terça-feira, 8 de maio de 2012

Ontem, 6 de Maio, deu-se um passo em frente, na Europa!

primeira página do jornal Le Monde de hoje

Ontem a França deu um passo em frente e um empurrão na Europa ao eleger para Presidente da República o socialista François Hollande. Um passo que se vai reflectir nas futuras escolhas da Europa e para a Europa.

Foi desde que apresentou a sua candidatura oficialmente, há cerca de um ano,  o “meu candidato”. 

Hollande, o homem tranquilo, o candidato “normal”, como ele dizia que era. Penso que o Comissário Maigret gostaria dele...

Uma pessoa que queria  ser um Presidente “normal”.

"Escolhi-o", não (só) porque Hollande é um socialista, mas porque se bateu durante a campanha contra a austeridade drástica como única medida contra a crise.


Foi ele que falou, antes de todos os Draghi e Junker,  da necessidade do crescimento como factor criador de novos empregos.

Porque pôs no centro do seu programa a educação, os empregos jovens e a protecção aos empregos “senior”.

Porque vai tentar equilibrar as contas e a dívida sem “sobrecarregar” apenas os mais necessitados. 


Porque pensa “taxar” os mais ricos e isso é justo, a meu ver.

Porque criará mais lugares para professores, para que possam fazer o seu trabalho sem cair no esgotamento em que tantos por cá – e por lá- caíram. Professores, a profissão que mais depressões revela - e o maior número de suicídios-, em França.



Não é –como dizia Sarkozy- dar-lhes mais dinheiro e  trabalharem (ainda ) mais!


 Devem receber o que lhes é devido sem acrescentar mais horas e “responsabilidades” que vêm penalizar a única responsabilidade – essa, sim,  maior! - a de serem professores (apenas)  e de ensinarem!

A esse recrutamento de mais professores acrescenta os de auxiliares da educação, nos liceus mais desprotegidos, em que os problemas de disciplina mais se agudizam. 


Lembro o "frente a frente" com Sarkozy e o modo como Hollande termina, numa anáfora recorrente, de que hoje já muito se falou: 


"Moi, Président de la République" ....faria isto e aquilo. 


E vai enumerando tudo aquilo por que todos estamos à espera e que não é impossível! 
A educação e a cultura são "fundamentais" num país que se queira "civilizado".


Como diria Sherlock Holmes:  "elementar, meu caro Watson!"


livraria Galileo, em Cascais

"Moi, Président de la République", imaginava ainda, e dizia que iria defender a educação...

Que iria escolher pessoas para “enquadrar”, “aconselhar”, enfim, ajudar alunos e “aliviar” os professores de tarefas que talvez não sejam deles.


Acrescentaria lugares de “especialistas” da educação, nos casos mais graves.

E os cursos de “preparação didáctica” para os jovens professores acabados de formar, sem prática do que é “ensinar”, como ensinar. Antes de os “lançarem às feras”. Não me refiro aos alunos, as feras podem ser outras.


capa do semanário inglês "The Economist" da semana passada

"Moi, Président de la République..." E falava das pessoas...

“Escolhi-o” quando comecei a ouvi-lo. Gostei do seu ar calmo, do humor, da inteligência e facilidade de falar, sem nunca ceder à má-educação do seu adversário ou responder a certas provocações verbais violentas, mesmo dentro do seu próprio campo. 


Seguiu o seu caminho, defendeu o seu programa e andou a explicá-lo pela França. Foi um percurso solitário de início, sem apoios no próprio partido socialista, com teimosia.
fotografia in Le Monde de hoje


Depois as pessoas começaram a ouvi-lo, a ter confiança.

E convenceu.

Não será o Salvador – não há  salvadores, em política. Será um político correcto, e sério - nisso acredito.

O primeiro discurso que fez, já como Presidente, em Tulle,  cidade onde foi Presidente do Conselho Geral da Corrèze (Normandia) anos seguidos,  foi simples e directo.

Sem excessos, nem teatros.

Não  se agitou, não insultou nem troçou de ninguém, não falou em ondas que vão e vêm, como Sarkozy "surfava", enquanto se encostava à onda da extrema direita, do Front National.

capa do "Nouvel Observateur", recordando talvez "O retrato de Dorian Gray"


Vaga perigosa, onde, afinal, se afogou... 
Num jogo de espelhos opacos, negros e perigosos. Escolhendo "amigos" que não deveria.



Deixo-vos a caricatura do Le Monde de hoje, a derrota de Sarkozy, pelo olhar de Plantu: 


"Até breve, amigos!", despede-se ele, e a assistência, comovida, comenta:  


"Foi o melhor discurso que ele fez..."

Hollande não  falou de “pestíferos”, não “escolheu” campos. Não falou do perigo das cores ou das religiões. Não assustou ninguém.

Mas afirmou-se socialista, sem ter vergonha de o ser. Neste momento é preciso claridade nos discursos políticos. Ele teve esse discurso.

No final, veio um grupo de acordeonistas (Tulle é a cidade dos acordéons) e tocaram “La vie en rose”. 


Num dos cantos da praça, um toldo, o do "Café l'Abbaye" onde os amigos, os participantes, vão passanso, a comer uns petiscos. Diz uma pancarta: "aqui não é o Fouquet's, é só L'Abbaye".


Na luz ténue do palco, na Praça da Catedral de Tulle, houve quem cantasse. A atmosfera era festiva mas tranquila.








"Il est entré dans mon coeur/une part de bonheur/dont je connais la cause", diz a canção. E havia felicidade naqueles rostos, ao som do acordeão...


Com tudo o que Edith Piaf  soube expressar e ali sentimos também. Uns passos de dança sorridente, umas rosas que entrega depois à companheira.

Não será com certeza "la vie en rose" o que ele vai encontrar...

Acredito nesta luz, dentro da escuridão em que nós nos encontramos por aqui!  Em que andar ...é só para trás, como o caranguejo, sacrificando os mais desgraçados, fogos-fátuos neste cinzento dos dias de hoje.

Entusiasmou-me esta vitória! Depois dos “indignados”, de Stéphane Hessel, de tantas “boas intenções” e tantas más intenções... quero acreditar que a mudança pode ser!



Disse o novo Presidente da França: “Moi j’aime les gens. Il ya d’autres qui aiment l’argent."


Fácil perceber o trocadilho que revela preferências (diversas do anterior Presidente, tão dedicado ao “bling-bling”).


Para François Hollande, primeiro estão as pessoas.


Finalmente ouve-se uma coisa boa: os seres humanos vêm "antes" do dinheiro!


Vejo os jovens que festejavam na Place de la Bastille, enquanto dizem, apontando uns para os outros: “aqui há de tudo: brancos, pretos, todos somos iguais!

Gostei.

Boa sorte ao Presidente Hollande!




P.S. Na Grécia, depois de duras lutas de rua, a viragem da "indignação" foi forte...


Leiam:
http://sobreorisco.blogspot.pt/2012/05/grecia-disse-nao.html

6 comentários:

  1. Só resta esperar para ver como é que a Europa vai mudar a sua face.
    Já é algo de esperançoso.
    Beijinho, MJ!:)

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  2. Oxalá que este homem consiga reencaminhar a França, e de passo nos encaminhe também por o caminho da salvação a todos os países que estamos com a água ao pescoço.
    Vamos a ter esperança, que bastante falta nos faz!
    Beijinhos

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  3. Um post carregadinho de esperança (e também alguma fé).
    Oxalá seja o princípio da mudança na Europa.

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  4. É bom poder acreditar em alguém, ter esperança que alguma coisa pode começar a mudar para melhor.
    Também quero acreditar que a mudança pode ser.
    Um beijinho

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  5. Já comprei livros na Galileu. Gosto de lá ir.

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  6. Eu quero acreditar que vai ser um sopro mais puro nesta Europa que tanto abandonou os valores das pessoas para "cultivar" as finanças, os dinheiros e defender os bancos!
    Esperança!

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