"Fronteira Branca", de Matti Rönkä
pintura do finlandês Akseli-Gallen-Kallela (National Gallery, London,1905)
O livro de Mätti Rönkä (1) foi publicado em 2002, em Helsinki. Leio-o na edição francesa, L'Archipel, publicada em 2011. Uma boa ideia a seguir em Portugal. Deixo a sugestão...
Mar Báltico, rio Svir
Tallin, capital da Estónia
S. Petersburgo e o rio Neva
O herói-narrador é um investigador que tem vários trabalhos
diversos, ligações a fileiras menos “legais”, que costeia a “malavita” de
Helsinki e arredores. Nasceu na Rússia, para onde os pais - finlandeses- tinham emigrado. Ali cresce e vive, faz a tropa, trabalha no KGB... até um dia fugir para a Finlândia.
Kärppä tem informadores como Anatoli Stepachine, ex-ginasta russo,
depois atleta de circo, depois jongleur e palhaço...
Ou Ruchkov, que por vezes é seu “partner” em certos negócios. Ou Karpov, que mantém ligações com a Rússia, na Carélia.
É contratado por Aarne Larsson, para descobrir o paradeiro de Sirje, jovem
imigrande da Estónia, casada com Aarne, rico livreiro finlandês, e desaparecida
de casa, numa tarde de nevoeiro.
Sirje tem uma particularidade "perigosa": é irmã de Jaak Lillepuu, traficante de droga e coisas várias, pessoa perigosa, em todos os arredores do Mar Báltico .
“Um homem mau, muito mau”, diz um dos contactos de Viktor.
Kärppä percorre Helsinki, e nós com ele, a investigação leva-o pela
cidade, passando pelos bairros com nomes estranhos Kikiselmi ou Hakaniemi, ou Kisahalli e Kallio.
Ou pela rua Alpikattu, ou pela Pakila que num lado é a Pakila Dólares e do outro a Pakila Rublos, conforme quem lá vive.
Ou pela rua Alpikattu, ou pela Pakila que num lado é a Pakila Dólares e do outro a Pakila Rublos, conforme quem lá vive.
Akseli-Gallen-Kallela (1906)
Passeamos pelos ginásios, casas de jogo, encontramos Ruchkov,
o russo, para quem Viktor costuma trabalha às vezes, e que é também seu
informador pois conhece toda a realidade underground dos dois países.
Um fio de nostalgia da Rússia perdida percorre o livro, nas
recordações do herói - que se sente dividido. Os sentimentos, o calor humano, a
afectividade são do seu lado russo que, meio finlandês, se sente diferente.
“Gostava de poder voltar à casa da minha infância, que a
minha mãe fosse professora e que o nosso apartamento fosse mobilado como os que
via na televisão”, confessa auma amiga finlandesa.
Paisagem russa, Zinaida Serebriakova
"Não me digas que ainda tens uma mota Volga ou uma Oural! É
isso a essência da nostalgia: queremos reproduzir as coisas tal como eram, ou o que achávamos importantes quando éramos crianças...”, responde-lhe ela.
Mas não nos enganemos. Viktor não é um saudoso da União
Soviética: “Essa época em que tinha o meu cartão de adesão do Komsol (2) não me
faz falta nenhuma!”
Faz-lhe falta talvez a
sensibilidade e a solidariedade das gentes russas. Isso sim.
Parque em Helsinki
A pobreza dessa zona fronteiriça fino-russa com as suas
diferenças abissais que mostram a diferença enorme de nível de vida entre os
dois países, ainda hoje o confrange.
Mas o comboio que chega de São Petersburgo para Konvola, perto, chama-se “Repin”, como o grande pintor.
Talvez isso também lhe aqueça o coração.
“O que é moral?”, interroga-se Käppä. “Onde fica a fronteira entre
o bem e o mal?”
“Quem trafica mas não agride, nem rouba ninguém, não será
menos culpado do quem é rico e rouba e nunca ajuda ninguém, nem nunca é julgado?”
O meio onde se move é o dos pequenos tráficos, dos contrabandistas de produtos “anódinos” que ele desculpa, como por vezes revela ao comissário da Polícia, o elegante comissário Kohonen.
“Nada de drogas pesadas, nem de armas”...
Akseli-Gallen-Kallela, Winter
E o suspense mantém-se do princípio ao fim...
É conhecido com o nickname de “a voz da Finlândia” devido ao sucesso como apresentador.
(2) “Komsol” era a organização da juventude dependente do partido comunista da URSS.
http://brasilfinlandia.blogspot.pt/2009/02/fotos-neve-em-helsinki-fev2008_3842.html Foi neste blog brasileiro, muito interessante, que encontrei as fotografias de Helsinki que utilizei.
As imagens são lindíssimas. Espero que vão traduzir o livro para português...
ResponderEliminarNão conhecia.
ResponderEliminarAs fotografias são lindas bem como a pintura escolhida. Boas leituras!
Irei procurar.
Obrigada, um beijinho! :))
Ana