domingo, 20 de maio de 2012

EMILY BRONTË e "O Monte dos vendavais"

Emily Brontë

Emily Brontë nasceu em Thornton em 30 de Julho de 1818 e morreu a 19 de Dezembro de 1848, com 30 anos.
Deixa uma única obra “O Monte dos Vendavais” (Whudering Heigts).
Antes, muito jovem, entreter-se-á com as irmãs e com o irmão a escrever histórias em volumes minúsculos que elas próprias faziam.
Mais tarde, escreve poemas que publicará –com outras poesias das irmãs- numa Antologia, em Maio de 1846 (em baixo, o livro de poesia das Brontë, na Amazon.com).

A poesia de Emily Brontë é muito amada, ainda hoje, bem conhecida pelos amantes da poesia inglesa.
As três irmãs usaram os pseudónimos de  Currer (Charlotte), Ellis (Emily) e Acton (Anne) Bell.

Pseudónimos de “consonância” masculina. Porque, no fundo, sabiam que ser mulher era uma contingência a que se fechavam certas portas. A própria Georges Elliot escreveu com nome de homem.
De facto, no Prefácio, escrevem:
Contrárias à publicidade pessoal, decidimos esconder os nossos verdadeiros nomes. Uma escolha ambígua que evita recorrer a nomes claramente masculinos, não querendo declarar que éramos mulheres.”
A própria Georges Elliot escreveu com nome de homem...
Imaginação, observação? Pouco tinham para “observar” no presbitério isolado de Hawworth...
O mesmo tipo de “isolamento”  acontecera a Jane Austen e todas elas, no fundo, conseguem ir ao âmago das almas e, do pouco que observaram, tanto tiraram.
É verdade que Emily viveu em Bruxelas, com a irmã mais velha, Charlotte, onde foram ambas professoras. Emily ensinava música. Mas viviam num Internato, pouco terão visto do que se passava cá por fora.
Sabe-se que Emily era muito tímida e que preferia isolar-se. Mesmo em Bruxelas foi-lhe difícil criar relações, fechando-se sobre si própria, em casa, ou no quarto.
A sua poesia revela o mesmo sentimento de solidão, desespero, revolta e ...aceitação? Pouco tempo antes de morrer, escreve:

“No coward soul is mine,
No trembler in the world’s storm-
troubled sphere:
I see Heaven’s glories shine,
And faith shines equal, arming me
From fear.” 
(Emily Brontë, Last Lines)

O que teria sido Emily se tivesse vivido um pouco mais? Que outros romances teria escrito? O que haveria ainda de tumultuoso e profundo, dentro dela, para contar?
O livro sai em 1847, com um prefácio assinado por Charlote, com o pseudónimo Currer Bell (ver *).
Considerado por muitos um “romance gótico”, é, no entanto, muito mais do que isso. Fala de horror, do sobrenatural, é certo: de almas que querem voltar, para poder ser felizes e reencontrarem os seres que amaram?
O terror intenso do pesadelo entrou em mim: tentei afastar o braço, mas a mão agarrou-o, e uma voz melancólica soluçou, 'Deixa-me entrar – deixa-me entrar!' 'Quem és?', perguntei, lutando ao mesmo tempo para me libertar. 'Catherine Linton.' "
Só que Catherine Linton tinha morrido há muitos anos. Como “volta” ela à casa onde vivera? 

Este romance atraiu sempre e "inspirou" filmes e até canções. Romantismo trágico, sentimentos fortes, paixões...
Kate Bush, capa do CD, "Wuthering Heights"

Em 1978, Kate Bush inspirando-se no romance escreve uma canção com o mesmo título.
Nos versos ouvimos Catherine Earnshaw “falar”. Ouvimos  o pedido que o seu “fantasma” faz: 
Let me in! I’m so cold”, que é o refrão da  canção...
Ouçam o belo o solo final de guitarra, tocado por Ian Baimson, do grupo “The Alan Parson Project” - grupo de rock progressivo inglês, formado nos anos 70 por Alan Parson e Eric Woolfson. 
Laurence Olivier no filme de Wyler

No meio dos ventos uivantes, dos temporais e das tempestades da natureza - e dos seres dos humanos-   Cathy vem bater à janela do quarto que fora de Heathcliff.


Vem desinquietar o viajante, de passagem naquele quarto, tantos anos depois?
Mais do que o terror de certas “situações” (como esta), a ideia do sobrenatural que “invade”  o dia a dia das personagens, a verdade é que essas personagens sentem intensamente, vivem dramas inexplicáveis que porém não têm nada de sobrenatural: são do natural da alma, amores de perdição como os do Camilo.
A violência dos sentimentos, das paixões engendram ódios e ressentimentos que o tempo não destrói.
"Wuthering Heighs" (1939)

Muito se filmou também aproveitando os sentimentos do "Monte dos Vendavais"!


Talvez as melhores imagens sejam a do filme que "dedicou" William Wyler ao livro inesquecível. Com três actores especiais, do cinema de sempre: Merle Oberon, Laurence Olivier e David Niven.
Mas disso - dos sentimentos, de certa forma de paixão e da perversidade e egoísmo do amor -  Camilo também sabia. Ele poderia compreender tudo isto.
Eu chorava tanto por ele como por ela; às vezes temos compaixão por criaturas que não têm esse sentimento nem por elas próprias, nem por outras pessoas.” 

Dores que chocam e fazem sofrer mesmo os que estão “de fora”. Nós próprios, leitores.
Cemitério de Old Brompton, Londres (foto de MJF)



Emily Brontë morreu com 30 anos e  está enterrada na Igreja de St. Michael and All Angels, em Haworth, com as irmãs.


Na Catedral de Westminster, no "Canto dos Poetas", encontra-se uma lápide assinalando o nome das Irmãs Brontë.


6 comentários:

  1. Um dos meus livros preferidos (na edição de bolso em que o li, tinha por título O Monte dos Ventos Uivantes).

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  2. Gostei muito de ler o post.
    Esta canção da Kate Bush, tantas vezes a ouvi. Na altura fez sucesso, mas não sabia que tinha a ver com a história.
    Um beijinho

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  3. Um belo livro, uma bela história, um belo post.
    Parabéns pelo poema na Cozinha dos Vurdóns. :)
    Beijinho. :)

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  4. Referia-me ao Monte dos Vendavais. Bjs. :)

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  5. Não conhecia as suas últimas palavras, foi muito infeliz, mas deixou-nos uma história que é uma fonte inesgotável de inspiração. Não sei se a ela a compensou do que não viveu, mas nós nunca a esqueceremos, o seu livro passa de mães a filhas,( e suponho que a alguns homens sensíveis também lhes interessará)
    Aí estão as sucessivas versões cinematográficas que demonstram o interesse que continua a despertar.Como o teu post!
    Beijinhos

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  6. Preciso ler de novo, esse post me deixou com vontade de rever páginas que passaram sem a compreenção de hoje.
    Não conhecia a história e adorei saber.

    bjs querida, saudades.

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