sábado, 14 de maio de 2011

Encontro no Café Nicola

A vida é maravilhosa!

Maravilhosa? E por quê?", perguntarão alguns, surpreendidos.

“Se só se ouvem desgraças nos telejornais, catástrofes várias, acidentes mortais, terramotos, pobreza, desemprego, etc.?”

Tudo isso é verdade e bem triste.

Mas eu falava das maravilhas da natureza humana, da riqueza das almas - que ainda encontramos por aqui e ali, neste mundo cheio de matéria e lucro e negócios e mais valias (ou menos valias, depende...) e bolsas e débitos...

Desta vez vou falar de gentes do outro lado de mar. Do chamado país irmão.

E de certas vantagens que a internet traz, nos encontros, que são inegáveis.

Já conto a história.
Isto foi só para “criar suspense”...

Pois então aqui vai...

Conheci, pela internet, algumas pessoas que já considero “amigas”. Virtuais, que importa?




Podemos estar em sintonia com pessoas que deixámos de ver há anos, que nunca vimos, que nunca veremos...

A primeira dessas pessoas, por acaso, foi a Maria - que me escreveu no longínquo ano de 2009 ( o meu blog fez 2 anos em Abril passado...esqueci-me de comemorar!), e que eu, por uns tempos, julguei que era uma outra amiga.


De repente “descobri” (ou não fosse eu amadora de livros policiais desde os meus 9 anos!), pelas pistas dos acentos, de certas expressões, que havia ali um pouco de Espanha...


Um dia, ela começou a escrever um blog, - cuja leitura vos aconselho! (“ainda é de dia” ) e cujo primeiro post – ainda em português (porque hoje escreve-o só em espanhol) - se intitulava “Carta a uma desconhecida”.


Essa desconhecida era eu.




Quem sabe se um dia não nos encontraremos "realmente"... no Café Nicola?!


Bem, depois da Maria vieram outras e outros amigos: a Ana, a Isabel, a Paula, a Virgínia, o Mr. Butterfly, as 5 amigas da “Cozinha dos Vurdóns”, o Érico Cordeiro e tantos tantos outros... E a Carlota! Como esquecer a Carlota?

Por vezes, o “virtual” pode tornar-se "realidade" (como aconteceu com a Carlota, no Café do Diamantino, em Portalegre...)

E assim aconteceu.


Na semana passada, “vi” – sim, como dizia Camões: “vi, claramente visto”- apresentar-se-me um mundo novo, ainda desconhecido, mas adivinhado: o grupo de quatro, das minhas 5 amigas dos Vurdóns! A 5ª a quem eu chamo Rainha tem 86 anos e vive para lá de Minas Gerais. Mas há.de vir um dia.
fotos do Café Nicola (M.J.F.)



Vieram a Portugal, combinámos um encontro no Café Nicola, do Rossio, que eu adoro! Sentámos a conversar e a tomar café e "pastéis de nata" (os tais famosos de Belém).


Passeámos por ali perto. Rossio, 1º de Dezembro, quase até à estação do Rossio, ido pelas traseiras da Praça.


Depois, fomos até à Brasileira do Chiado.

Sentar, para mais um cafèzinho e muita água -estava um dia de calor! Comer um bolinho de arroz (para comprovar que, aqui, bolinho de arroz é doce! no Brasil é salgadinho...).

Depois continuámos a subir a rua, entrámos nas igrejas do Chiado. Ouvimos "o sino da minha aldeia" tocar na Igreja dos Mártires.


Por fim, dissemos adeus.
Até um dia!



O Nicola lembra-me os velhos cafés da minha infância, quando vinha a Lisboa e tudo me deslumbrava. E o Rossio era uma festa.


Nesses tempos idos, o meu preferido – aliás, era o preferido do meu pai, onde vinha encontrar os seus amigos da Universidade, esses outros maravilhosos amigos: Marques Cardoso, Viterbo Moreno, Cruz Costa- ... o meu preferido era o Café Chave d’Ouro...
entrada principal do Chave de Ouro, hoje agência da Caixa Geral




Era lá que ia comer o célebre bife à Chave d' Ouro - com as eternas batatas fritas crocantes...
Hoje desapareceu e está lá a Caixa Geral de Depósitos...


O Café ficava em baixo, no rés-do-chão, mas os almoços eram no restaurante no primeiro andar - que tinha a particularidade de ser aberto, espécie de galeria cortada em quadrado, sobre o café lá em baixo.

o interior "fantástico" do Café Chave de Ouro

Eu, que fui sempre curiosa, gostava de ficar ou ao canto da janela, a ver a Praça que me deslumbrava (Oh! aquele Rossio era tão diferente do meu Rossio de Portalegre!) ou, então, nas mesinhas que rodeavam a abertura lá para baixo.

Vejo subir as espirais de fumo dos cigarros, o cheiro a tabaco e a café, ouço o ruído das taças de café, os criados a ir e vir com bandejas prateadas e tudo era um encanto...




Desta vez o Café Nicola funcionou com esse mesmo encanto: a descoberta de pessoas que guardaram a beleza da adolescência, que procuram ajudar os outros, que fizeram da solidariedade um valor e que vivem intensa e inteligentemente o seu dia a dia.
Indignando-se. Protestando. Agindo.



Com um sorriso aberto.
A Elisa, a Márcia, a Flávia e a Lu.


Move-as o desejo da igualdade do ser humano: de oportunidades para todos, recusa de qualquer forma de racismo, a procura da justiça, seja em que campo for.


Na vida, são homeopatas, arquitectas, sociólogas, técnicas eram quatro mulheres cheias de amor à vida e vontade de dar, de construir...


Foi como se nos tivéssemos conhecido desde sempre.


Abri-me como se se tratasse de velhas amigas da infância.

Depois, segunda maravilha, traziam-me uma surpresa! De um outro amigo virtual. De facto, o amigo Érico do blog "Jazz+Bossas+Baratos" tinha-me enviado –com uma dedicatória!- o livro sobre Jazz, saído há pouco no Brasil, “Confesso que Ouvi” (Editora Azulejo, 2010).
Já aqui está o livro. Tanta coisa para ler e aprender ainda sobre jazz!

Quis falar hoje destas duas coisas maravilhosas que me encheram a alma ("seja lá o que el fôr", como costuma dizer a minha amiga Luísa)!

Obrigada, amigos!

Tanto mar, não é?, mas sempre é possível encontrar amigos!




Basta procurar. Basta acreditar! Basta querer!

(1) História do Café Nicola:

Fundado no século XVIII por um italiano chamado Nicola Breteiro (?), no Rossio, foi durante séculos um lugar de tertúlias de intelectuias, iintercâmbio de ideias, debates literários e propaganda de opiniões...Por isso lhe chegaram a chamar “Academia”.
O poeta Bocage era um dos seus frequentadores mais assíduos. Conta-se uma história (real? Inventada, como tantas as que se atribuíram ao poeta?): saía ele do Nicola e um polícia pede-lhe para se identificar. Parece que o poeta respondeu:

“Eu sou Bocage
Venho do Nicola
Vou p’ro outro mundo
Se dispara a pistola”.


Em dado momento, o Café Nicola, devido à pressão política e por ser cenário de muitos recontros desses intelectuais com a polícia, é obrigado a fechar.
Outros o substituíram. Mas, em 1929, Joaquim Fonseca Albuquerque que fora empregado do Nicola volta a abrir as suas portas “recriando” a atmosfera do velho café.
A fachada é renovada pelo arquitecto Norte Júnior, trabalho que lhe fez vencer vários prémios.
Dentro, bela decoração em talha de madeira, ferros forjados e belos candeeiros art nouveau. Uma escultura de Marcelino de Almeida representando Bocage e telas do pintor Fernando Santos enriquecem o café, culturalmente.


"Outro detalhe importante relativo ao Café Nicola são os ‘pacotes de açucar’ originais

e únicos. O Café Nicola sabendo que hoje em dia milhares de pessoas em todo o mundo colecionam ‘pacotes de açucar’ acabou por lançar diversas séries contendo frases e temas diversificados. Como mostra abaixo a imagem cortesia do site: Café Nicola"



pacotinho de açúcar Nicola

(2) as fotografias antigas do Café Chave d'Ouro (a fachada) e do Nicola e fachada da Brasileira encontrei-as no interessante blog http://lisboadesaparecida.blogspot.com/



(3) O Café Chave de Ouro


"Um dos maiores cafés de Lisboa no seu tempo, fundado em 1916, herdou o nome de uma antiga casa de ferragens que ali esteve instalada. Está hoje transformado numa delegação da «Caixa Geral de Depósitos» no lado Ocidental desta bela Praça do Rossio.
O «Café» propriamente dito funcionava no rés-do-chão e numa galeria à altura do primeiro andar. Os restantes pisos eram ocupados por uma magnifica sala de bilhares, um salão de chá e um restaurante, de onde se avistava excelente panorama sobre a Baixa".


No blog abaixo indicado encontrei as outras duas fotografias do Café Chave de Ouro, uma delas de 1930 da Praça D. Pedro IV com o Café ao fundo-



14 comentários:

  1. Que maravilha!
    Devem ser pessoas encantadoras.
    É muito bonito ouvir e ver esta história duma amizade feita assim.
    A vida é maravilhosa sim. Maravilhosa e surpreendente às vezes.

    Um beijinho
    Isabel

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  2. Entao nas fotos do post hà as 4 (das 5) cozinheiras! Che bella sorpresa! MJ isto é o que gostaria que podria acentecer um dia: um belo encontro de muitas de nos. Ciao e buon fine settimana!

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  3. MJ Falcão,
    Que história(s) mais linda(s)!
    Talvez um dia eu também a conheça no Nicola, café que gosto bastante e cujo bife é divinal.

    Agora se me permite, direi à Elisa, à Márcia, à Flávia e à Lu que bom é conhecê-las visualmente. E ainda, enviar um beijo para a 5ª a rainha que ficou no Brasil. E quem sabe, talvez um dia também as conheça.

    MJ Falcão estes momentos são especiais e mundo torna-se mais perto e mais humano!
    Tudo tão bonito!
    Não conheci o café Chaved'Ouro, o que lamento.
    Foi uma verdadeira surpresa.
    Beijinhos. :)

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  4. Olá, Falcão!

    Que coisa boa esse encontro de amigas!!

    As interações construídas no blog unem afinidades e estabelecem vínculos reais.

    Sempre é tempo de saborear um café em companhia de bons amigos!

    Abraço e carinho.

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  5. Que encontro tão bonito!

    "Podemos estar em sintonia com pessoas que deixámos de ver há anos, que nunca vimos, que nunca veremos..." - sinto exactamente o mesmo :)

    Abraço

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  6. Ainda bem que não sou só eu a pensar assim!
    Há uma "empatia" que acontece não se sabe por quê com certas pessoas...e não acontece com outras.
    A Lívia e Virgínia são duas pequenas (porque eu sou mais velha...) "almas gémeas" minhas...
    beijinhos e bom domingo!
    o falcão

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  7. Pois é mesmo, Ana! São as maravilhosas mulheres da Cozinha dos Vurdóns! Foi uma descoberta maravilhosa...
    Bem diz a Isabel que a vida é maravilhosa! Porque, apesar de tudo, é maravilhosa! Nós é que temos de "abrir" os olhos para a ver. E não perder momentos bons que nos compensam de outros menos bons...
    Nela, também tens que aparecer no Café Nicola da próxima vez... desta, andámos com os caminhos "trocados"!
    Acho que havemos de nos encontrar todas um dia o Nicola! O bife continua a ser bom e o "bacalhau à lisbonense" também...
    As nossas "cozinheiras" andam de viagem e só voltam ao Brasil lá para Junho! Mas dir-lhes-ei que todos gostámos delas.
    beijosn e bom week enn!

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  8. Querida M. J. Falcão,
    Me senti como se estivesse com vocês, no Café Nicola, a comer pastéis de nata e a prosear com as amigas. Decerto ainda haveremos de nos conhecer pessoalmente - parafraseando Chico, sonho com o dia em que o Brasil cumpra o seu ideal e torne-se um enorme Portugal!
    Um abraço fraterno!

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  9. Oh, que bonito!
    As “Vurdóns girls” lembram-me a maravilhosa série “ The Golden girls”, por essa cumplicidade que só pode existir entre mulheres, essa união que forma um todo feito de varias energias, em que cada uma aporta algo diderente e enriquecedor.
    Achei-as “guapas”, jovens, alegres (faltaste tu na foto!), desejo-lhes uma óptima estancia em Portugal. Beijinhos para todas , e obrigada pela referencia a mim e ao meu blog.
    Talvez um dia nos encontremos.

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  10. Ó Maria! Essa das Vurdóns girls é o máximo! Sei que elas também gostariam! Foi essa sensação de "reencontro" que tive: alguém que me podia entender.
    Nós havemos de nos encontrar um dia! Como no?
    Eu nas fotos nunca apareço! Adoro tirar fotos. Detesto ver-me nelas. eu sou a repórter...
    beijos

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  11. Obrigada, amigo Érico! Sem dúvida que o Brasil é o país amigo por excelência, mas talvez não tenha grande vantagem em ser "um enorme Portugal"...
    Abraço e bom domingo!
    o falcão

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  12. Bjs a todos...sempre com carinho. Encontrar o Falcao semeador foi um presente. Quem sabe um dia encontramos todos nòs no cafè Nicola. Fica o desafio a se pensar.

    Bjs a todos e a vocë falcao e Manuel, com carinho e saudades.

    Cozinha dos Vurdòns

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  13. Minha cara amiga

    Belo,como sempre.
    Pode ser-se amigo de quem não se conhece,pode.
    Vão valendo essas coisas boas na vida.
    Muitas conversas e debates tive no Nicola,depois mais no Gelo,mudaram-se,para lá,alguns amigos.

    Cordial abraço,
    mário

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  14. Aquela Carlota sou eu!!!!
    Quando se encontra almas como a MJ e o M. é difícil não marcar um encontro com vocês, conhecer-vos pessoalmente.
    Ouvir falar tanto de vocês através da Mané, fez-me bisbilhotar este fantástico blogue que eu adoro ler, por vezes não comento tanto como gostaria, mas é sempre um prazer visitar.
    Aqui temos a prova, que isto da internet só é mau, para quem procura o mal.
    Um abraço saudoso de Portalegre!!!

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