Capítulo I
Edward Hopper, Falcões da Noite
"Erica estava
sentada ao lado dele. Tinha envelhecido e perdera a vivacidade do olhar que tanto
o impressionara, meses antes. A luz da tarde descia sobre Roma. Havia uma grande melancolia no olhar daquela mulher.
Tudo começara
muitos meses antes: “Sim, naquele dia de Inverno”, pensou Michael Brenner.
Ela dizia-lhe,
agora:
- Gosto de o ver!
E sorriu-lhe:
- Se me oferecer um cigarro, desta vez
aceito.
- Com muito gosto! Dantes não fumava, pois
não? Ou engano-me?
-Tem razão. Hoje, fumo. Sou ao contrário dos
outros, teimosa como sabe. Sou teimosa e detesto proibições. Proíbem-nos de fumarem por
toda a parte? Então, eu decidi fumar!
Os olhos pareceram
animar-se, cheios da costumada ironia. Continuou:
- Com o que se vive nesta vida, passa-nos a
vontade dos “ecologismos” e coisas parecidas em que julgámos acreditar. E as ilusões
também se vão. Passa tudo, como o vento da Primavera...
- Não acredito que a Erica não guarde as
ilusões...
- Como posso esquecê-la? Tudo começou por
causa dela! Conhecemo-nos por isso mesmo.
- Não consigo falar dela...
Michael pousou-lhe
a mão no braço, com ternura, e acrescentou.
- Ainda é cedo. Vamos esperar mais um pouco,
não é?
Ficou a olhar
para ela, sem falar.
Sim, tudo se passara muito antes, num dia de
Inverno, na Piazza della Rotonda…
E começou a lembrar-se do modo como entrara naquela história.
E começou a lembrar-se do modo como entrara naquela história.
Edward Hopper, Café 1927
Olhava para fora, através dos vidros do
restaurante. As pessoas passavam, rápidas, agarradas aos casacos quentinhos. O frio
instalara-se, mas o sol continuava a brilhar, intenso. Ouvira falar dos magníficos dias de Inverno de Roma e estava a
vivê-los.
Do lado esquerdo, erguia-se a massa pesada e harmoniosa das colunas do Panthéon.
Piazza della Rotonda, Pantheon
Habituara-se a contá-las.
“Quinze? Seis frontais... As outras...”
Gostava de entrar lá dentro quando a chuva caía, fina, em diagonal, do alto da cúpula aberta.
O restaurante era
agradável, tranquilo. Tinham-lhe dito que era o sítio onde se comiam os
melhores spaghetti alle vongole de Roma.
Sentado na mesa
do canto, podia contemplar um pouco da Piazza e,
ao mesmo tempo, ver a sala de jantar. Interessava-o o casal da mesa ao lado.
Comiam, em silêncio, como se já tivessem dito tudo um ao outro.
Ao fundo, mais
duas ou três mesas ocupadas. Aqueles dois eram conhecidos. Notava-se nos
pequenos gestos dos empregados, numa palavra dita em tom mais íntimo.
Foi o homem quem
quebrou o silêncio. Falava em inglês e, por isso, por ser a sua língua, Michael
pôs-se a ouvi-los, involuntariamente.
E foi aí que tudo começou..."
Haja luz
ResponderEliminar... e foi tudo muito belo
ResponderEliminarE agora?...
ResponderEliminarFico à espera da continuação.
Gosto imenso das imagens. Gosto de Edward Hopper.
Um beijinho e até já...no próximo capítulo:)
A "Morte de um Desconhecido" vai gostar, tens um sexto sentido para as análises psicológicas, para a descrição das pessoas e das coisas. Vou saborear aqui pouco a pouco a tua novela, foi uma boa ideia trazê-la, por fim um pouco da tua alma!!
ResponderEliminarAs ilustrações, acertadíssimas.
Beijinho
Tinha deixado aqui uma mensagem no dia em que colocou o post...:(
ResponderEliminarGostei de ler e espero a continuação...
Gostei muito das imagens que escolheu.
Um beijinho grande e bom fim-de-semana:)