quinta-feira, 20 de junho de 2013

Acontece todos os dias, aqui ao lado...


Ou...o horror dos dias de hoje! Diabólicos!

Circo de Pequim: o Diabo!


Dei por mim irritada, na viagem. 

Ia tranquila, até Coimbra, mas abri o jornal e descobri uma vez mais como o mundo é cruel, ingrato, perverso.

Lembrei-me de um filme belga, filme "culte", que fui ver com a minha filha e nunca esqueci:

Chamava-se "C’est arrive près de chez vous” e era terrível. Foi realizado, em 1992, por  de André Bronzel, Rémy Belvaux e Benoit Poelvoorde.


Documentário a preto e branco que é uma sátira negra sobre a realidade da indiferença: um ladrãozeco assassino, sem piedade, assalta velhinhas e pessoas fragilizadas, e ninguém á volta se apercebe disso, porque nem querem olhar...
Benoit Poelvoorde, em 2004, presidiu o Festival de Cannes

Em português o título é “Manual de instruções para crimes banais.” E, em inglês, ainda pior: “Man bites dog” ("O homem morde o cão”).

Às vezes confesso que me esqueço que é assim, cheia do meu optimismo, “à maneira” do Candide, do Voltaire, e das minhas ideias de utopias para todas as ocasiões...

Nisso tudo, acredito! Mas será mesmo assim?

Ou resta-nos, apenas, ficar de lado a ver, observar, a fixar no papel ou na película o momento, a luz, o instante que já passou, sem agir?

Adiar, apenas, o tempo de morrer?

Apenas, ir comprar um novo livro? 

Apenas, ler um poema?

E ouço Verlaine dizer-me ao ouvido...

“Le ciel est pardessus le toit
Si bleu, si calme,
Un arbre pardessus le toit
Berce sa palme...”

Continuo a desfiar os pensamento, enquanto o comboio segue viagem e, lá fora, a paisagem corre, desfilam os campos e os choupais e os canaviais, à beira do rio Mondego. 

Sucedem-se as manchas escuras das árvores, enormes, e, paradas,  as estações abandonadas onde o comboio não para, e onde a erva cresce, e seca.

Tudo parece em paz, simples como no poema de Verlaine...

Mas a vida bate à porta, a desinquietar-nos, a todo o momento!

Notícias e mais notícias! Violências, aluviões, rios que galgam as cidades que se descobrem indefesas, guerras fratricidas, guerras “normais”, espiões, um nunca acabar de desgraças e calamidades, naturais umas, desnaturadas as outras.


Que me importa que a CIA espie o mundo? Não se espiaram todos os países uma vida inteira? 


... Se não, não tinham existido os maravilhosos livros (e filmes) de espionagem de Jan Fleming, de John le Carré ou de Daniel Silva! 



Ou "O Terceiro Homem" de Graham Greene e tantos dos seus livros...




Nem o  James Bond ou o Gabriel Allon, e Smiley mais a sua gente: heróis inesquecíveis...

Não fomos sempre espiados por alguém? Não fomos, e somos,  sempre, os polícias de alguém?


Quero lá saber que eles se espiem e nos espiem! São tudo hipocrisias, porque quem se insurge, protesta, dizendo defender a “liberdade” e a democracia... sabe-se lá se não estarão também já a espiar...ou a preparar-se para isso?
o escritor Ian Fleming

A desculpa da luta anti-terrorista levou a muita coisa horrível, no campo da perda das liberdades adquiridas com tanta luta...
Mas o terrorismo levou ainda a coisas muito piores, entre elas essa mesma “desculpa” a que os governos tiveram direito : a existência e o perigo real do terrorismo.

Porque esse perigo é real! E há muito tempo! E recordo a "matança de Munique", durante os Jogos Olímpicos de 1972.

Munique (1972), um atleta israelita que vai ser assassinado...

Madrid, 2004

Noruega, 2011

E o resto?

Interessa-me o que se passa à minha porta, na minha terra, no meu mundo. Egoísmo? Inconsciência total? Não, porque sei que o nosso pequeno cosmos é parte do cosmos total e todos os problemas estão ligados entre si.

Mas que me importa ler nos jornais que se matam egípcios, na Praça Tarikh, ou que morrem turcos na Praça Taksim

Que se matam entre irmãos...

Alguém se importa verdadeiramente? Alguém faz um gesto - hoje- que não seja a pensar no próprio interesse?

 Se o petróleo que por lá existe vale o “empreendimento” de alguns estados, ou a frase derrotista: “quero lá saber dos turcos, é um problema deles, que se arranjem...”

Tristes tempos em que "o outro" não conta nada... 

E eu também não quero saber?!

Penso que “eu” não posso fazer nada, (e acho que faria, se pudesse!) se isso servisse de ajuda para alguma coisa constructiva, verdadeira...

Quem quer ajudar quem?, quem quer ser ajudado?, e para quê? 

Nojenta a hipocrisia dos governos e dos que “opinam”, sem saber o que dizem.

No Iraque o que passou, passou; como, na Líbia, o que passou, passou e foi esquecido.  Como o que está a acontecer na Síria, vai passar. 

A que preço? Com que riscos?

E, na Turquia, a Praça Taksim vai ter os seus mortos e, depois, daqui a uns meses, quem os lembra? 

E quem os lembrar, o que faz?

Mas, aqui ao pé de mim, eu posso abrir a boca e fazer alguma coisa!

"C'est arrivé près de chez vous!", diz o filme.  Aconteceu aqui ao lado!

Passa-se na porta ao lado, e eu quero interessar-me em saber que pessoas iguais a mim, algumas conheço e outras não, estão sem trabalho, estão sem dinheiro, foram corridos das casas porque não pagavam a renda, ou o empréstimo contraído noutros tempos melhores.



Queixamo-nos das greves, mas há professores que não têm trabalho, há professores que mudam de poiso todos os anos quando arranjam trabalho, há professores que ficam a 100 kms de distância das famílias. 

Há professores que, se forem trabalhar as tais 40 horas semanais, na escola,  que o governo lhes quer agora "impingir", não terão tempo para viver. 

As greves fazem-se sempre com consciência - quem as faz, ou quem as não faz : ambos no seu direito! Porque não é uma brincadeira, nem é ir passear até ao Rossio!


E depois vem o resto das coisas que se passam ao pé de nós: pessoas sem casa, desempregados, sem dinheiro, sem saber o que fazer à vida e, até, aos móveis comprados com amor, com dificuldade, criando um espaço agradável para viver.




Resta-lhes vender a mobília ao desbarato? E quem os compra? Sim, quem os quer, se não forem uma pechincha?


Ou mandá-los para casa dos pais, à espera de melhores dias? Bem, eles próprios já estão em casa dos pais, outra vez, ou dos irmãos, agora com a mulher e os filhos, à espera dos tais melhores dias. 

Ali, pelo menos, têm um tecto e comida... Os que têm família.

Isto é vida??

"C'est arrivé près de chez vous"...


2 comentários:

  1. Existe uma grande indiferença nas pessoas. Vivemos todos muito a nossa vidinha, e não nos preocupamos com os dramas dos vizinhos. Só nos tocamos, quando somos vítimas dos mesmos problemas.
    Mas as coisas se calhar não tinham que ser assim...
    Somos todos demasiado egoístas.

    Não vejo como é que alguma coisa pode começar a mudar. Quando alguma pessoa é um pouco diferente e não se deixa comandar pelo dinheiro, pelo "ter", não é aceite, não é do "grupo". Não é fácil ser diferente.

    As mentalidades precisam mudar muito.
    O mundo podia ser muito mais bonito e perfeito...

    Gostei muito do seu post.
    Um beijinho grande

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  2. Tens toda a razão, Isabel! Não é nada fácil mudar as coisas, a tendência é muitas vezes para "não olhar nem ver" o que se passa ao lado!
    Tem que haver como dizes uma reforma das mentalidades! E não ter medo de sermos diferentes, claro: lutar contra o "ter" que não serve para nada se não nos enriquecermos por dentro!^
    UM beijinho e bom finde (como diz a Maria)

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