E ao ver a
beleza, a poesia da natureza da Quinta das Lágrimas, pensei nos versos do nosso
grande poeta.
"Estavas, linda Inês, posta em sossego
de teus
anos colhendo doce fruito
naquele engano
de alma, ledo e cego,
que a
fortuna não deixa durar muito”
(...)
Até aqui os versos ainda foram de memória, agora fui buscar "Os Lusíadas" que guardo sempre por perto porque me entretenho a lê-los (de vontade, sem obrigação) aos bocadinhos.
Porque é um livro que se tem de amar e “ir lendo”, ao longo da
vida, com uma compreensão sempre diferente, mas com um prazer (para mim) sempre
igual.
Por curiosidade,
estudei Os Lusíadas como professor Reis Pereira/o poeta José Régio. Confesso que não me impressionou
especialmente a parte histórica, mas a verdade é que senti a beleza do ritmo dos versos e “fixei”
as figuras mitológicas.
As lutas dos deuses, o amor e o ódio, Vénus e Baco, a fúria da natureza que eles criavam, os perigos aventurosos
pelos quais passaram os marinheiros - foi o que, nesses anos longínquos, mais me
interessou.
Boticelli, Nascimento de Vénus
Dividir as orações não me deixou grande marca negativa. Talvez pela
saudade que sinto sempre desse meu professor poeta que foi um grande amigo.
Este livro que aqui tenho foi-me
oferecido por uma aluna, Ana Bárbara; a quem dei em tempos umas lições, nos
anos 90, antes de ir para São Tomé.
Voltando à Quinta das Lágrimas e ao poema de Camões...
um recanto da Quinta das Lágrimas
Continuando
(agora a copiar pelo livro)... Maravilhosos versos, maravilhoso poema! Maravilhosa visita.
“Tu só, tu,
puro amor, com força crua,
Que os
corações humanos tanto obriga,
Deste causa
à molesta morte sua,
como se fora pérfida inimiga.” (118)
Está a
tragédia a “preparar-se”...
(...) nos
saudosos campos do Mondego,
de teus
fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes
insinando e às ervinhas
O nome que
no peito escrito tinhas.”
(Canto IV, 120)
....
“Do teu
Príncipe ali te respondiam
As
lembranças que na alma lhe moravam
Que sempre
ante seus olhos te traziam,
Quando de
teus fermosos se apartavam;
De noite,
em doces sonhos que mentiam,
De dia, em
pensamentos que voavam.
E quanto,
em fim, cuidava e quanto via
Eram tudo
memórias de alegria.”
(Canto IV, 121)
Mas “ a
vida meteu-se ao meio/ e o que teve de vir, veio”, como diz José Régio num belo
poema.
a pré-rafaelita Sophie Anderson, Elinora
E o Rei
intervém, decidindo matar Inês...
(...)
“crendo que c’o sangue só da morte indina/ matar do firme amor o fogo aceso”/(...)
o velho pai sesudo, que respeita / o murmurar do povo (...)/ Tirar Inês ao mundo
determina,/ por lhe tirar o filho que tem preso (...)”
E a tragédia
acontece. Vêm os homens de armas do Rei e os seus punhais...
Na Quinta
(hoje chamada Quinta das Lágrimas) onde a Princesa vivera, com os filhos que já
tinham, o choro não para e as lágrimas dela, misturadas às das “filhas do
Mondego”, vão-se transformar em fontes e em lagos...
o pré-rafaelita Edward Burne-Jones, Despedida do Cavaleiro
Edward Burne-Jones, A bela adormecida
Lenda, ou
verdade parcial, que importa? Houve uma Princesa que se chamava Inês, e o
Príncipe, que se chamava Pedro, houve o amor entre eles e a bela quinta onde o Príncipe a vinha visitar.
Amor contrariado, por razões de estado, e houve o Rei Afonso
que decidiu chamar o filho à razão, matando Inês de Castro! E as "filhas do Mondego" vão, por longo tempo chorar a bela Inês...
As lágrimas formam uma fonte e, dentro do tanque, as algas vermelhas lembram o sangue daquela morte cruel.
quadro do pré-rafaelita John Waterhouse, Ofélia
Aqui vos deixo a minha ilustração de um passeio lindo e de uma visita inesquecível a um lugar belíssimo!
Com o meu telemóvel...inseparável, claro, para poder "captar" tudo!
(Os lusíadas, edição organizada por António José Saraiva, Livraria Figueirinhas/Porto, ed. de 1978)
Que post mais lindo!
ResponderEliminarA beleza desse magnífico espaço está bem documentado com as suas fotos do "amigo inseparável- o telemóvel".
Ficamos com imensa vontade de também poder passear no meio de toda essa beleza.
É tudo lindo!
Adorei a foto dos amigos na varanda, no meio das flores (lírios?)
Um beijinho grande .
Ó Isabel, tinha gostado tanto de te levar! Sei que já conheces... Fiquei fascinada, comovida até...
ResponderEliminarbeijinhos e obrigada, minha fiel leitora!
E eu adoraria ter lá estado!
EliminarEu é que agradeço poder ler os seus post. Tenho aprendido imenso consigo.
A beleza das Lágrimas foi captada no seu essencial.
ResponderEliminarMuita sensibilidade é aqui revelada.
Gostei muito das fotografias, das telas escolhidas, o romantismo conseguiu ir à essência medieval.
Uma trágica história de amor.
Percebo que gostou, Maria João, o que muito me apraz.
Beijinho. :))
Lindo o post e fantástico sempre recordar este episódio de Os Lusíadas!
ResponderEliminarBeijinhos