terça-feira, 11 de junho de 2013

Régio e o "primeiro retrato simpático de rapariga" que o autor prometera a uma boa Amiga...



À boa amiga a quem mentalmente prometi o meu primeiro retrato simpático de rapariga, diz José Régio na "dedicatória" de "Davam Grandes Passeios aos Domingos"


desenho de Júlio, Menina à janela 

Portalegre numa manhã de nevoeiro, (R.A.M.)


A personagem da novela, a tal "rapariga simpática" é a rapariga órfã, que, vinda do Norte, é recolhida por uma tia, em Portalegre. 

Capa da 1ª edição da novela

Tímida e insegura, romântica e sonhadora, provinciana, naquela outra cidade provinciana também, que, nos anos 40, (o livro sai na Inquérito, em 1941), Portalegre, que se revela ser uma cidade retrógrada no que diz respeito à condição da mulher. 

óleo de Miguel Barrias, Corredoura

O machismo predomina sobretudo se “ela” é uma jovem sem dinheiro, recolhida pela família e a sentir-se insegura, pela sua situação.

Os grandes partidos atraem as grandes ou médias fortunas, os casamentos fazem-se entre as famílias abastadas. Régio é muito crítico sobretudo das figuras dos jovens endinheirados, incultos, desinteressantes, que bebem, esquecem as boas maneiras  e querem "usar" as meninas ingénuas... Como o abominável Chico Paleiros!



Pobre, sem fortuna, quem a recebe bem é a velha Tia Vitória que muito sabe da vida e muito bem conhece a irmã que recolheu Rosa Maria. Chama-se, pois, Rosa Maria a heroína.

flores da minha varanda

Amiet, menina com flores


Não vou contar a história porque quero que a leiam! É uma novelinha cheia de intimidade, de amor, de observação, de crítica.
Que nos pode chocar pela insensibilidade de alguns, frente à sensibilidade desta menina...


E Portalegre é uma bela cidade, uma personagem que “envolve” e embala na sua beleza, e na beleza do seus passeios,  a dor de quem sofre, naquela Primavera que rebenta colorida por toda a parte, com as flores, os chilreios dos pássaros.


Perto do fim da história, leio e comovo-me sempre:


Poderia agora chorar melhor (...) Chorar...por tudo e por nada. Mas os seus olhos viam a imensidão do céu e a amplidão da paisagem. A tarde ia declinando, lenta e muito doce, toda cheia dos chilridos e voos das andorinhas... 
Andorinhas, Isabel V.


Portalegre ao pôr do sol, foto de J.F.


Portalegre, jardim e Coreto (MJF)


Os seus olhos procuravam o Sanatório, o pinhalzinho logo abaixo, a linha das serras longínquas, a ermida branca e vermelha de Sant’ Ana: Eram amizades dos seus olhos. Belos passeios que tem Portalegre, para dar aos domingos...! “Davam grandes passeios aos domingos...”
Miguel Barrias, Corredoura


Este quadro de Miguel Barrias, que representa a Corredoura de Portalegre, inevitavelmente, lembra-me este livro! 

Aqui têm uma boa leitura! Eu vou até Coimbra e já volto!


4 comentários:

  1. Adorei o post!
    Sempre me surpreende com coisas belas!
    Ainda não li o conto, mas tenho-o. Estou ansiosa que cheguem as férias para poder finalmente ler um pouco. Este ano foi muito difícil. Pouco li.

    Então até já!
    Boa viagem!
    Depois conte-nos...
    Um beijinho grande!

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  2. Boa viagem e bom passeio. Li essa novela várias vezes e sempre me encanta!
    Beijinhos

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  3. Comovi-me com as belas imagens e palavras. Adorei ler esta novela. :)
    Beijinho grato.

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  4. Coimbra também tem lindos passeios, todos os lugares têm lindos passeios, em todos se põe o sol, há alguma planta e cantam pássaros. A beleza está no interior de quem olha, como já dissémos tantas vezes. Espero que tenha valido a pena sair da rotina, nem que seja só para voltar a ela com mais carinho.
    Aqui te espero, com uma primavera radiante.
    Beijinho

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