À boa amiga a quem
mentalmente prometi o meu primeiro retrato simpático de rapariga, diz José Régio na "dedicatória" de "Davam Grandes Passeios aos Domingos"
desenho de Júlio, Menina à janela
Portalegre numa manhã de nevoeiro, (R.A.M.)
A personagem da novela, a tal "rapariga simpática" é a rapariga órfã, que, vinda do Norte, é recolhida por uma tia,
em Portalegre.
Capa da 1ª edição da novela
Tímida e insegura, romântica e sonhadora, provinciana, naquela outra cidade provinciana
também, que, nos anos 40, (o livro sai na Inquérito, em 1941), Portalegre, que se revela ser uma cidade retrógrada no que diz respeito à condição da mulher.
óleo de Miguel Barrias, Corredoura
O machismo
predomina sobretudo se “ela” é uma jovem sem dinheiro, recolhida pela família e
a sentir-se insegura, pela sua situação.
Os grandes partidos
atraem as grandes ou médias fortunas, os casamentos fazem-se entre as famílias
abastadas. Régio é muito crítico sobretudo das figuras dos jovens endinheirados, incultos, desinteressantes, que bebem, esquecem as boas maneiras e querem "usar" as meninas ingénuas... Como o abominável Chico Paleiros!
Pobre, sem fortuna,
quem a recebe bem é a velha Tia Vitória que muito sabe da vida e muito bem
conhece a irmã que recolheu Rosa Maria. Chama-se, pois, Rosa Maria a heroína.
flores da minha varanda
Amiet, menina com flores
Não vou contar a
história porque quero que a leiam! É uma novelinha cheia de intimidade, de
amor, de observação, de crítica.
Que nos pode chocar pela insensibilidade de
alguns, frente à sensibilidade desta menina...
E Portalegre é uma
bela cidade, uma personagem que “envolve” e embala na sua beleza, e na beleza
do seus passeios, a dor de quem sofre, naquela Primavera que rebenta colorida por toda a parte, com as flores, os chilreios dos pássaros.
Perto do fim da
história, leio e comovo-me sempre:
“Poderia agora chorar
melhor (...) Chorar...por tudo e por nada. Mas os seus olhos viam a imensidão
do céu e a amplidão da paisagem. A tarde ia declinando, lenta e muito doce,
toda cheia dos chilridos e voos das andorinhas...
Andorinhas, Isabel V.
Portalegre ao pôr do sol, foto de J.F.
Portalegre, jardim e Coreto (MJF)
Os seus olhos procuravam o
Sanatório, o pinhalzinho logo abaixo, a linha das serras longínquas, a ermida
branca e vermelha de Sant’ Ana: Eram amizades dos seus olhos. Belos passeios
que tem Portalegre, para dar aos domingos...! “Davam grandes passeios aos
domingos...”
Miguel Barrias, Corredoura
Este quadro de Miguel Barrias, que representa a Corredoura de Portalegre, inevitavelmente, lembra-me este livro!
Aqui têm uma boa leitura! Eu vou até Coimbra e já volto!
Adorei o post!
ResponderEliminarSempre me surpreende com coisas belas!
Ainda não li o conto, mas tenho-o. Estou ansiosa que cheguem as férias para poder finalmente ler um pouco. Este ano foi muito difícil. Pouco li.
Então até já!
Boa viagem!
Depois conte-nos...
Um beijinho grande!
Boa viagem e bom passeio. Li essa novela várias vezes e sempre me encanta!
ResponderEliminarBeijinhos
Comovi-me com as belas imagens e palavras. Adorei ler esta novela. :)
ResponderEliminarBeijinho grato.
Coimbra também tem lindos passeios, todos os lugares têm lindos passeios, em todos se põe o sol, há alguma planta e cantam pássaros. A beleza está no interior de quem olha, como já dissémos tantas vezes. Espero que tenha valido a pena sair da rotina, nem que seja só para voltar a ela com mais carinho.
ResponderEliminarAqui te espero, com uma primavera radiante.
Beijinho