EMILY DICKINSON E A SUAS POESIAS
“O presságio é aquela
longa sombra
No prado
Anunciadora de crepúsculos,
Avisando a erva aturdida
Que a Noite vai descer.”
No prado
Anunciadora de crepúsculos,
Avisando a erva aturdida
Que a Noite vai descer.”
Emily Dickinson nasce em Amherst, no Massassuchets em 10 de
Dezembro de 1830. Morre em 15 de Maio de
1886, na sua casa de Amherst, de onde pouco saía.
Nunca conseguiu “curar-se” da infância, a ideia de a
abandonar, de sair dela, assustava-a. Não a suportava.
Amerset, a casa
Em 1853, escreve ao irmão, Austin: “queria que fossemos ainda
crianças. Queria que fossemos sempre crianças, eu não sei tornar-me adulta.”
Queixa-se de solidão: “Cada dia me sinto mais velha”; ou:
“ultimamente tenho-me sentido muito só”.
Apesar disso, fecha-se em casa. Só esse ambiente, com os
pais, se sente segura.
Em 1852, escrevera a Jane Humphrey : “Não sei por que razão
deveria separar-me dos meus entes
queridos. Tenho medo de ser egoísta fechada na minha querida casa, mas a ideia
de os deixar é impossível.”
Susan Dickinson, a irmã mais velha
Assim recusara um seu convite, assim vai recusar todos os
convites dos amigos.
Emily tem 23 anos nessa altura. O sentimento de solidão e de insegurança
mistura-se com medo de abandono, e o medo
da morte dos outros.
À volta dela, a morte
faz razia, a “democrática Morte”, que todos aceita, como ela assinala.
Imortalidade? Sobrenatural? Demasiado presentes.
Imortalidade? Sobrenatural? Demasiado presentes.
Quando o pequenino Gilbert, filho do irmão Austin, morre,
ele o seu preferido, Emily não consegue consolar-se. À mãe do menino, Sue, que em tempos fora uma das maiores amigas, escreve:
“O desespero com o seu véu de lágrimas não deve durar...
Depois de muito tempo virá substituí-lo a intimidade com o mistério. Movendo-se
no escuro, como naves carregadas, de noite, sem rota segura, está a imensidade.”
“O sobrenatural é o natural revelado”, escreverá um dia.
E mais:
E mais:
“Não é a revelação que se faz esperar/são os nosso olhos que
não estão preparados”.
No entanto sabe que “a vida é riquíssima”, como escreverá com
53 anos, cheia de esperança:
“Faz-me pensar naquele verso do Apocalipse: Cada uma das muitas portas era de pérola”.
“Faz-me pensar naquele verso do Apocalipse: Cada uma das muitas portas era de pérola”.
Mas sabe que a separação é inevitável.
Escreve assim, na mesma carta, cartas que são versos e que, como poemas, ela solta pelas folhas:
Escreve assim, na mesma carta, cartas que são versos e que, como poemas, ela solta pelas folhas:
“Irmãzinha, faz-me falta a tua voz infantil/ falta-me o teu
heroísmo/parece-me ter perdido um soldado ou um pássaro. (...) Boa noite. A separação
é uma das coisas que nos são impostas pela vida mortal. É esquálida, como a
morte, mas acontece.”
Trata-se de uma “incipiente frustração,
concomitante à ideia de não saber integrar-se no mundo”, refere a tradutora
italiana e prefaciadora do livro Poesie, Margherita Guidacci.
(É, de facto, numa edição bilingue italiano-inglesa, “Poesie”,
da Rizzoli, que “descubro” a poetiza.)
Versos de enorme tristeza, mas em que a vida, a natureza e
tudo, à volta dela, brilha.
Pelos seus versos correm momentos de beleza, efémeros, e sentem-se
os pássaros coloridos que cantam, e o céu azul na distância...
E, simultaneamente, a saudade dos que se foram para sempre e
a ideia da morte que ronda, sempre, próxima.
“Não consigo pensar que os amigos que vi, na minha
juventude, esvaírem-se, como orvalho ao
sol, nunca mais vão andar por estas estradas”. Porque, de facto, nunca mais voltarão, porque a Morte os levou.
“Caíram como neve
Caíram como estrelas
Ou pétalas de rosa
Quando subitamente em Junho
o vento lhes toca.”
(“They dropped like flakes”)
(“They dropped like flakes”)
“A minha única imagem do Paraíso é um grande céu azul mais
azul e mais vasto do que o maior céu azul de Junho; e nele estão todos os meus
amigos (...)".
“Viveu no fio da navalha, continua Margherita Guidacci, entre o
precipício da loucura e a salvação”.
“Este mundo é breve de verdade e desejo, tremente, tocar os
que amo antes que os montes fiquem vermelhos –cinzentos- brancos- e renasçam de
novo.” (1859, carta a uma amiga)
Porque de morte se trata, e as pessoas que ama vão morrendo à sua volta. O que é absurdo e doloroso. E a esperança difícil mas eterna.
“Hope is the thing with feathers
That perches on the soul,
And sings the tune without words,
And never stops at all.”
(“A esperança é uma coisa com penas
Que cresce na alma,
E canta uma música sem palavras,
E nunca pára...”)
Compreendo a Emily Dickinson. Às vezes era bem melhor continuar eternamente na infância, naquele lugar onde quase tudo é magia e temos todo o tempo do mundo. Naquele tempo onde ainda estão todos os que amamos e ainda temos a certeza que vão lá estar para sempre.
ResponderEliminarGostei muito do post e fico à espera que volte com mais coisas interessantes sobre a escritora.
Um beijinho e bom fim-de-semana
Volte mesmo pois adorei ler,
ResponderEliminarnão sabia de nada disso e agora já quero saber mais.
Confio nas suas dicas amiga,
bjs com saudades,
mistérios sobre esse querer bem do outro lado do oceano.
nãO CONHECIA, PICOU-ME A CURIOSIDADE E PROCUREI NO gOOGLE. fIQUEI IMPRESSIONADA,ESTIVE QUASE UMA HORA A LER SOBRE ELA, OUTRO DIA PROCURAREI LER ALGO DAS SUAS POESIAS.
ResponderEliminaraFINAL AMANHã NãO VAMOS A gRANADA POR CAUSA DESTE TEMPO HORRÍVEL. eSPERO PODER IR PARA A SEMANA.
uM GRANDE BEIJO, COM A LETRA AO CONTRÁRIO, COMO A MINHA CABEÇA, QUE TAMBÉM ESTÁ DE PATAS PARA O AR.