It's Christmas time...
Um poema de Natal de José Régio
NATAL
Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, ─ do fundo
Da miséria que somos.
Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos ─ não uma vez, mas cada ─
Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infame.
Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, ─ e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!
( in Diário de Notícias, edição nº 33 345, 25 de Dezembro de 1958)
NATAL
Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, ─ do fundo
Da miséria que somos.
Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos ─ não uma vez, mas cada ─
Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infame.
Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, ─ e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!
( in Diário de Notícias, edição nº 33 345, 25 de Dezembro de 1958)
Faz amanhã, dia 22 de Dezembro, 40 anos que José Régio morreu . Quis recordá-lo com um poema de Natal seu...
Tenhamos fé de que melhores dias virão! Ao estado a que isto está a chegar, parece que é o que nos resta...
ResponderEliminarUm dos valores inultrapassáveis dos livros é o facto de eles sobreviverem aos autores e, num certo sentido, criarem uma espécie de prolongamento da vida de quem os criou. A sensação que permanece quando lemos este poema (e outros), de J. Régio, é como se ganhassemos a capacidade de poder conversar com ele.
Votos de um Natal cheio de alegrias, gargalhadas e gente de bom fundo! Ah! E pilhas de CHOCOLATES! :))) Obrigada pela sua oferta deixada lá no «B-c». Eram deliciosos! :)))
Abraço.
A Arte a eternizar Verdades esquecidas! Obrigada pela lembrança...
ResponderEliminarFeliz Natal para todos!! Beijinhos de Cambridge
....Cada vez o teu Reino é menos deste mundo! ....
ResponderEliminarcomo é que ainda tens a infinita paciência de voltar, ......
diz Régio, neste belissimo poema de Natal.
Lindo! Régio fá-lo com enorme mestria, nunca dizendo mais do que quer, mas dizendo sempre mais do que parece.
Obrigado por o ter recordado.
Desejo-lhe um bom Natal, bem como para toda a sua Família.
(helder)