Conta
Patrick Modiano, no seu livro ‘Dora Bruder’, a história de uma adolescente judia. História real. Acontecida durante a ocupação nazi de Paris.
Dora Bruder tem 15 anos e desaparece no dia 14 de Dezembro de 1941. Possivelmente, como diz o autor, não quisera voltar para o internato, onde estava inscrita desde o mês de Maio. Quem sabe se para estar "protegida"? Desde 1940 que os alemães ocupavam Paris.
O pai, judeu austríaco, refugiado em França, vai à polícia participar a 'fuga', apenas no dia 31.
Pouco tempo depois, o pai, Ernest Bruder, legionário, mutilado de guerra, é preso: porque judeu.
Dora erra por Paris alguns meses. Volta a casa em 17 de Abril de 1942. Volta a fugir. Um dia é presa e enviada para a Caserna de Tournelles para onde eram levados os judeus que 'desobedeciam' às ordens da autoridade: não usar a estrela amarela, passar para a zona livre eram motivos.
Poucos meses depois, a 13 de Agosto de 1942 é levada para o Campo de Drancy.
Daí, é deportada para Auschwitz. De onde não voltou...
O que resta de Dora? Aqueles dias de "liberdade" em que andou "perdida"? O que não onseguiram tirar-lhe.
Como diz Modiano, nunca ninguém saberá o que ela fez durante o tempo que andou fugida: é o seu segredo que nem os franceses colaboradores nem os alemães conseguiram saber.
O escritor vai em busca desse 'tempo perdido' e consegue trazer-nos a figurinha desaparecida e o ambiente em que se movia. E outras figuras igualmente desaparecidas têm o seu momento de brilho, recuperadas pelo poder de recriação do autor.
Em 1997, sai o livro de Patrick Modiano, "Dora Bruder", um livro corajoso num momento em que "gostar" dos judeus "deixara de estar na moda"...
E quando o facto de trazer uma kippa na cabeça pode ser "um crime" a "punir" - ou provocar um "assalto". Em tempos idos, esses mesmos judeus eram obrigados a trazer uma estrela amarela, cozida na roupa, para não serem confundidos com os 'arianos.'
Escreve Modiano, a páginas 102 do romance:
O pai, judeu austríaco, refugiado em França, vai à polícia participar a 'fuga', apenas no dia 31.
Pouco tempo depois, o pai, Ernest Bruder, legionário, mutilado de guerra, é preso: porque judeu.
Poucos meses depois, a 13 de Agosto de 1942 é levada para o Campo de Drancy.
Campo de Drancy
em Auschwitz, outras Doras
Daí, é deportada para Auschwitz. De onde não voltou...
O que resta de Dora? Aqueles dias de "liberdade" em que andou "perdida"? O que não onseguiram tirar-lhe.
Como diz Modiano, nunca ninguém saberá o que ela fez durante o tempo que andou fugida: é o seu segredo que nem os franceses colaboradores nem os alemães conseguiram saber.
Soldados alemães, em Paris (1940)
Dora Bruder, uma ilustração
E quando o facto de trazer uma kippa na cabeça pode ser "um crime" a "punir" - ou provocar um "assalto". Em tempos idos, esses mesmos judeus eram obrigados a trazer uma estrela amarela, cozida na roupa, para não serem confundidos com os 'arianos.'
Escreve Modiano, a páginas 102 do romance:
“No
dia 7 de Junho de 1942 os judeus passaram a ter de usar uma estrela amarela.”
“(...) Impuseram
a estrela amarela a todas as crianças com nomes polacos, romenos, russos, e que
eram tão parisienses que se confundiam com as fachadas dos prédios e dos
passeios e com os infinitos tons do cinzento que só existem em Paris. Como Dora
Bruder elas falavam todas o ‘argot’ com o mesmo acento parisiense 'cheio de uma ternura triste' de que falava
Jean Genet." (pág.138)
Nessa
mesma manhã de 7 de Junho de 1942, em que as forças da ocupação alemã decretavam
o uso obrigatório da estrela amarela, surge um movimento espontâneo de solidariedade
inesperado: um grupo de mulheres decide usar a estrela amarela. Acabam todas na
prisão, com os judeus...
“Aquelas a quem os alemães chamavam 'amigas dos judeus' eram uma dezena de Francesas ‘arianas’ que tiveram a coragem de,
em Junho, no primeiro dia em que os judeus teriam de usar a estrela amarela,
usá-la também. Usaram-na num modo fantasioso e insolente para
com a autoridade : uma pendurou-a ao pescoço do cão, outra bordou na
estrela a palavra ‘PAPOU’ e outra ‘JENNY’.
Outra pendurou 8 estrelas no cinto cada uma
com uma letra da palavra ‘VICTOIRE’ . Foram todas presas e levadas para o comissariado
mais próximo. (…) Depois, para a Caserna de Tourelles com os judeus. Depois,
ainda, para o Campo de Drancy."
judeus deportados, em 1944
"Estas ‘amigas dos judeus’ exerciam estas
profissões: dactilógrafas, empregadas de papelarias. Vendedoras de jornais.
Mulheres a dias. Empregadas dos CTT. Estudantes.” (pág. 140)
tulipas amarelas...para essas grandes Mulheres!
Hoje
quero pôr no meu blog uma estrela amarela!
(*)
Drancy: o Campo onde estiveram concentrados os judeus de França e de onde foram deportados para outros campos - de exterminação- na Alemanha, entre os quais Auschwitz.
(**) kippa ou Kipá em hebraico significa 'cobertura'. São os chapéus, calotas, que os judeus religiosos usam como símbolo da sua religião, símbolo de temor a Deus que está por cima...
Já comprei dois livros do autor , mas este está esgotado. Espero que o reeditem. Fiquei com imensa pena de não haver.
ResponderEliminarUm beijinho e continuação de boa semana:)
Talvez apareçam outras edições...É o Prémio Nobel deste ano...
ResponderEliminarUm beijinho e obrigada por vires sempre falar comigo!
Eu é que lhe agradeço, porque tenho aprendido tanto com a Maria João e o seu blogue:)
EliminarUm beijinho:)
No seu espaço
ResponderEliminarsempre memórias vivas
Bj
Ainda não comprei nada deste autor mas tenho curiosidade.
ResponderEliminarUma proposta interessante, a estrela é das coisas mais odiosas que uns poucos seres humanos inventaram.
Beijinho.
Vejo que não tens parado de escrever, desde a última vez que vim por aqui. Eu entretanto escrevi 5 linhas, não te roubo muito tempo...
ResponderEliminarEstou totalmente de acordo em que não é preciso quase nada para se saber reagir com o coração e com a razão e ser-se solidário com quem sofre uma injustiça. É o que procuro fazer desde a minha imparcialidade, pois não participei nem participo em nenhum bando, felizmente para mim!
Toda a obra de Modiano, dizem, tem as suas raízes nos próprios conflictos íntimos, que sofreu em primeiríssima pessoa. Depois o tempo passa e a boa literatura sempre fica, mas as circunstâncias históricas também mudam, às vezes.
Sempre respeitando as tuas opiniões, mando-te um beijo muito amigo
Um tema sempre muito actual.
ResponderEliminarUm livro a ler muito em breve e penso ser o único que tenho do autor.
Por muito que se leia sobre o holocausto e a perseguição aos judeus, ficamos sempre horrorizados com tanta barbaridade!
Um beijinho, Maria João.:))