segunda-feira, 8 de março de 2010

Afirmação controversa de Martin Amis numa entrevista provoca resposta-protesto de um escritor de 88 anos...

"As três idades do Homem", Giorgione

Título do Corriere della Sera, página da Cultura de hoje, 8 de Março era: “La vita è bella a 70 anni!”

Trata-se da “resposta-protesto” do escritor italiano Rafaello La Capria, de 88 anos –escritor, ensaísta, autor de uma Autobiografia intitulada “Cinquant’anni di false partenze”, vencedor do Prémio Strega (*) com o livro “Ferito a Morte” e que, em 2001, recebe o Premio Campiello (*) "pela carreira".

Resposta a uma entrevista recente de Martin Amis ao Sunday Times Magazine, em 24 de Janeiro de 2010 (reproduzida no Corriere de 25 de Janeiro de 2010).
Martin Amis “propusera”, de facto, que os adultos com mais de 70 anos deveriam fazer a sua própria eutanásia: “um bom martini com estriquinina e tudo se resolvia”...

Haveria para esse efeito cabines em cada esquina onde, com o cocktail, se recebia uma medalha (de bom comportamento, com certeza...)

E tudo se resolveria: o problema do envelhecimento (deles, maiores de 70, e da população em geral), do sofrimento à espera de morrer, da doença, das formas de vida vegetativa, da angústia...
Um alívio.
Também, claro, do excesso de “velhos” na reforma, a sobrecarregarem os “jovens” a trabalhar. Assim, a chamada “terceira idade” apagava-se para dar lugar aos outros que já aí estão à espera do lugar...

Não li a entrevista toda, não sei em que termos e em que contexto a frase aparece, mas a ideia é esta: O envelhecimento de grande parte da população vai ser nos anos 2020 "um autêntico tsunami de prata"...
Hoje, Raffaelle La capria, nos seus 88 anos cheios de vida, responde:

“O cocktail, meu caro Amis, bebe-o tu -se te apetecer! Eu, nestes 18 anos que passaram, não “vegetei”: li muita coisa que ainda não tinha lido, escrevi quatro livros que me deram grande prazer a escrever, viajei, conheci gente nova, nadei nas águas quentes tropicais. Aprendi muitas coisas. E tu?”
E continua:
Parece-me ver nesta afirmação -mais do que um exibicionismo auto-promocional do jovem Amis- o pragmático, e “very english”, sentido comum, prático, levado às suas últimas consequências...”

Pragmatismo que o escritor italiano considera ligado a um certo típico humor negro.
Gostei da resposta.


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Excertos da entrevista, para quem estiver interessado:
Martin Amis: fears 'silver tsunami'
The novelist Martin Amis has called for euthanasia booths on street corners, where elderly people can end their lives with “a martini and a medal”.
The author of Time’s Arrow and London Fields even predicts a Britain torn by internal strife in the 2020s if the demographic timebomb of the ageing population is not tackled head-on.
How is society going to support this silver tsunami?” he asks in an interview in The Sunday Times Magazine today.
There’ll be a population of demented very old people, like an invasion of terrible immigrants, stinking out the restaurants and cafes and shops. I can imagine a sort of civil war between the old and the young in 10 or 15 years’ time.”


(*) O Prémio Strega é um dos mais prestigiosos prémios literários italianos. Strega não é só sinónimo de produtos de qualidade, mas também, desde 1947, o nome do mais importante prémio literário italiano..
Giorgione 1477-1511, in galleria Palatina, Firenze

2 comentários:

  1. Quero pensar que Matrin Amis tem um grande sentido do humor...A nivel exclusivamente pessoal,simpatizo com a ideia do suicídio como fim para a minha vida,se o considerasse oportuno. Oxalá nâo seja necessario,oxalá todos fôssemos Rafaello La Capria!
    O reto dos velhos que vamos sobrar está aí,mas estou convencida que irâo surgindo fórmulas imaginativas,como vem acontecendo através da história do homem.Os jovens de hoje,quando cheguem a uma idade avançada,serâo muito menos que nós agora,e isso já é uma boa perspectiva para eles.Devemos esperar que as coisas irâo a melhor ,nâo lhe parece?
    Beijinhos

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  2. Uma forma de humor era de certeza...à maneira do pai dele.
    Ninguém pode dizer isso a frio e "a sério"... Achei boa a réplica do escritor italiano, com outro humor também.
    A vida é uma coisa maravilhosa e a idade é psicológica como tudo, não é?
    Não estou pessimista! Até porque ainda vem longe o dia!

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