primeira página do jornal Le Monde de hoje
Ontem a França deu um passo em frente e um empurrão na Europa
ao eleger para Presidente da República o socialista François Hollande. Um passo
que se vai reflectir nas futuras escolhas da Europa e para a Europa.
Foi desde que apresentou a sua candidatura oficialmente, há cerca de um ano, o “meu candidato”.
Hollande, o homem
tranquilo, o candidato “normal”, como ele dizia que era. Penso que o Comissário Maigret gostaria dele...
Uma pessoa que queria ser um
Presidente “normal”.
"Escolhi-o", não (só) porque Hollande é um socialista, mas porque se bateu
durante a campanha contra a austeridade drástica como única medida contra a
crise.
Foi ele que falou, antes de todos os Draghi e Junker, da necessidade do crescimento como factor criador de novos empregos.
Foi ele que falou, antes de todos os Draghi e Junker, da necessidade do crescimento como factor criador de novos empregos.
Porque pôs no centro do seu programa a educação, os empregos
jovens e a protecção aos empregos “senior”.
Porque vai tentar equilibrar as contas e a dívida sem “sobrecarregar”
apenas os mais necessitados.
Porque pensa “taxar” os mais ricos e isso é justo, a meu ver.
Porque pensa “taxar” os mais ricos e isso é justo, a meu ver.
Porque criará mais lugares para professores, para que possam
fazer o seu trabalho sem cair no esgotamento em que tantos por cá – e por lá-
caíram. Professores, a profissão que mais depressões revela - e o maior número
de suicídios-, em França.
Não é –como dizia Sarkozy- dar-lhes mais dinheiro e trabalharem (ainda ) mais!
Devem receber o que lhes é devido sem acrescentar mais horas e “responsabilidades” que vêm penalizar a única responsabilidade – essa, sim, maior! - a de serem professores (apenas) e de ensinarem!
Devem receber o que lhes é devido sem acrescentar mais horas e “responsabilidades” que vêm penalizar a única responsabilidade – essa, sim, maior! - a de serem professores (apenas) e de ensinarem!
A esse recrutamento de mais professores acrescenta os de
auxiliares da educação, nos liceus mais desprotegidos, em que os problemas de
disciplina mais se agudizam.
Lembro o "frente a frente" com Sarkozy e o modo como Hollande termina, numa anáfora recorrente, de que hoje já muito se falou:
"Moi, Président de la République" ....faria isto e aquilo.
E vai enumerando tudo aquilo por que todos estamos à espera e que não é impossível!
A educação e a cultura são "fundamentais" num país que se queira "civilizado".
Como diria Sherlock Holmes: "elementar, meu caro Watson!"
"Moi, Président de la République", imaginava ainda, e dizia que iria defender a educação...
Que iria escolher pessoas para “enquadrar”, “aconselhar”, enfim, ajudar alunos e “aliviar” os professores de tarefas que talvez não sejam deles.
Lembro o "frente a frente" com Sarkozy e o modo como Hollande termina, numa anáfora recorrente, de que hoje já muito se falou:
"Moi, Président de la République" ....faria isto e aquilo.
E vai enumerando tudo aquilo por que todos estamos à espera e que não é impossível!
A educação e a cultura são "fundamentais" num país que se queira "civilizado".
Como diria Sherlock Holmes: "elementar, meu caro Watson!"
livraria Galileo, em Cascais
Que iria escolher pessoas para “enquadrar”, “aconselhar”, enfim, ajudar alunos e “aliviar” os professores de tarefas que talvez não sejam deles.
Acrescentaria lugares de “especialistas” da educação, nos casos mais
graves.
E os cursos de “preparação didáctica” para os jovens
professores acabados de formar, sem prática do que é “ensinar”, como ensinar.
Antes de os “lançarem às feras”. Não me refiro aos alunos, as feras podem ser
outras.
"Moi, Président de la République..." E falava das pessoas...
capa do semanário inglês "The Economist" da semana passada
“Escolhi-o” quando comecei a ouvi-lo. Gostei do seu ar calmo, do humor, da inteligência e facilidade de falar, sem nunca ceder à má-educação do seu adversário ou responder a
certas provocações verbais violentas, mesmo dentro do seu próprio campo.
Seguiu o seu caminho, defendeu o seu programa e andou a explicá-lo pela França. Foi um percurso solitário de início, sem apoios no próprio partido socialista, com teimosia.
Depois as pessoas começaram a ouvi-lo, a ter confiança.
Seguiu o seu caminho, defendeu o seu programa e andou a explicá-lo pela França. Foi um percurso solitário de início, sem apoios no próprio partido socialista, com teimosia.
fotografia in Le Monde de hoje
Depois as pessoas começaram a ouvi-lo, a ter confiança.
E convenceu.
Não será o Salvador – não há
salvadores, em política. Será um político correcto, e sério - nisso acredito.
O primeiro discurso que fez, já como Presidente, em Tulle, cidade onde foi Presidente do Conselho Geral da Corrèze (Normandia) anos seguidos, foi simples e
directo.
Sem excessos, nem teatros.
Não se agitou, não
insultou nem troçou de ninguém, não falou em ondas que vão e vêm, como Sarkozy "surfava", enquanto se encostava à onda da extrema direita, do Front National.
capa do "Nouvel Observateur", recordando talvez "O retrato de Dorian Gray"
Vaga perigosa, onde, afinal, se afogou...
Num jogo de espelhos opacos, negros e perigosos. Escolhendo "amigos" que não deveria.
"Até breve, amigos!", despede-se ele, e a assistência, comovida, comenta:
"Foi o melhor discurso que ele fez..."
Hollande não falou de “pestíferos”,
não “escolheu” campos. Não falou do perigo das cores ou das religiões. Não assustou ninguém.
Mas afirmou-se socialista, sem ter vergonha de o ser. Neste momento é preciso
claridade nos discursos políticos. Ele teve esse discurso.
No final, veio um grupo de acordeonistas (Tulle é a cidade
dos acordéons) e tocaram “La vie en rose”.
Num dos cantos da praça, um toldo, o do "Café l'Abbaye" onde os amigos, os participantes, vão passanso, a comer uns petiscos. Diz uma pancarta: "aqui não é o Fouquet's, é só L'Abbaye".
Na luz ténue do palco, na Praça da Catedral de Tulle, houve quem cantasse. A atmosfera era festiva mas tranquila.
"Il est entré dans mon coeur/une part de bonheur/dont je connais la cause", diz a canção. E havia felicidade naqueles rostos, ao som do acordeão...
Com tudo o que Edith Piaf soube expressar e ali sentimos também. Uns passos de dança sorridente, umas rosas que entrega depois à companheira.
Num dos cantos da praça, um toldo, o do "Café l'Abbaye" onde os amigos, os participantes, vão passanso, a comer uns petiscos. Diz uma pancarta: "aqui não é o Fouquet's, é só L'Abbaye".
Na luz ténue do palco, na Praça da Catedral de Tulle, houve quem cantasse. A atmosfera era festiva mas tranquila.
"Il est entré dans mon coeur/une part de bonheur/dont je connais la cause", diz a canção. E havia felicidade naqueles rostos, ao som do acordeão...
Com tudo o que Edith Piaf soube expressar e ali sentimos também. Uns passos de dança sorridente, umas rosas que entrega depois à companheira.
Não será com certeza "la vie en rose" o que ele vai encontrar...
Acredito nesta luz, dentro da escuridão em que nós nos
encontramos por aqui! Em que andar ...é
só para trás, como o caranguejo, sacrificando os mais desgraçados, fogos-fátuos
neste cinzento dos dias de hoje.
Entusiasmou-me esta vitória! Depois dos “indignados”, de
Stéphane Hessel, de tantas “boas intenções” e tantas más intenções... quero
acreditar que a mudança pode ser!
Disse o novo Presidente da França: “Moi j’aime les gens. Il
ya d’autres qui aiment l’argent."
Fácil perceber o trocadilho que revela preferências (diversas do anterior Presidente, tão dedicado ao “bling-bling”).
Para François Hollande, primeiro estão as pessoas.
Finalmente ouve-se uma coisa boa: os seres humanos vêm "antes" do dinheiro!
Fácil perceber o trocadilho que revela preferências (diversas do anterior Presidente, tão dedicado ao “bling-bling”).
Para François Hollande, primeiro estão as pessoas.
Finalmente ouve-se uma coisa boa: os seres humanos vêm "antes" do dinheiro!
Vejo os jovens que festejavam na Place de la Bastille,
enquanto dizem, apontando uns para os outros: “aqui há de tudo: brancos,
pretos, todos somos iguais!”
Gostei.
Boa sorte ao Presidente Hollande!
P.S. Na Grécia, depois de duras lutas de rua, a viragem da "indignação" foi forte...
Leiam:
http://sobreorisco.blogspot.pt/2012/05/grecia-disse-nao.html
P.S. Na Grécia, depois de duras lutas de rua, a viragem da "indignação" foi forte...
Leiam:
http://sobreorisco.blogspot.pt/2012/05/grecia-disse-nao.html
Só resta esperar para ver como é que a Europa vai mudar a sua face.
ResponderEliminarJá é algo de esperançoso.
Beijinho, MJ!:)
Oxalá que este homem consiga reencaminhar a França, e de passo nos encaminhe também por o caminho da salvação a todos os países que estamos com a água ao pescoço.
ResponderEliminarVamos a ter esperança, que bastante falta nos faz!
Beijinhos
Um post carregadinho de esperança (e também alguma fé).
ResponderEliminarOxalá seja o princípio da mudança na Europa.
É bom poder acreditar em alguém, ter esperança que alguma coisa pode começar a mudar para melhor.
ResponderEliminarTambém quero acreditar que a mudança pode ser.
Um beijinho
Já comprei livros na Galileu. Gosto de lá ir.
ResponderEliminarEu quero acreditar que vai ser um sopro mais puro nesta Europa que tanto abandonou os valores das pessoas para "cultivar" as finanças, os dinheiros e defender os bancos!
ResponderEliminarEsperança!