Desta vez venho falar de uma pintora espanhola. De uma
pintora séria que é uma mulher que agarra a vida, nas suas pequenas e grandes coisas,
nos seus dramas e alegrias e as transforma em poesia. Com linhas e cores fortes e suaves ao mesmo tempo.
Lembro-me da Lita Falcão pequenina – sim, conheço-a, apesar de ultimamente quase nunca
nos vermos - risonha, com duas covinhas na face, quando se ria.
na fila da frente é a 3ª a contar da esquerda (eu sou a 1ª)
"Vejo-a" saltitando pelas escadas largas, quase de caracol, da Calle Torres Naharro, em
Badajoz, onde ficava a sua casa.
Calhou ser minha prima, porque o pai dela era irmão do meu
pai. O tio Manuel era uma pessoa tranquila, o tal “homem tranquilo” que se
chega a invejar porque sentimos vive em paz consigo.
o meu avô João Diogo
Como o era o meu avô João Diogo – o pai da minha mãe...
Pessoas, que os outros podem até considerar, "fracas" - porque
vivem no seu silêncio, no seu mundo interior, o que não os preocupa nada,
porque eles ouvem e vêem os outros, mas não pesam.
Eles conseguem ser
essenciais. Aparentemente fracas, só... Essenciais.
Vejo os olhos verdes desse tio que pouco conheci. Sonhadores.
Iluminados. E vou procurar outra fotografia: a do “nosso” avô Falcão – meu e
dela.
O avô falcão
Olhos puros, também claros, talvez “garços” – cor que nunca
descobri como era e de que tanto falam os poetas.
Esse avô tinha um olhar doce, determinado na sua doçura, e olhos inteligentes. Foi um dirigente associativo nos tempos da I República, na
cidade de Portalegre, de quem hoje poucos se lembrarão. Foi respeitado no seu tempo.
O meu pai adorava-o, isso sei. Admirava-o e falava dele horas
sem fim.
Ah! O meu pai também tinha uns olhos diferentes!
o meu pai e eu
Mas não eram verdes, eram cor de avelã. Abertos para o mundo,
sem medo, curiosos de tudo o que era humano mas, com a “sua” componente
científica, falava dos poliedros: dos homens que conseguiam “abarcar” tudo: todas as faces e toda a riqueza da vida. Sem excepção.
São "Falcão" os olhos da pintora de que vos falo: esverdeados,
iluminados, vivos!
Sim, muito vivos, porque, ao contrário do pai, ela é uma
agitada, mulher exigente que se indigna e tudo tenta abarcar com os seus olhos.
Uma pessoa que quer um mundo melhor, em que seja “humano” viver e que vê esse mundo com pureza...
A Exposição intitula-se "Onde o olhar começa"...
É inaugurada no próximo dia 23 de Agosto (ficando aberta até 30 de Setembro), na Galeria de São Sebastião, sítio nobre da cidade, onde foi a antiga Fábrica Real que o Marquês de Pombal fundou.
É inaugurada no próximo dia 23 de Agosto (ficando aberta até 30 de Setembro), na Galeria de São Sebastião, sítio nobre da cidade, onde foi a antiga Fábrica Real que o Marquês de Pombal fundou.
Galeria Municipal, de São Sebastião
Gostava de ver esta exposição e de voltar a Portalegre para antes passar por Marvão, terra dos meus encantos.
ResponderEliminarGostei da pintura e das suas palavras. A minha avó tinha os olhos ora cor de avelã, ora um pouco pardos mas difíceis de definir.
Gostava muito desta avó. :)
Beijinho e obrigada pela partilha!
O que posso adiantar sobre garço é o facto de ser um tom azul-esverdeado que poderá ter cambiantes com a luz e a sombra. Num dos mais geniais contos de Guimarães Rosa ("Cara-De-Bronze") ele põe, na voz de um vaqueiro, uma frase enigmática: "A noiva tem os olhos gázeos", que acaba por ser uma variante de garço. Mas o conto é muito mais do que isso...
ResponderEliminarTambém gostava muito de ver a exposição. As pinturas são bonitas.
ResponderEliminarPortalegre é relativamente perto e só lá fui uma vez ou duas, há muitos anos.
Fizemos uma visita à Escola do Magistério, na época em que eu andava também aqui na Escola.
Gostei muito do seu post.
Um beijinho
Gostei muito desta pequena exposição. Muito bonitas estas pinturas.
ResponderEliminarGostei muito, tens uma família encantadora. E os teus olhos de que cor são?
ResponderEliminarGosto especialmente do primeiro quadro.
Tenho em casa um quadro duma tia que morreu tuberculosa com 20 anos, linda. É para mim um tesoro, não tem preço.
Beijinhos
Boas e bonitas recordações... Existem pessoas que nos marcam, quer sejam familiares ou não. Pessoas que admiramos, que idolatramos e jamais esquecemos.
ResponderEliminarDeve ser uma interessante exposição com bonitos quadros.
Um beijinho.
Adorei ler este post, muito mais completo que o meu sobre a exposição, eheheh
ResponderEliminarBelo Falcão Lunar, só faltas-te tu.
Conheci as tuas irmãs, sabias??? Gostei da D. Branca, mas a D. Mamé é como tu, eheheh
Lindas!!!
Beijo
Não fui à exposição... Mas partilho a ternura por Portalegre e a certeza, das únicas que tenho, de que há Pessoas que nos determinam!
ResponderEliminarBeijinhos