« Je vois le jour à Bordeaux, le 16
août 1948, tout près du café tenu par ma grand-mère sur les quais… ».
Foi professor
de música e, em 1978, em Paris, entra
como jornalista no “Libération”. Nesse ano, apresenta-se como candidato à
eleições legislativas.
Em Abril de 1979, funda o jornal homossexual “Gai pied” que dirige até 1982.
Em Abril de 1979, funda o jornal homossexual “Gai pied” que dirige até 1982.
Ou talvez não fosse “acaso”...
Recebi um livro dele, a pedido de alguém que era a sua vizinha de patamar. Em Paris...
Recebi um livro dele, a pedido de alguém que era a sua vizinha de patamar. Em Paris...
A tal vizinha que me falou dele era uma amiga do coração, a minha amiga Susie H. de quem já falei, judia deportada e sobrevivente, em Auschwitz.
Um dia referiu-se ao livro
dele sobre os deportados homossexuais.
Pouco sabia
dessa história antiga, confesso, e foi com muito interesse que li “Les Oubliés de la Mémoire”.
Os mal-amados, os perseguidos, os criticados, os pestíferos, enfim: aqueles que não são “como nós”...
Os mal-amados, os perseguidos, os criticados, os pestíferos, enfim: aqueles que não são “como nós”...
Interessante
recordar a simbologia nazi para “catalogar” todos os que não eram “arianos”, os
“ puros”, os “normais” como eles se achavam. Segundo a ideologia hitleriana.
De facto, nos
campos de concentração, as estrelas e os triângulos eram variadíssimos!
Pode-se dizer
que , no horror, havia para todos os gostos.
a edição italiana de "Les Oubliés de la Mémoire"
A maioria eram
as estrelas de 6 pontas, símbolo dos judeus : as estrelas de David amarelas, dois triângulos cruzados um sobre o outro. E, dentro, escrito "jude" (judeu).
libertação do campo de Auschwitz
De várias cores
e feitios, cheios de imaginação, porque os judeus “acumulavam” a sua origem com outros “pecados”:
Eram “judeus+políticos” e tinham direito a um triângulo vermelho sobre a cruz amarela; eram “judeus+emigrantes”, então tinham o triângulo azul sobre estrela amarela... Mas havia ainda os “judeus+resistentes”, os “judeus+ comunistas”.
Até havia os "judeus+homossexuais"...
Um nunca acabar de culpas!...E depois havia os triângulos "simples" de uma só cor: cor-de-rosa para os homossexuias;
E,.
Eram “judeus+políticos” e tinham direito a um triângulo vermelho sobre a cruz amarela; eram “judeus+emigrantes”, então tinham o triângulo azul sobre estrela amarela... Mas havia ainda os “judeus+resistentes”, os “judeus+ comunistas”.
Até havia os "judeus+homossexuais"...
Um nunca acabar de culpas!...E depois havia os triângulos "simples" de uma só cor: cor-de-rosa para os homossexuias;
E,.
crianças ciganas nos campos do "holocausto"
imagem do blog "serafim" - céu negro- sobre o holocausto cigano
Depois, o negro para os “associais”, englobando estes uma catrefa de categorias que ia desde os desempregados, aos doentes mentais, das prostitutas aos drogados, dos marginais ou vagabundos às mulheres que usavam contraceptivos ou tinham abortado.
Feita a
“introdução” necessária, volto à minha amiga e a Jean le Bitoux. Vizinhos de
patamar, pois, numa rua do quartier des Halles, conhecem-se e,
apesar da enorme diferença de idades, conversam e compreendem-se logo.
Estimam-se. Respeitam-se. Até à morte dele, em 2010.
Como judia, que sentiu na carne o ferro que lhe gravou a fogo um número, aceitou esse “fora do comum” que vem contar coisas dos deportados homossexuais em Auschwitz e noutros campos.
Estimam-se. Respeitam-se. Até à morte dele, em 2010.
Como judia, que sentiu na carne o ferro que lhe gravou a fogo um número, aceitou esse “fora do comum” que vem contar coisas dos deportados homossexuais em Auschwitz e noutros campos.
Muitas vezes se
referia ao seu “jovem” amigo gay, e
contava como ele era gentil e a ajudava; como lhe trazia prendas e, de vez em
quando, uma flor.
Pedi-lhe se me arranjava esse livro. E recebi-o, de facto, alguns dias depois, na tradução italiana (sabe-se lá porquê?) que se intitulava “Triangolo Rosa” (Manni, 2003), com uma dedicatória simpática:
Pedi-lhe se me arranjava esse livro. E recebi-o, de facto, alguns dias depois, na tradução italiana (sabe-se lá porquê?) que se intitulava “Triangolo Rosa” (Manni, 2003), com uma dedicatória simpática:
“A Madame Maria João Falcão cet ouvrage de souffrance
sur un dossier oublié. Avec mês amitiés J. Le Bitoux”.
Não pôs a data mas a folhinha azul da Susie tinha a data de 21 de Agosto de 2006.
Não pôs a data mas a folhinha azul da Susie tinha a data de 21 de Agosto de 2006.
O livro fora
publicado pela Librairie Hachette, em 2002.
Contava-me ela nessa
carta que um livro dele sairia em português, e em chinês, mas não dizia o
nome. Não cheguei a saber se saiu, nem ela o sabe.
“Aqui está o
livro do meu vizinho. Só dei conta tarde de mais que era a tradução italiana e
não o original...”
Terminava
dizendo-me (em italiano): “Leggeti queste
tragedie pian, pianino, il mondo e pieno di schiffezze” (“Lê estas
tragédias, devagarinho, o mundo está cheio de coisas nojentas.”
Mundo cheio de
coisas nojentas e de hipocrisia foi o que encontrei naquelas páginas. Hoje, uns
anos depois, tive necessidade de falar disso.
É importante que se fale! É importante que nos indignemos sempre com as injustiças e os racismos sejam eles de que “cor” e aspecto forem.
É importante que se fale! É importante que nos indignemos sempre com as injustiças e os racismos sejam eles de que “cor” e aspecto forem.
Hoje –como
sempre? Mais do que nunca?- corre-se o risco de certos totalitarismos
“nacionalistas” ou “populistas” carregados de “anti-humanidade” e de
alterofobia e de intolerância voltarem...
Por isso quis
falar dele. É urgente continuar a falar da "diferença" seja ela qual for.
O primeiro livro, Jean le Bitoux escreveu-o a quatro mãos com Pierre Seel (1941-2005): é o primeiro depoimento de um deportado “especial”, um sobrevivente dos campos, um deportado homossexual, no caso Pierre Seel - e sai em 1994.
Jean le Bitox e Yves Navarre, 1981, nos tempos do "Gai pied"
O primeiro livro, Jean le Bitoux escreveu-o a quatro mãos com Pierre Seel (1941-2005): é o primeiro depoimento de um deportado “especial”, um sobrevivente dos campos, um deportado homossexual, no caso Pierre Seel - e sai em 1994.
Pierre Seel, um
ano antes, decidira apresentar-se numa popular emissão televisiva francesa da France
Inter, para “confessar” a sua deportação, no campo de Struhoff, 40 anos antes,
com 18 anos. Mais grave, confessar as causas dessa infâmia: a sua homossexualidade.
O livro
intula-se “Moi, Pierre Seel, déporté homosexuel” e sai na famosa editora Calmann-Levy.
Muito se avançou nesse campo da aceitação do diferente: em Toulouse, existe uma rua dedicada a Pierre Steel.
Steven Spielberg grava a sua entrevista com ele, em 1998, documento que faz, hoje, parte do arquivo do USC ( Shoa Foundation Institute).
deportados mortos, homossexuais
Muito se avançou nesse campo da aceitação do diferente: em Toulouse, existe uma rua dedicada a Pierre Steel.
Steven Spielberg grava a sua entrevista com ele, em 1998, documento que faz, hoje, parte do arquivo do USC ( Shoa Foundation Institute).
O primeiro
político a falar da deportação homossexual foi, em 2001, Lionel Jospin,
Primeiro Ministro socialista.
Em 2005, o Presidente Jacques Chirac volta a enfrentar corajosamente o assunto. Jean Le Bitoux, no entanto, não é recebido nas cerimónias de comemoração do 50º aniversário do Holocausto. Recusam-lhe a entrada.
Em 2005, o Presidente Jacques Chirac volta a enfrentar corajosamente o assunto. Jean Le Bitoux, no entanto, não é recebido nas cerimónias de comemoração do 50º aniversário do Holocausto. Recusam-lhe a entrada.
Jean Le Bitoux, 2005
Escreveu Jean le
Bitoux, num artigo:
“Interroguei-me muito sobre o ódio, a negação do outro e o desprezo da história. Tudo isto enriqueceu com certeza os meus escritos desses anos, sobre a questão da deportação.”
“Interroguei-me muito sobre o ódio, a negação do outro e o desprezo da história. Tudo isto enriqueceu com certeza os meus escritos desses anos, sobre a questão da deportação.”
Como epígrafe
do livro tem uns versos que poucos lembram:
“Sou um judeu!
Mas um judeu não tem olhos? Um judeu não tem mãos, órgãos, proporções,
sentidos, afectos, paixões? Não se alimenta da mesma carne, não é ferido pelas
mesmas armas, não está sujeito às mesmas doenças, não é curado pelos mesmos
remédios, aquecido e refrescado pelo mesmo Verão ou Inverno como um cristão? Se
nos ferirem, não sangramos também? Se nos fizerem cócegas não rimos? Se nos
envenenarem não morremos?”
Quem os assina?
Um nosso conhecido: William Shakespeare (in O mercador de Veneza, Acto III, Cena
I, 1604)...
Bastava substituir a jalavra "judeu" por homossexual, cigano, negro, marginal e veremos como tudo é ainda "tão actual"! Por isso quero lembrar Jean Le Bitoux...
a Utopia cresce livre...
Não fazia ideia que existiam tantas cores na estrela que identificava os judeus. Pensava que eram todas iguais.
ResponderEliminarEstive a espreitar no site Wook se havia alguma coisa de Jean le Bitoux, em português, mas não há. Pelo menos no site.
Aquela plantinha assim frágil a crescer fora do seu meio, é mesmo um exemplo de força e determinação.
Ainda temos muito que aprender no caminho da aceitação dos outros e da diferença.
Um beijinho
Tu também és como a plantinha da Utopia... Sempre atenta! Beijinhos
EliminarMJ, não sei se já me passou algum livro de Jean Le Bitoux pelas mãos, mas ficarei atenta.
ResponderEliminarSempre fui sensível a qualquer tipo de descriminação, às injustiças, às desigualdades. Por muito que nos incomodem, que nos inquietem, que nos tirem o sono, e é bom que tirem, pois é sinal que não ficamos indiferentes, é importante que estejamos em contacto com estas realidades cruéis e as divulguemos.
Calar, ocultar, descriminar: NUNCA!
Aceitar, compreender, indignar-nos: SEMPRE!
Muito obrigada por mais esta partilha.
Um beijinho amigo.
Cláudia, temos essa luta comum: compreender e nunca esquecer as injustiças, não é? E indignarmo-nos SEMPRE!
EliminarObrigada e um beijinho
O que dizerda sua postagem sobre Jean le Bitoux?
ResponderEliminarNada. Tudo simplesmente pungente e necessário de relembrar.
Obrigada pela partilha!:)
Ainda não tenho possibilidade de comentar. A blogosfera está a demorar a recompôr a situação.Beijinho Ana
Ana, vou pondo o que me manda como anónimo, mas estou deserta de a ver desembarcar aqui, em força!
EliminarBeijos
" Il mondo e pieno de schiffezze".
ResponderEliminarQue bom teres um livro dedicado por uma pessoa tão válida e tão injustamente esquecida também.
Temos que estar sempre atentos para ver onde estão as coisas que valem a pena, senão acabaríamos afogados na merda, quando há tanta coisa que nos pode salvar do desengano total, se queremos salvar-nos, e nós queremos, como quiseram e querem todos os que sofreram e sofrem.
Há sempre dentro de nós uma plantinha capaz de crescer verde e livre como a utopia, não podemos deixar de regá-la nunca.
Beijos
Obrigada Maria. Sei que pensas como eu e todos os dias fazes o que eu tentei fazer por esta pessoa. Demorei porque tinha perdido o livro dele no meio da tralha aqui em casa... Fiquei com a consciência tranquila!
ResponderEliminarUm beijinho amigo
Essa insensatez, esse desequilíbrio torto, essa arrogancia que nos parece imperiosa até hoje, apesar de tudo.
ResponderEliminarLutar e escrever, ensinar é definitivamente o caminho a ser trilhado.
Ele como poucos lutaram contra a negação e a sua repercusão nociva e destrutiva, assim como alguns professores vem fazendo. É preciso pensar, é imperioso agir.
bjs amiga e sempre com muitas saudades.