quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

George Eliot e "O Moinho à beira do Rio"




Hoje, quando li a última página d’ O Moinho à beira do rio” e fechei o livro, estava comovida e as lágrimas vieram-me aos olhos.

Como, com certeza, terei chorado quando o li, adolescente.

Depois fiquei contente por essa emoção, contente ao ver que podia ainda comover-me com a sorte ingrata de seres –tão vivos como os vivos- criados pela pluma de uma grande escritora.
Seres tão verdadeiros que, com a vida deles, e por eles, ao longo das quase 500 páginas, me senti acompanhada.

Tom e Maggie, a infância feliz e despreocupada, os amuos, as zangas dele, irmão mais velho, a susceptibilidade dela.
Os “avisos do destino” –como diria Régio (é o título do III volume de A Velha Casa)- que se sucedem, a desgraça que vem, regularmente, bater à porta da família Tulliver.

Lá está o moinho, na confluência dos rios Ripple e Floss, rodeado de árvores, a pequena ponte, os botes ancorados ao lado, o bosque de Red Deeps, onde Maggie vai falar com o seu amigo Philip Wakem; e o rio Floss, de águas calmas, transparentes, ou encrespadas, ameaçando a cheia que todos receiam.
George Eliot descreve tudo tão bem, fixa os lugares, as pessoas, a passagem do tempo.
Faz-nos entrar logo no mundo desta gente: Maggie e os seus entusiasmos, a visita ao acampamento dos ciganos, as suas paixões.
Imaginamos facilmente a figura morena e atraente, tão fora da loira família Dodson, com os cabelos negros e revoltos, que a mãe desesperava de pentear...
Tom e a sua força de carácter, a teimosia - que raia a estupidez- que o não deixa compreender o feitio rebelde da irmã, as hesitações, as mudanças.

E os outros... O pai, a mãe, as aprumadas tias Gleggs, Deanes e Pullets (em solteiras, Dodson, irmãs da mãe) e os seus maridos.
Depois, a descrição e caracterização das figuras secundárias, da "sociedade" de St. Ogg -uma cidade de província, igual a todas no mundo, a observação, a cuscovilhice, as críticas impiedosas, a falta de generosidade no julgamento.

E, em contrapartida, a afeição do bom Bob Jakin, o amigo de infância, pobre e inteligente, que “segue” –e protege- os dois irmãos, fielmente, de longe, atento a tudo o que possa fazer-lhes mal.
Bob e a sua mulher pequenina e doce, a casinha junto ao rio, o cão Mumps que é bom, "melhor do que muitos cristãos", como ele diz a Maggie:
“Uma bela companhia, se é! Entende tudo e não incomoda ninguém. Meu Deus é bem bom ter um bicho caladinho que gosta da gente; ele há-de defendê-la...” E deixa-o ao pé dela, para a ajudar.

Tanto sentimento, tanta compreensão, tanta certeza na análise psicológica.
Um belo livro, sem dúvida, em que, desde o início, sentimos a tragédia que paira sobre a cabeça dos dois irmãos e ansiamos por que não chegue: aproxima-os, afasta-os até ao reencontro no fim...
Não, não vou contar a história! Procurem lê-la depressa!

2 comentários:

  1. Nossa, achei lindo! Esse livro veio no meu kit de leitura do clube da Pedrazul. Confesso que ontem quando acabei o livro, fechei e de boca aberta, na verdade estou até agora. Fiquei me perguntando se ficou tudo bem com o Bob e o Papeira. E dizendo a mim mesma que independente do século o ser humano nunca deixa de ser mau e de sempre julgar o seu próximo, de olhar e dizer que sempre o que importa é o que a massa acredita, e " se todos dizem é verdade". Bom, nem sei o que dizer, mas fiquei muito impressionada com o livro e com todos os personagens. E a pequena Lucy, ah que amor. Maggie definitivamente lutou até o fim pelo o que acreditava, e sua fé inabalável não a permitiu perder a essência e a sua pureza. É um livro arrebatador.

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  2. Obrigada! fiquei muito feliz com o teu comentário! Assim já somos duas a achar que esse livro é fantástico e bom. Que nos pode ajudar a viver com mais coragem. O mundo é mau, sim, mas também tem coisas fantásticas!! Força!

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