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Andava com saudades de voltar aos “meus” posts policiais e ontem o pedido de uma amiga-leitora empurrou-me:
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“(...) por favor, volte aos nossos policiais! Maria J., continue com os policiais, please. E música… como aquela. ('Summertime') Always! "
Senti-me aliviada. Estava num “bivio” palavra italiana que acho muito forte e cheia de sentidos (fortemente polissémica, diriam os sábios): é dilema, é cruzamento, encruzilhadas, é muita coisa, enfim.
Pois, ao fim e ao cabo, decidi e aqui venho falar de um dos grandes escritores policiais, de que muito falei, agora pouco falo mas que nunca esqueço!
No próximo "post" irei falar de Dashiell Hammett.
Senti-me aliviada. Estava num “bivio” palavra italiana que acho muito forte e cheia de sentidos (fortemente polissémica, diriam os sábios): é dilema, é cruzamento, encruzilhadas, é muita coisa, enfim.
Pois, ao fim e ao cabo, decidi e aqui venho falar de um dos grandes escritores policiais, de que muito falei, agora pouco falo mas que nunca esqueço!
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Antes, queria fazer um pequeno aparte sobre o que li entretanto: Acabei de ler um livro da Mary Higgins Clark, "The Craddle will Fall", escritora policial americana (1). É considerada a Rainha do Suspense da América e por vezes escreve também, em duo, com a filha Carol, como por exemplo o livro intitulado: "Dashing through the snow".
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Bem escrito, bem estruturado, prende o leitor -muito “suspense”. Li-o em poucas semanas porque leio sempre vários livros dos mais diversos género, contemporaneamente. O que querem? Ler é o meu vício!
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De facto, neste romance (The craddle will fall), apesar de, quase desde o princípio, saber quem é o assasssino da história o interesse mantém-se até ao fim.
Nos últimos anos comecei a ler outro tipo de leituras policiais. Outro tipo diferente dos chamados "clássicos" policiais (o que é clássico?), com o seu crime, a investigação minuciosa (tipo Sherlock Holmes e o método de observação) por parte de um detective.
Ou à maneira do comissário (Maigret e a "aproximação pela compreensão" dos motivos do assassino, Miss Marple, Poirot - e as suas "célulazinhas cinzentas" infalíveis, ou mesmo o Wexford, o Chief-Inspector de Ruth Rendell) e a resolução de um mistério que parece insolúvel.
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Ou, então, a análise do crime e do criminoso, a nível "físico-psicológico" da doença do espírito e do corpo, ou psicanalítico, ou "científico", como hoje se usa: os psicopatas aparecem, os assassinos em série, etc. e todo o aparato da Medicina Legal, autópsias, identificações minuciosas de tecidos, analisados, escalpelizados, numa especialização só possível nestes finais do século XX e princípios de XXI.
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Já falei da Ruth Rendell e da israelita Batya Gur, que alia a história detectivesca a uma análise psicológica.
Também li muito ( e gosto) Patricia Cornwell -ela própria especialista de análise em computadores trabalhando num Gabinete de Medical Examination, da Virginia, durante 6 anos e a sua heroína fantástica Dr. Kay Scarpetta, no seu cientifismo policial (1): análises de tecidos, DNA, genes, tudo é dissecado (aliás a dissecação é pormenorizada nos seus livros e o médico legista fundamental).
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Rosamond Smith (3), pseudónimo, aliás, da escritora americana bem conhecida, Joyce Carol Oates) é a autora de romances de perseguições horrendas por parte de assssinos psicopatas ("Soul/Mate", terrível exemplo de uma mente doente à procura da sua "mente/metade");
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O romance policial torna-se um thriller em que o assassinop é um psicopata, serial killer, psicótico, que persegue cruelmente as vítimas.
Frequentemente surge a evocação dos corpos torturados, martirizados, mãos decepadas, rostos desfigurados num manancial de sangue e sadismo.
Procura sádica essa leitura, por vezes masoquista, numa certa forma, diria, de "auto-vampirização" das massas que vão atrás dessas imagens brutais quase insensivelmente, procurando "auto-lesionar-se", magoar-se?
Confesso que também eu fico presa do suspense, da perseguição infernal, maléfica daquele psicopata, aparentemente normal, daquela vítima inocente que o provoca sem saber.
Confesso que também eu fico presa do suspense, da perseguição infernal, maléfica daquele psicopata, aparentemente normal, daquela vítima inocente que o provoca sem saber.
Curiosidade mórbida de uma certa forma de "desconhecido" que gostaríamos de desvendar.
?
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A querer saber como é , afinal?
Quem é o assassino? Por que o fez? Como o fez?
E o detective/comissário/promotor de justiça/psiquiatra -poderá descobrir as razões?
E evitar que volte a acontecer?
Como se pode "explicar" este ou aquele comportamento?
Seremos todos vítimas de um modo ou de outro?
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Também li P.D. James ("A Certain Justice", p.ex.) –inglesa que escreve há muitos anos bons livros policiais, numa mistura de "clássico" e "moderno", chamemos-lhe assim.
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Quando leio Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Hartley Howard etc, sinto (não falo já dos outros clássicos: Simenon, Dorothy Sayers, Rex Stout, Agatha Christie) -é mesmo um sentir cá de dentro- que, para lá de todas as cenas de violência, sentimentos brutais, paranóias, corrupções, há uma preocupação moral.
Moral no sentido de distinguir o bem do mal, moral no sentido de se ser exigente no que se escolhe: isto não se faz porque sim, isto justifica-se mesmo que aparentemente errado a certos olhares porque sim...
Sam Spade, Marlowe são capazes de violências enormes, de baterem, de matarem, mas só se for necessário: para se defender, defender alguém.
Matar tem então um sentido –uma justificação?
Bowman, herói de Howard também se preocupa com “essas coisas”: o dinheiro sim, os dólares antecipados para cumprir uma missão, sim, MAS não qualquer tipo de “missão”.
Bowman, herói de Howard também se preocupa com “essas coisas”: o dinheiro sim, os dólares antecipados para cumprir uma missão, sim, MAS não qualquer tipo de “missão”.
Ao ler estas histórias sangrentas, doentias, cheias de sangue e de horror penso como eram ingénuos estes duros de Chandler e de Hammett!
Que boa era a "ingenuidade" deles!
Que boa era a "ingenuidade" deles!
Há uma exigência moral. E põem logo os pontos nos “iis”.
Nestes outros romances mais recentes -os tais científicos- há sem dúvida o bem e o mal bem distintos (a Dra. Kay Scarpetta, de Patricia Cornwell, ou a Promotora Katie DiMaio, de Mary Higgins Clarck) estão do lado da justiça.
Nestes outros romances mais recentes -os tais científicos- há sem dúvida o bem e o mal bem distintos (a Dra. Kay Scarpetta, de Patricia Cornwell, ou a Promotora Katie DiMaio, de Mary Higgins Clarck) estão do lado da justiça.
Ao ler estas histórias de crimes sangrentos, doentias, que nos deixam cheios de susto e de "medos" penso como eram ingénuos os duros de Chandler e de Hammett!
Que boa era a ingenuidade deles.
Como o era Maigret, com todas as suas branduras ou formas de ternura quando deixa “escapar” certos culpados (que foram “empurrados” para um crime que a sua natureza logo condenou)...
Mas a apresentação de um mal "quase inelutável", dos assassinos "psicopatas" incontroláveis, apesar da atracção, deixam-nos uma forma de susto, de inquietação: será bom falar tanto deste "evil" -mal, seres diabólicos- que nos rodeia? Não será "banalizá-lo"? Trazê-lo só à superfície -sem qualquer preocupação de o explicar/reprimir/ ajudar?
Pergunto eu...
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(1) outros livros de MHC: "I'll be seeing You"; "All Around the Town"
(2) outros livros de Patricia C: o seu primeiro romance, (recebido com grande sucesso) é "Post Mortem", depois vem "The Body Farm", "The Body of Evidence"
3)outros livros de R.S: "Double Delight"
(4) outros livros de B.V: "A Fatal Inversion"
(4) outros livros de B.V: "A Fatal Inversion"
Nâo costumo ler livros policiais,mas interessa-me muito,como a você,a razâo de ser dos comportamentos humanos,o mundo dos outros,o claro-escuro do que mostramos e escondemos,às vezes,de nós próprios.O que nos leva a ter ou nâo ter esse tâo anelado equilíbrio emocional.M.
ResponderEliminarÉ isso mesmo que no fim e ao cabo procuramos: perceber os outros, muitas vezes -sempre- através de nós próprios, mas também "abrindo" o espírito a outros comportamentos, seja em que campo for...
ResponderEliminarAbraço e obrigada por vir visitar o blog...