quinta-feira, 24 de maio de 2012

Hoje é o Dia do Caracol!



Hoje é Dia do Caracol. Encontrei a informação no Facebook, nos meus amigos (alentejanos) : "O Alentejo não tem fim".
Alentejanos e o seu "cante"


"Dia do Caracol? E, isto faz-me pensar: Porquê andarmos com tanta pressa, neste mundo agitado e turbulento? O dia está bonito, aproveitem para conviver com os amigos partilhando um delicioso prato de caracóis, numa esplanada em qualquer lugar bonito do Alentejo."


O caracol segue-nos desde o nascer dos tempos, o gastropoda amigo que todos observámos pelos jardins, entre as flores, quando crianças, vendo-o ir devagarinho... 


Às vezes menosprezamo-lo... Como a tartaruga, animal amoroso! "É como o caracol..." ou: "Anda como a tartaruga..."


Paul Gauguim, "Donde vimos? Para onde vamos?"


No entanto, grande é a sabedoria destes dois animais. O que é o tempo? Correr para quê? Qual é o fim de todos? Qual a pressa de ir lá ter?

Eles, com tempo vão, observam, vêem e nada os apressa.
Talvez porque não lhes importa andar depressa, mas sim apenas "andar", avançar com o seu tempo.

Como os alentejanos - sobre os quais, cedo, me habituei a ouvir anedotas, muitas vezes inventadas pelos próprios, com um belo sentido de humor.
Dórdio Gomes, a "Sesta dos ceifeiros"

"Ó compadre, então está a trabalhar sentado?" e a resposta, infalível: "pois é, compadre, já experimentei deitado mas não deu..."

No entanto, nunca vi trabalhar tão bem como um (a) alentejano(a), nem nunca vi terras tão limpinhas e casas tão caiadas como as das vilas do Alentejo.
Montemor, tarde de Verão (MJF)

Não é preciso correr, " a fingir que faz" -isso não é de alentejano. Mas sem correr, costuma fazer bem.


Quantas vezes a fugir dos outros... E a fugir da cozinheira e dos pratos como aqui no "Cansêras"...

Dizia Clarice Lispector, a propósito da vida de certos “caracóis”- ou humanos? 


Que vivem "presos" por um fiozinho que alguém lhes atou. E que, com esse fio, se convencem que o têm para si, dominado até ao fim.


O caracol pode morrer, claro... Mas, devagar!

"Seu segredo é um caracol. Do qual não esquece um instante. Seu segredo é um caracol que o sustenta. Ele o cria numa caixa de sapato com gentileza e cuidado. Com gentileza diariamente finca-lhe agulha e cordão. Com cuidado adia-lhe atentamente a morte. Seu segredo é um caracol criado com insônia e precisão." (em: "Para não esquecer", 1978)

Encontrei no blog "Terapia literária". Comentava o seu autor o que Lispector escreveu, e dizia:

“Todo mundo tem o seu caracol. Ou é caracol de alguém. Não é possível ser bom o tempo todo. Alguém tem de pagar pela minha bondade, pela minha correção, pela minha solicitude. Alguém deve ser torturado para que eu continue sendo tão ajuizado. Esta captação de Clarice é certeira. Atinge em cheio a nossa humana condição".


Paul Gauguin, "Por que estás zangada?"

Sim, também é difícil a vida do caracol!


Já agora não posso deixar de falar do livro mais horrível que li sobre caracóis: "O observador de caracóis", de Patricia Highsmith!


Quem tiver coragem...leia!



Sobre o amigo caracol:

3 comentários:

  1. Muito giro e com muita sabedoria.
    É como se costuma dizer: "Devagar se vai ao longe."

    Mas com o tempo e a idade vamos aprendendo.

    Um beijinho e boa noite

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  2. Curiosa a visão do caracol como bode expiatório da nossa "falsa santidade".
    Eu sempre o vi como um ser que vai pela vida com a casa às costas, e entre isso e a pachorra que tem, parece-me um animal muito independente, uma espécie de sábio...
    Nunca fui capaz de provar um, não me perguntes porquê.
    Um beijo

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  3. Pois, deviamos aprender... Mas é tão difícil, às vezes, ter paciência para deixar o tempo cumprir-se!
    Beijinhos e saudades

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