Andaram quietos uns tempos, depois, vendo a debandada geral nestes últimos dias,
decidiram que “também” eles iam viajar!
Sempre o sonho, claro, a imaginação. E a poesia dos meus
amigos...
Desta vez, começaram pela ideia de ir ao México! Bem, coisas do
ouricinho que encontrou na minha escrivaninha um chapéu de linha (feito pela
minha tia Nina!) que ele achou ser chapéu mexicano.
Foi até convencer a gatinha japonesa a ir com ele, já
que o ratinho não queria. O ratinho não estava convencido, foi vê-los “vestidos” de mexicanos, prontos
para a partida, e riu-se.
- Ha! ha! Viste aqueles dois? Chapéus daqueles não se usam no
México. São como os de palha que se usam no...
Hesitou. Interrompi-o:
- No Alentejo? É isso que queres dizer?
Ele sabia que eu sou alentejana e talvez não quisesse tornar
a minha terra ridícula, falando daquela imagem - de facto enternecedora mas
ridícula- do ouricinho mais a sua amiga
japonesa.
- Bem, não sei se era nisso que estava a pensar... Eu...
- Sim, tu. Tu onde queres ir?
E os olhos sonhadores do meu amigo Ratinho olharam para a rua, para o céu aberto.
Longe. Algures no grande mundo, havia o seu sonho!
A Itália?
Voltar a Roma?
A Índia?
Jerusalém?
Lembrei-me do ouricinho que adorava estar na cozinha a ver as "vistas" presas ao micro-ondas e a imaginar passeios...
Em que pensaria o Ratinho? Vira-os a brincar com umas minúsculas "matrioshkas"!
Pensaria na Rússia?
Voltar a Roma?
A Índia?
Jerusalém?
Lembrei-me do ouricinho que adorava estar na cozinha a ver as "vistas" presas ao micro-ondas e a imaginar passeios...
Em que pensaria o Ratinho? Vira-os a brincar com umas minúsculas "matrioshkas"!
Pensaria na Rússia?
- Não sei
bem.
Poeta e sonhador, o Ratinho
era um hesitante às vezes. Gostava de reflectir antes de decidir fosse o que
fosse. E tinha tantas ideias na cabeça!
- Queria ir muito longe, sabes? Perder-me pelos
sítios, vendo as paisagens, os céus sempre diferentes, as nuvens sopradas pelo
vento. E sem pensar em nada. Só a olhar,
a observar a cor das folhas das árvores.
- Eu sei. Eu
gosto deles sempre. Mas...
Voltou a
olhar para fora.
- Ver coisas
diferentes! É isso que eu gostaria, numa viagem. Não queria repetir, não. Nunca
voltaria aos sítios onde fui feliz.
Pensou um pouco, e acrescentou:
- Como certas pessoas que voltam sempre ao mesmo ponto como se andassem à roda e nunca avançassem.
Pensou um pouco, e acrescentou:
- Como certas pessoas que voltam sempre ao mesmo ponto como se andassem à roda e nunca avançassem.
- Conheço
algumas pessoas assim... Percebo o que queres dizer. Como dizia o poeta
italiano: “nessun maggior dolore/ che ricordarsi del tempo felice/ nella miseria"...
- Quem disse?
- O Dante...
- Ah! No Inferno...Tinha razão! Para quê voltar atrás? Para ser infeliz? Tanta coisa nova para descobrir! É o nosso olhar que “cria” as coisas! Até aqui eu posso imaginar.
- O Dante...
- Ah! No Inferno...Tinha razão! Para quê voltar atrás? Para ser infeliz? Tanta coisa nova para descobrir! É o nosso olhar que “cria” as coisas! Até aqui eu posso imaginar.
- Achas?
- Claro! Se
fores com os teus olhos que são só teus vais ver coisas que são só tuas!
Lembrei-me
de um livro, "A Harpa Azul de Davita", de Chaim Potok, que li há tantos anos.
O som da harpa azul é único: é o teu. É a tua voz. Profundo o meu querido amigo!
O som da harpa azul é único: é o teu. É a tua voz. Profundo o meu querido amigo!
- É verdade,
Ratinho... Depende dos nossos olhos e ninguém "vê" nada igual.
- Foste tu
que me contaste que há gente que viaja de máquina de filmar em punho e que nem
olha!
Lembrei-me
de lhe ter contado uma história que se passara em Marraquexe.
Um turista limitara-se a esticar o braço e a meter a mão na porta de um dos belos túmulos Saadiens, carregar no botão enquanto girava a mão lá dentro... E acabou-se a visita!
Tombeaux Saadiens
Um turista limitara-se a esticar o braço e a meter a mão na porta de um dos belos túmulos Saadiens, carregar no botão enquanto girava a mão lá dentro... E acabou-se a visita!
- Andar por
aqui e por ali, "viajar/perder países/ser outro constantemente", disso é que eu
gosto!"
- Estamos a
fugir ao assunto. Afinal, onde é que gostavas de ir?
- Ao
Oriente! Ao país do Sol Nascente?
Sorriu.
- Às neves eternas do Kilimanjaro! Ao Japão, ver as amendoeiras floridas! Ou aquelas árvores de folhas vermelhas que eles vão visitar no Outono!
Sorriu.
- Às neves eternas do Kilimanjaro! Ao Japão, ver as amendoeiras floridas! Ou aquelas árvores de folhas vermelhas que eles vão visitar no Outono!
Lembrei-me
de Kawabata. Acenei com a cabeça.
- Deve ser
lindo...
O ouricinho
chegou de repente, todo encarnado. Parecia zangado.
- Então e a
gatinha japonesa? Deixaste-a?, perguntei-lhe, curiosa.
O ratinho
olhava-o de lado, atento.
- É muito
parva! Não quer ir ao México. Pus-me a falar da Índia. Também não quer!
Espreitou a ver se a gatinha japonesa viera atrás dele.
- Enfeitou-se com uma malinha de mão, está reclinada numas sedas a dizer que ela queria era ir à Pérsia! Que se sente a rainha de Sabá!
Espreitou a ver se a gatinha japonesa viera atrás dele.
- Enfeitou-se com uma malinha de mão, está reclinada numas sedas a dizer que ela queria era ir à Pérsia! Que se sente a rainha de Sabá!
- Que
confusão para aí vai!
- É uma
presumida! Já não quero viajar com ela! Tu onde vais, Ratinho?
O Ratinho
pôs um ar sério.
- Ainda não
decidi...
- Vamos
escolher os dois, queres? Há tantos lugares bonitos! A Índia e as pérolas! Os
perfumes do Oriente!
Deixei-os.
Haviam de encontrar um acordo. Estavam os dois desejosos disso...
A gatinha estava triste, encostada à janela. Parecia uma princesa solitária.
Talvez pensasse no país natal pois fora buscar uma flor de amendoeira. Parecia uma geisha desorientada, fora do sítio. Tive pena dela.
A gatinha estava triste, encostada à janela. Parecia uma princesa solitária.
Talvez pensasse no país natal pois fora buscar uma flor de amendoeira. Parecia uma geisha desorientada, fora do sítio. Tive pena dela.
Afastei o
cortinado da janela. Espreitei para fora. Lá estavam as flores na varanda, a pequenina horta. Sentia a casa demasiado vazia. Voltei a
deixar cair o cortinado branco. Até me pareceu que a orquídea estava mais desbotada.
"Bom dia Mrs. Falcão e eterna mãe, joia sagrada do âmago da alma dos anjos, sou grato pela sua amizade, seu carinho e toda energia fluida de sua essência. Meu desejo ditoso desta manhã possa ser balsamo de conforto e paz em sua jornada, suas horas e minúcias de vida junto aos seus familiares. Deixo o meu coração como oferenda e curvo-me diante da sua nobreza divina nesse dia tão especial pra nos filhos órfãos em poder ofertar o carinho que tanto merecem." - Mr. Butterfly
ResponderEliminarSão uma maravilha estes diálogos. Rio-me, enterneço-me, aprendo...
ResponderEliminarSão um encanto estes bichinhos que já ganharam vida própria e que nos deixam saudades quando estão muito tempo sem aparecer.
Beijinhos e um domingo feliz
MJ,
ResponderEliminarAndar às voltas é um pouco o que me acontece porque o tempo é uma espiral constante. Voltar onde se foi feliz? É um sonho, porque não?
Viajar é um sonho, viajar é o verbo que gosto de conjugar mas por ora está mais difícil.
Obrigada por esta história de viagem.
Beijinho e saudades!
Querida e amada amiga,
ResponderEliminarviajar ... estou como eles, com saudade de tantos lugares e sem saber direito onde ir.
A rainha manda bjs, hoje e sempre.
bjs nossos e muitas saudade minhas.
Nunca fui muito viajeira, mas agora menos.
ResponderEliminarComo cantava Gardel, " el viajero que huye/ tarde o temprano/ detiene su andar."
No entanto penso que talvez deveria ter viajado mais, em vez de ter dado prioridade a outras coisas ( também já não tem importância).
Saudades aos teus bichinhos, não sei se reparaste que algumas fotos estão lindíssimas.
E deita já fora esses óculos de ver as orquídeas desbotadas!
Um beijo
Com que então anda uma orquídea pela tua casa???
ResponderEliminarAdorei e logo da cor que gosto.
Concordo com a viagem ao Japão, seria deliciosa!!
Beijo
Os seus bichinhos são uma delícia... é bom surpreeendermo-nos com os seus diálogos, as suas ideias, os seus projectos...
ResponderEliminarUm beijo
Raul