domingo, 16 de junho de 2013

Coimbra e Camões e a beleza do poema e da Quinta das Lágrimas...




E ao ver a beleza, a poesia da natureza da Quinta das Lágrimas, pensei nos versos do nosso grande poeta.



"Estavas, linda Inês, posta em sossego
de teus anos colhendo doce fruito
naquele engano de alma, ledo e cego,
que a fortuna não deixa durar muito”
(...)


Até aqui os versos ainda foram de memória, agora fui buscar "Os Lusíadas" que guardo sempre por perto porque me entretenho a lê-los (de vontade, sem obrigação) aos bocadinhos. 

Porque é um livro que se tem de amar e “ir lendo”, ao longo da vida, com uma compreensão sempre diferente, mas com um prazer (para mim) sempre igual.

Por curiosidade, estudei Os Lusíadas como professor Reis Pereira/o poeta José Régio. Confesso que não me impressionou especialmente a parte histórica, mas a verdade é que senti a beleza do ritmo dos versos e “fixei” as figuras mitológicas.

As lutas dos deuses, o amor e o ódio, Vénus e Baco, a fúria  da natureza que eles criavam, os perigos aventurosos pelos quais passaram os marinheiros - foi o que,  nesses anos longínquos, mais me interessou. 

Boticelli, Nascimento de Vénus

Dividir as orações não me deixou grande marca negativa. Talvez pela saudade que sinto sempre desse meu professor poeta que foi um grande amigo.

Este livro que aqui tenho foi-me oferecido por uma aluna, Ana Bárbara; a quem dei em tempos umas lições, nos anos 90, antes de ir para São Tomé.
Voltando à Quinta das Lágrimas e ao poema de Camões...

um recanto da Quinta das Lágrimas




Continuando (agora a copiar pelo livro)...Maravilhosos versos, maravilhoso poema! Maravilhosa visita.



“Tu só, tu, puro amor, com força crua,
Que os corações  humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
 como se fora pérfida inimiga.” (118)



Está a tragédia a “preparar-se”...



(...) nos saudosos campos do Mondego,
de teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.” 
(Canto IV, 120)


....


“Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando de teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam.
E quanto, em fim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.” 
(Canto IV, 121)



Mas “ a vida meteu-se ao meio/ e o que teve de vir, veio”, como diz José Régio num belo poema.
a pré-rafaelita Sophie Anderson, Elinora


E o Rei intervém, decidindo matar Inês...


(...) “crendo que c’o sangue só da morte indina/ matar do firme amor o fogo aceso”/(...) o velho pai sesudo, que respeita / o murmurar do povo (...)/ Tirar Inês ao mundo determina,/ por lhe tirar o filho que tem preso (...)”


E a tragédia acontece. Vêm os homens de armas do Rei e os seus punhais...






Na Quinta (hoje chamada Quinta das Lágrimas) onde a Princesa vivera, com os filhos que já tinham, o choro não para e as lágrimas dela, misturadas às das “filhas do Mondego”, vão-se transformar em fontes e em lagos...


o pré-rafaelita Edward Burne-Jones, Despedida do Cavaleiro


 Edward Burne-Jones, A bela adormecida


Lenda, ou verdade parcial, que importa? Houve uma Princesa que se chamava Inês, e o Príncipe, que se chamava Pedro, houve o amor entre eles e a bela quinta onde o Príncipe a vinha visitar.




Amor contrariado, por razões de estado, e houve o Rei Afonso que decidiu chamar o filho à razão, matando Inês de Castro! E as "filhas do Mondego" vão, por longo tempo chorar a bela Inês... 


As lágrimas formam uma fonte e, dentro do tanque, as algas vermelhas lembram o sangue daquela morte cruel.




quadro do pré-rafaelita John Waterhouse, Ofélia






Aqui vos deixo a minha ilustração de um passeio lindo e de uma visita inesquecível a um lugar belíssimo! 

Com o meu telemóvel...inseparável, claro, para poder "captar" tudo!



(Os lusíadas, edição organizada por António José  Saraiva, Livraria Figueirinhas/Porto, ed. de 1978)

5 comentários:

  1. Que post mais lindo!
    A beleza desse magnífico espaço está bem documentado com as suas fotos do "amigo inseparável- o telemóvel".
    Ficamos com imensa vontade de também poder passear no meio de toda essa beleza.

    É tudo lindo!

    Adorei a foto dos amigos na varanda, no meio das flores (lírios?)

    Um beijinho grande .

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  2. Ó Isabel, tinha gostado tanto de te levar! Sei que já conheces... Fiquei fascinada, comovida até...
    beijinhos e obrigada, minha fiel leitora!

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    1. E eu adoraria ter lá estado!

      Eu é que agradeço poder ler os seus post. Tenho aprendido imenso consigo.

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  3. A beleza das Lágrimas foi captada no seu essencial.
    Muita sensibilidade é aqui revelada.
    Gostei muito das fotografias, das telas escolhidas, o romantismo conseguiu ir à essência medieval.
    Uma trágica história de amor.
    Percebo que gostou, Maria João, o que muito me apraz.
    Beijinho. :))

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  4. Lindo o post e fantástico sempre recordar este episódio de Os Lusíadas!

    Beijinhos

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