivos, porque, ao contrário do pai, ela é uma agitada, mulher exigente que se indigna e tudo tenta abarcar com os seus olhos.



Uma pessoa que quer um mundo melhor, em que seja “humano” viver e que vê esse mundo com pureza...

A Exposição intitula-se "Onde o olhar começa"...



É inaugurada no próximo dia 23 de Agosto (ficando aberta até 30 de Setembro), na Galeria de São Sebastião, sítio nobre da cidade, onde foi a antiga Fábrica Real que o Marquês de Pombal fundou.
Galeria Municipal, de São Sebastião


A Exposição vai ser em Portalegre, minha cidade. A minha cidade tem coisas maravilhosas...

8 comentários:

  1. Gostava de ver esta exposição e de voltar a Portalegre para antes passar por Marvão, terra dos meus encantos.
    Gostei da pintura e das suas palavras. A minha avó tinha os olhos ora cor de avelã, ora um pouco pardos mas difíceis de definir.
    Gostava muito desta avó. :)

    Beijinho e obrigada pela partilha!

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  2. O que posso adiantar sobre garço é o facto de ser um tom azul-esverdeado que poderá ter cambiantes com a luz e a sombra. Num dos mais geniais contos de Guimarães Rosa ("Cara-De-Bronze") ele põe, na voz de um vaqueiro, uma frase enigmática: "A noiva tem os olhos gázeos", que acaba por ser uma variante de garço. Mas o conto é muito mais do que isso...

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  3. Também gostava muito de ver a exposição. As pinturas são bonitas.
    Portalegre é relativamente perto e só lá fui uma vez ou duas, há muitos anos.
    Fizemos uma visita à Escola do Magistério, na época em que eu andava também aqui na Escola.

    Gostei muito do seu post.
    Um beijinho

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  4. Gostei muito desta pequena exposição. Muito bonitas estas pinturas.

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  5. Gostei muito, tens uma família encantadora. E os teus olhos de que cor são?
    Gosto especialmente do primeiro quadro.
    Tenho em casa um quadro duma tia que morreu tuberculosa com 20 anos, linda. É para mim um tesoro, não tem preço.
    Beijinhos

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  6. Boas e bonitas recordações... Existem pessoas que nos marcam, quer sejam familiares ou não. Pessoas que admiramos, que idolatramos e jamais esquecemos.
    Deve ser uma interessante exposição com bonitos quadros.
    Um beijinho.

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  7. Adorei ler este post, muito mais completo que o meu sobre a exposição, eheheh
    Belo Falcão Lunar, só faltas-te tu.
    Conheci as tuas irmãs, sabias??? Gostei da D. Branca, mas a D. Mamé é como tu, eheheh
    Lindas!!!
    Beijo

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  8. Não fui à exposição... Mas partilho a ternura por Portalegre e a certeza, das únicas que tenho, de que há Pessoas que nos determinam!

    Beijinhos

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