Os escritores Boileau-Narcejac, dupla "especialista" de romances policiais, dizem dele:
“É, à sua maneira, um poeta da cidade; menos áspero,
mais sensível, bastante mais divertido, é o D. Hammett francês”.
Leo (Léo) Malet nasceu em 7 de
Março de 1909, em Montpellier, e morreu
em Châtillon a 3 de Março de 1996.
Escritor de romances policiais e surrealista,
simultaneamente, muito ligado à boémia de La Butte, a uma certa ideia próxima
dos grupos “libertários”.
Estudou durante poucos anos e, em 1925, aos 16 anos começou a cantar num cabaret
de Montmartre, chamado La Vache Enragée.
La Butte de Montmartre
Nos anos 30, liga-se ao grupo surrealista e foi amigo de André Breton, do pintor René Magritte e de Yves Tanguy. Publicou
vários livros de poesia nesses anos.
Leio, pois, o “manual” indispensável de Boileau-Narcejac - dois autores que escrevem a quatro mãos, como os italianos Fruttero e Lucentini, as suas histórias policiais.
Incluindo-o no sub-capítulo “Os marginais”, escrevem, a páginas 108:
“Leo Malet (“ce
paysan de Paris") é um homem que vadiou, teve altos e baixos na vida, comeu o
pão que o Diabo amassou, conheceu personagens pitorescas, acabando por ter uma
filosofia desiludida, amarga e terna ao mesmo tempo."
"Chegou cedo de mais, num momento em que o romance negro americano não tinha triunfado ainda, e falhou também a entrada no mundo das letras. Depois, foi injustamente eclipsado pelos autores da Série Noire que se lhe seguiram.”(p.108)
Nestor e o gato
"Chegou cedo de mais, num momento em que o romance negro americano não tinha triunfado ainda, e falhou também a entrada no mundo das letras. Depois, foi injustamente eclipsado pelos autores da Série Noire que se lhe seguiram.”(p.108)
O detective, Nestor Burma (inesquecível personagem!), é “o detective que põe o crime K.O.” como diz o seu criador. É uma personagem humana, cheia de humor, de ternura pelos outros, e de revolta, que não se leva nunca a sério...
“Burma é uma personagem divertida e inteligente,
herói desiludido, ou anti-herói. Um detective privado cínico, grande
conversador em “argot”, ex-anarquista convicto, inveterado fumador de cachimbo
e conquistador mas “monogâmico”... (wikipedia).
Os romances de Malet foram levados à televisão, nos anos 90 (exactamente de 1991, em várias "saisons" sucessivas, até 2003), tendo como actor um “grande” Burma: Guy Marchand, que ficará para
sempre “ligado” à figura de Burma, de tal modo se identificou com a personagem...
Nestor Burma aparece também em B.D. - assinada pelo desenhador Jacques Tardi.
Nestor Burma aparece também em B.D. - assinada pelo desenhador Jacques Tardi.
Este Nestor Burma das histórias de aventuras é, no fim e ao cabo, o próprio Leo Malet.
Mesma vida de vadiagem aventurosa, mesmas ilusões desenganadas...
Ele e a sua "agência", chamada "Fiat Lux", onde nada acontece de bom, nem nenhuma luz surge.
Mais a secretária e o gato, equilibrando sempre os fins de mês difíceis em que não falte uma malga de leite...para o gato!
Ele e a sua "agência", chamada "Fiat Lux", onde nada acontece de bom, nem nenhuma luz surge.
Mais a secretária e o gato, equilibrando sempre os fins de mês difíceis em que não falte uma malga de leite...para o gato!
“Um Gavroche crescido, transformado em “privé” (1)
sem dinheiro, em apuros, espancado pelos maus da fita, errando em mistérios
mais complicados que labirintos, suspeitado pela polícia oficial que detesta,
batendo-se muitas vezes não pela honra – virtude burguesa- mas por uma certa
dignidade do homem, da qual é o primeiro a rir, vencendo aos pontos, esgotado, amolgado,
mas sempre com uma graça.”(oc. p.109)
Tendo escrito mais de 30 livros, em
1945, decide escrever um ciclo que intitulou: "Os Novos Mistérios de Paris",
parafraseando Eugène de Sue (Les Mystère de Paris).
Do romance de 1943, "120, rue de la Gare, até “Poste
Restante” (1983), seguem-se trinta histórias.
Cada uma passa-se num bairro (arrondissement) diferente de Paris. Há 20, em Paris...
Para terminar, deixo as afirmações de Boileau-Narcejac:
“Obra considerável que coloca Malet
perto dos escritores que melhor falaram de Paris, que conhecia como os seus
dedos e que descreveu com fidelidade escrupulosa."
"É, à sua maneira, um poeta da
cidade; menos áspero, mais sensível, bastante mais divertido, é o D. Hammett
francês”. (o cit. P.109)
(1) privé,
termo para designar “detective privado”
(*)
in Le Roman Policier, Boileau-Narcejac,
P.U.F. Collection “que sais-je?”
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