Pois, faz toda a diferença!... Porque hoje reencontrei uma grande amiga! E vinte e quatro pequeninas horas antes, não sabia onde ela parava!
HURRAH, PELOS MEUS ALUNOS!
“Oh! Captain, my captain!”
Poucos momentos atrás, pus no blog uma canção de Dinah Washington. Foi ela, e a canção “What a difference a day makes?”, que me vieram à cabeça quando, hoje, me aconteceu, hoje de manhã, uma coisa fabulosa!
Como dizia no post anterior, "Faz toda a diferença..."
Porque hoje reencontrei uma grande amiga! E vinte e quatro pequeninas horas, antes, não sabia onde ela parava!
Ia a entrar para o carro, e vi uma jovem mulher pensativa, com um cão pela trela. Pareceu-me um vulto conhecido. Estava parada junto ao ribeirinho que, ainda hoje, corre ao lado da minha casa a olhar para longe.
Não, não o ribeirinho não é no campo, é em S. João do Estoril !
Por sorte do destino –e até quando?- este ribeirinho –onde, nos primeiros dias, ia colher agrião quando cheguei- mantém-se por aqui, tranquilo, excepto nestes dias invernosos, em que a corrente é forte e ruidosa, e quase me faz imaginar o rio Floss, de Georges Eliot...
Devo dizer que “a comissão de moradores” conseguiu que plantassem, ao lado dele e perto do muro meio caído, uns salgueiros, um chorão, alguns arbustos e muita relva.
Há um banco onde um grupo de alunos do Liceu se vem sentar, a conversar e a comer sandwiches ou um franguinho assado com batatas fritas, dividido por todos, pois os tempos vão difíceis...
Pois essa figura esguia, ligeiramente curva, virou-se e eu vi os olhos claros, o olhar tímido, mas cheio de personalidade, da Marta, uma aluna da turma de Artes que tive há alguns anos e que me deixou uma grande saudade.
Todos os alunos me deixaram sempre saudades, confesso, de uma forma ou de outra, e raro é aquele de quem me posso queixar...
No entanto, a verdade é que, numa turma de onze alunos (era esse o caso), se torna mais fácil a convivência, a relação afectiva que sempre achei tão importante como o ensinar a matéria do programa de Português.
E, ao mesmo tempo, falar mais de “outra literatura”, de “outra cultura” que não faz parte do tal programa, falar dos “pensares e dos sentires” (como tanto gosta de dizer a minha amiga Luísa M.).
Ia a entrar para o carro, e vi uma jovem mulher pensativa, com um cão pela trela. Pareceu-me um vulto conhecido. Estava parada junto ao ribeirinho que, ainda hoje, corre ao lado da minha casa a olhar para longe.
Não, não o ribeirinho não é no campo, é em S. João do Estoril !
Por sorte do destino –e até quando?- este ribeirinho –onde, nos primeiros dias, ia colher agrião quando cheguei- mantém-se por aqui, tranquilo, excepto nestes dias invernosos, em que a corrente é forte e ruidosa, e quase me faz imaginar o rio Floss, de Georges Eliot...
Devo dizer que “a comissão de moradores” conseguiu que plantassem, ao lado dele e perto do muro meio caído, uns salgueiros, um chorão, alguns arbustos e muita relva.
Há um banco onde um grupo de alunos do Liceu se vem sentar, a conversar e a comer sandwiches ou um franguinho assado com batatas fritas, dividido por todos, pois os tempos vão difíceis...
Pois essa figura esguia, ligeiramente curva, virou-se e eu vi os olhos claros, o olhar tímido, mas cheio de personalidade, da Marta, uma aluna da turma de Artes que tive há alguns anos e que me deixou uma grande saudade.
Todos os alunos me deixaram sempre saudades, confesso, de uma forma ou de outra, e raro é aquele de quem me posso queixar...
No entanto, a verdade é que, numa turma de onze alunos (era esse o caso), se torna mais fácil a convivência, a relação afectiva que sempre achei tão importante como o ensinar a matéria do programa de Português.
E, ao mesmo tempo, falar mais de “outra literatura”, de “outra cultura” que não faz parte do tal programa, falar dos “pensares e dos sentires” (como tanto gosta de dizer a minha amiga Luísa M.).
Sim, saber dos desejos, das ânsias, conhecer um pouco do que se passa no “íntimo” desses seres em formação: as ideias, os ideais, as dificuldades, os gostos...
Trazer-lhes um pouco do que se passava “lá fora”, pois a minha experiência e a passagem por outros sítios levava-me a querer dividir com eles os conhecimentos que me fora permitido ter, os lugares, as artes...
Falávamos de Itália, de pintura, do fantástico Renascimento italiano, mas igualmente dos Impressionistas, Surrealistas e do que lhes vinha à mente quererem saber daquilo que eu, por acasos da vida, soubera. Monet, Manet, Renoir, Gauguin eram nomes que apareciam muitas vezes, e, claro, a beleza dos quadros de Botticelli, Leonardo, Filippo Lippi, ou dos maneiristas, Andrea del Sarto, de Caravaggio e outros.
Falávamos de filmes. Saíra, por esses anos, o filme O Clube dos Poetas Mortos, (O Clube dos Poetas Mortos, Dead Poets Society, é uma obra prima de Peter Weir ) que todos fomos ver e de que falámos, longamente.
Quem não gostaria de ter tido aquele professor? E quem não desejaria ser aquele professor?! Claro que eu gostaria que me lembrassem do mesmo modo, sabendo porém que era impossível, mas amando que alguém o tivesse feito –mesmo que fosse só um filme...
Mr. Keating, o professor de Literatura Inglesa que lhes ensina Poesia e lhes faz declamar Walt Whitman, de cima das carteiras, que lhes diz quão importante é pensarem por si próprios (não esqueço o "ritual" das folhas rasgadas do Compêndio que explica os Poetas), o "carpe diem", o viver de modo intenso e sincero todos os momentos da vida...
Trazer-lhes um pouco do que se passava “lá fora”, pois a minha experiência e a passagem por outros sítios levava-me a querer dividir com eles os conhecimentos que me fora permitido ter, os lugares, as artes...
Falávamos de Itália, de pintura, do fantástico Renascimento italiano, mas igualmente dos Impressionistas, Surrealistas e do que lhes vinha à mente quererem saber daquilo que eu, por acasos da vida, soubera. Monet, Manet, Renoir, Gauguin eram nomes que apareciam muitas vezes, e, claro, a beleza dos quadros de Botticelli, Leonardo, Filippo Lippi, ou dos maneiristas, Andrea del Sarto, de Caravaggio e outros.
Falávamos de filmes. Saíra, por esses anos, o filme O Clube dos Poetas Mortos, (O Clube dos Poetas Mortos, Dead Poets Society, é uma obra prima de Peter Weir ) que todos fomos ver e de que falámos, longamente.
Quem não gostaria de ter tido aquele professor? E quem não desejaria ser aquele professor?! Claro que eu gostaria que me lembrassem do mesmo modo, sabendo porém que era impossível, mas amando que alguém o tivesse feito –mesmo que fosse só um filme...
Mr. Keating, o professor de Literatura Inglesa que lhes ensina Poesia e lhes faz declamar Walt Whitman, de cima das carteiras, que lhes diz quão importante é pensarem por si próprios (não esqueço o "ritual" das folhas rasgadas do Compêndio que explica os Poetas), o "carpe diem", o viver de modo intenso e sincero todos os momentos da vida...
Revejo a imagem dos alunos a subirem para o tampo das cadeiras, um a um, quando ele é afastado do Colégio, a gritarem, virados para ele, “Oh Captain, my Captain...” -o verso do poema que lhes ensinara na primeira aula.
E quem não lembraria a bela recordação do Good-Bye Mr. Chips de James Hilton? Qualquer professor com um mínimo de coração, teria adorado ver-se no “papel” de um deles...
Outros dias falava-lhes de um livro cuja leitura me tocara, nessa altura: Les Poneys Sauvages, de Michel Déon, e do velho professor que reúne quatro dos seus últimos alunos para lhes deixar uma mensagem, ou, antes, pedir-lhes uma promessa...
Quando me despedi dos meus alunos–partia uma vez mais, agora para África- falámos muito nisso tudo...
E reli-lhes a passagem do romance de Déon.
E quem não lembraria a bela recordação do Good-Bye Mr. Chips de James Hilton? Qualquer professor com um mínimo de coração, teria adorado ver-se no “papel” de um deles...
Outros dias falava-lhes de um livro cuja leitura me tocara, nessa altura: Les Poneys Sauvages, de Michel Déon, e do velho professor que reúne quatro dos seus últimos alunos para lhes deixar uma mensagem, ou, antes, pedir-lhes uma promessa...
Quando me despedi dos meus alunos–partia uma vez mais, agora para África- falámos muito nisso tudo...
E reli-lhes a passagem do romance de Déon.
Fui agora buscar o livro e vou copiar um pouco desse momento.
É Georges Saval, um dos alunos, que conta ao narrador:
“O professor Dewagh vai deixar a Universidade e voltar à Irlanda e quer que nós os quatro lhe continuemos a escrever. Vê cair sobre o mundo a catástrofe predita pelo Apocalipse. De mão estendida sobre a salamandra apagada, fez-nos jurar recusarmos ter destinos medíocres, e correr em socorro uns dos outros, sempre que for preciso. Dewagh está convencido que se quatro homens em dois biliões de indivíduos mantêm essa promessa, o mundo pertence-lhes... Jurei, mas pareceu-me um juramento pueril, o sonho de um tímido de meias de seda que nunca saiu dos seus livros. A guerra que nos vai cair em cima, não deixa grandes esperanças aos juramentos deste tipo...”
E, mais adiante, diz ele a uma amiga:
“(...) São os primeiros póneis selvagens que vejo e talvez sejam os últimos. Vamos em direcção a um mundo onde cada vez menos vai haver póneis selvagens...”
Sim, ouvem a lição do professor. Anos mais tarde, na praia da Dunquerque, um deles vai repetir os gestos que o professor lhes pedira, e cumprir o juramento feito: “sempre que um de vocês precisar, ou chamar, ou correr perigo, os outros deverão responder a essa voz”.
De facto, sem pensar na própria salvação, Barry leva o corpo de Georges, gravemente ferido, às costas, através do areal escaldante, no meio dos gritos, debaixo de fogo, sem o largar, batendo-se contra tudo e todos, atravessando as linhas, arrostando com as proibições (nem todos podiam embarcar e serem salvos...), até depositar o seu corpo ferido num hospital de campo.
Anos antes, tinham discutido e tinham acabado zangados. Agora, salva-o, e desaparece sem lhe dizer nada.
Quando hoje a Marta disse que se lembrava do que eu lhes lera nessa aula de despedida, comovi-me...
É Georges Saval, um dos alunos, que conta ao narrador:
“O professor Dewagh vai deixar a Universidade e voltar à Irlanda e quer que nós os quatro lhe continuemos a escrever. Vê cair sobre o mundo a catástrofe predita pelo Apocalipse. De mão estendida sobre a salamandra apagada, fez-nos jurar recusarmos ter destinos medíocres, e correr em socorro uns dos outros, sempre que for preciso. Dewagh está convencido que se quatro homens em dois biliões de indivíduos mantêm essa promessa, o mundo pertence-lhes... Jurei, mas pareceu-me um juramento pueril, o sonho de um tímido de meias de seda que nunca saiu dos seus livros. A guerra que nos vai cair em cima, não deixa grandes esperanças aos juramentos deste tipo...”
E, mais adiante, diz ele a uma amiga:
“(...) São os primeiros póneis selvagens que vejo e talvez sejam os últimos. Vamos em direcção a um mundo onde cada vez menos vai haver póneis selvagens...”
Sim, ouvem a lição do professor. Anos mais tarde, na praia da Dunquerque, um deles vai repetir os gestos que o professor lhes pedira, e cumprir o juramento feito: “sempre que um de vocês precisar, ou chamar, ou correr perigo, os outros deverão responder a essa voz”.
De facto, sem pensar na própria salvação, Barry leva o corpo de Georges, gravemente ferido, às costas, através do areal escaldante, no meio dos gritos, debaixo de fogo, sem o largar, batendo-se contra tudo e todos, atravessando as linhas, arrostando com as proibições (nem todos podiam embarcar e serem salvos...), até depositar o seu corpo ferido num hospital de campo.
Anos antes, tinham discutido e tinham acabado zangados. Agora, salva-o, e desaparece sem lhe dizer nada.
Quando hoje a Marta disse que se lembrava do que eu lhes lera nessa aula de despedida, comovi-me...
Oh!, sim, Marta! Obrigada!
Oxalá os meus alunos tenham aprendido a lição do Professor Dewagh de solidariedade, e os vossos destinos não tenham sido –nem nunca sejam medíocres!
Oxalá continuem a ser os póneis selvagens que sempre foram para mim!
Para todos, meus queridos alunos, aqui vai um “Hurrah!”
E a poesia de Walt Whitman, que vos dedico, com amizade!
O Captain My Captain
Oxalá os meus alunos tenham aprendido a lição do Professor Dewagh de solidariedade, e os vossos destinos não tenham sido –nem nunca sejam medíocres!
Oxalá continuem a ser os póneis selvagens que sempre foram para mim!
Para todos, meus queridos alunos, aqui vai um “Hurrah!”
E a poesia de Walt Whitman, que vos dedico, com amizade!
O Captain My Captain
a poem by Walt Whitman
1.
O Captain my Captain!our fearful trip is done,
The ship has weathered every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
2.
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up -for you the flag is flung, for you the bugle trills,
For you bouquets and ribboned wreaths, for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.
3.
My Captain does not answer, his lips are pale and still;
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will;
The ship is anchored safe and sound, its voyage closed and done;
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I, with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
(In Leaves of Grass, 1885, a que o poeta chamou "Song of myself")
****
Podem ver algumas imagens do filme neste pequeno video do Sapo. Vale a pena!
Podem ver algumas imagens do filme neste pequeno video do Sapo. Vale a pena!
Nota importante:
Existe a edição portuguesa do romance de Michel Déon, "Os póneis selvagens"!
Ilustrações:
1. foto de Walt Whitman (1819-1892)
2,3,4 imagens do filme e do DVD de "O Club dos Poetas Mortos", de Peter Weir
"Oxalá os meus alunos tenham aprendido a lição do Professor Dewagh de solidariedade, e os vossos destinos não tenham sido –nem nunca sejam medíocres!
ResponderEliminarPara todos, meus queridos alunos, aqui vai um “Hurrah!”"
Obrigada , querida Professora!!
Claro que aprendemos as suas lições e vão sempre ficar connosco até ao fim da vida.
Creio que todos tentamos continuar a ser "póneis selvagens" e, tal como nos ensinou, a pensar por nós próprios. Isso, ninguém nos pode tirar, não é?
Os nossos destinos são aquilo que conseguimos fazer com eles; mesmo que não sejamos grandes heróis, continuamos a tentar ser honestos e verdadeiros com nós próprios, de modo a podermos dormir sossegados e a andar de cabeça erguida, coisa, aliás, hoje em dia tão caída em desuso...
Mas a M.J. Conseguiu ensinar-nos isso.
Muito obrigada!!
uma antiga aluna
Margarida
Não me faças chorar! Obrigada minha querida!
ResponderEliminarMJ Falcão,
ResponderEliminarComo prova o comentário acima, existe sempre alguém que sente e aproveita a diferença.:)
Este filme e este excerto de "Leaves of Grass" é belíssimo e galvanizador! Whitman ensina-nos tanto!
Também eu não acredito neste ensino à base da telenovela, da publicidade e da música brega, ou seja, da mecanização do pensamento.
Dar a conhecer aos alunos aquilo que eles não sabem, não viram,nem não ouviram, é esse o caminho!
Abraço.
Fico contente com o que me diz! É tão difícil "saber" o "como fazer" nestas coisas todas... Tentei fazer o melhor possível porque acredito que ensinar, educar é algo mais do que os tais mecanicismos, os tais programas menores, o meter a cabeça na areia, à espera que tudo passe...
ResponderEliminarObrigada por estar do meu lado (acabei de ver um filme do John Wayne e, claro havia dois lados...
Abraço forte!
Bom Ano, cheio de carpinteirices, como diz às vezes.
M.J
olá !!!!!! tudo bem ? espero que tenha passado bem o Natal:)
ResponderEliminarSeu blog como sempre super diferente , cheio de novidades!!!
bjussss
Obrigada, amiga Tatiana! Um Bom Ano também para si... Escolhi o filme "Gran Torino" para dar uma ajuda nos sentimentos da gente...
ResponderEliminarMJ fez-me chorar! porque sinto por dentro, no âmago dos meus sentires, as emoções e recordações de que fala. Ser PROFESSOR! I wish I were uma profª como o do Clube dos Poetas Mortos, ou como a do Sorriso de Mona Lisa. Quem me dera provocar mudanças e desafiar sonhos.
ResponderEliminarUm Beijo! Obrigada por mais esta lição
Tu és uma "Professora"! A sério... É uma coisa que só se "é", se for a sério. Tu és!
ResponderEliminarFaz como sabes, que eu sei que é o teu melhor! Beijinhos minha amiga do coração.