Já
vos contei que é difícil aguentá-los quando se lhes mete uma ideia na cabeça.
Apercebi-me disso ontem: arrastavam coisas pelo chão, trepavam às estantes,
foram buscar os instrumentos musicais, chamaram outros amigos. Eu ia olhando, à
espera de entender o que se passava. Achei melhor não intervir. De repente,
ouço a voz do Ratinho, um tanto excitada:
-
E quem é que canta?!
-
Ela!
E
o Ouricinho apontava para a bailarina cor de rosa que não sei como chegou até ali.
-
Como é que ela veio?, não resisti eu a perguntar.
-
A dançar, é claro! Hahaha.
E
o Ouricinho ria-se de mim, o malandro. O Ratinho parecia pouco convencido.
-
Mas ela sabe cantar?
E
insistiu, desconfiado:
-
Já cantaste alguma vez?
A
bailarina agitou o corpo suavemente, nas suas roupas rosadas e, de mãos na
cintura, disse pronta a dançar:
-
Sei dançar… E também sei cantar! Já cantei. E acho que tenho boa voz.
O
Ratinho não gostou do autoelogio.
-
Quem é que te disse que cantavas bem? Tu???
Logo, o Ouricinho, a defendê-la:
-
Quem cantou uma vez, sabe sempre cantar a vida inteira! Tu ainda cantas, não é
Jana? Vou já buscar a minha guitarra!
Não
estava lá muito convencida, confesso. As minhas cantorias eram doutros tempos,
da minha adolescência, dos sonhos do Circo…
-
Sim… Talvez.
Nesses
anos fazia tudo a cantar! Há uns tempos, lembrou-me a Madade: “Tu cantavas horas seguidas, em inglês,
enquanto tiravas significados de grego! Nunca me esqueci! E até lias a trautear uma canção.”
Era
verdade, cantar era um modo de acompanhar a vida e até de viver mais
intensamente: de ler e de estudar, distraindo-me…
Depois,
cresci. Será que quis ser mesmo uma pessoa crescida? De repente, vi-me com
sapatos de salto de 10 cm, a equilibrar-me com dificuldade, ao lado do meu namorado. Uma vez, em Lisboa,
prendi um salto nos carris do eléctrico e estava disposta a perder o sapato e a fugir quando ele se soltou!
Cresci?
Queria crescer? Acho que não, mas, de certo modo, mudei. E a voz mudou também.
Já não estudava a cantar, ouvia música…e fui-me esquecendo de cantar, acho.
Agora quando abro a boca, cantarolo uns
versos ao som do Cd que ouço, mas a voz
vai-se logo abaixo…
-
Eu acho que perdi a voz…
-
Não perdeste de certeza! Deixaste de a exercitar, é isso! E, como em todas as
coisas, perde-se o hábito. Basta ter vontade de cantar!
O Ouricinho olhava
para a bailarina, sorridente:
- Vais cantar bem, não vais?
Deixei-os. Não queria interferir, era uma brincadeira deles, devia respeitá-los.
Mas ia ouvindo as conversas ao longe, as discussões, os ensaios de vozes.
-
Não te lembras quando eles foram “em missão por conta de Deus”?
Era
o Ratinho, a explicar uma coisa aos outros todos.
-
Oh, sim, a BANDA!!
O
entusiasmo do Ouricinho sentia-se na vibração daquelas palavras: a banda!
Começaram a experimentar os instrumentos e distingui o som da guitarra, do violoncelo e até uma corneta!
Pus-me a cantar baixinho, com eles. Sim, uma amiga tinha-me dito um
dia: “canta devagarinho. Uma vez, duas,
três. Repete, repete. Vais ver que consegues melhorar a voz.”
De
repente, fui eu quem disse em voz alta:
- Ah, sim! Claro! The Band! São os Blues Brothers!
Era
isso que eles estavam a ensaiar: “the band”, como no filme!
O
Ouricinho ria às gargalhadinhas:
- Sim! The Band! Para o Natal!
- E eles conseguiram!, dizia o Ratinho, confiante.
E eu pensei: Porque os animava a vontade de
ajudar uma pessoa. Sim, ia-me lembrando, era a velha directora do orfanato onde
tinham sido criados ele e o irmão - que queriam expulsar porque não podia pagar a renda.
E todos os meninos pobres ficariam sem um lar... Para a salvarem, tinham tido que “reinventar” a velha
banda de Jazz que fizera furor - antes de irem os dois para a cadeia!
Agora
ouvia-se um tambor, leve, leve.
Não
resisti e fui espreitar. Era a suave e poética gatinha japonesa, sentada em frente do tambor! Tinham-se mudado para a sala e estavam muito concentrados e entusiasmadíssimos!
Ai,
estes meus amigos…
Para o Natal... Sim, vem aí o Natal!!! Tenho que começar a pensar nisso!
ADOREI!
ResponderEliminarMas que grupo tem por aí! Uma animação!
Eles são o máximo!
E agora conte-me cá...então também canta e não nos dizia nada! Quem canta uma vez, canta sempre!
Crescer custa. Mas algumas pessoas conseguem conservar sempre um bocadinho da criança que foram, outras não. Eu acho que a Maria João tem um bocadinho dessa criança dentro de si e isso é tão bonito. Por isso é que consegue fazer estes post tão bonitos:)
Um beijinho grande:)
As fotos são todas giras!
Ó Isabel, Isabel! És um amor... Beijinhos
EliminarMas que maravilha!
ResponderEliminarMal comecei a ler, comecei a rir...
Mas que festa os nossos amiguinhos fazem!
A Maria João é maravilhosa! Só uma pessoa sensível, delicada, com sentido de humor e com um espírito jovem, poderia imaginar uma festa destas!
Mas para a próxima, convide-nos, está bem?
Eu levo os ferrinhos...:))
Um beijinho, embrulhado em saudades.:))
Cláudia, prometo avisar da próxima...Esta foi mesmo sem esperar... E traga os ferrinhos, por cá não temos. Beijos
EliminarMaria João,
ResponderEliminarAdorei a festa.
Que lindo presépio. Gostei de tudo, é claro.
A bailarina também é giríssima.
Beijinho.:))