quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia de todos os santos? Ou dia de Bruxas?




Para mim é, e foi sempre, o "Dia" de todos os santos. 

Lembro-me bem de ir, miúda, com a minha irmã, pelas  casas da família “pedir os santinhos”! 

Havia muita gente a quem pedir: todas as tias da minha mãe, irmãs da Avó Branca, que eram muitas - e muito generosas.
Portalegre, na noite (foto do portalegrense J.F.) 

Já não sei por onde começávamos, mas acho que era pelos meus avós. Possivelmente variávamos o percurso todos os anos.



 Seguíamos pela rua da Sé, virávamos lá ao cimo pela rua da Misericórdia à procura da tia Zézinha, voltámos ao Largo da Sé para ir visitar, na rua Acciaioli, a tia Mariquinhas, descendo pela rua 19 de Junho, antiga Rua da Carreira.

Para subir ao 1º andar de uma casa que fazia esquina com a Rua de Elvas, quase em frente do velho Café Alentejano. Era onde vivia a tia Leopoldina...


o Café Alentejano, na Rua de Elvas (internet)


E, depois, ao 2º andar para receber as moedas de prata  de 10 escudos que nos reservava a outra tia Mariquinhas, mulher do Tio Adelino, que lembro sempre cheia de ouro.


Voltávamos contentes para casa, cheias de bolos, chocolates, broas de gostos diferentes e moedas a brilhar dentro dos bolsos...

Recordo dias de sol, tal como hoje. Como se, no dia dos santos, o tempo se mantivesse suave, mas sempre um pouco ventoso.

Em casa, a Florinda preparara as broas de milho e mel, e as “papas” de milho que o meu pai adorava! 
Broas de milho e de mel (imagem da internet) 

Papas de milho, com açúcar e canela (internet)


Eu punha muita canela e açúcar por cima, porque me parecia “deslavado” o gosto delas. Mas as broas – feitas com mel, e a saber a água de sementinhas (assim chamava a Florinda à "erva doce") e uma amêndoa espetada no alto - antes de irem ao forno - , essas eram a minha perdição!


Nunca mais comi broas como as da Florinda...



quadro de cetim bordado, que estava em casa da minha avó, com o retrato da mãe dela

Tudo passou, a casa da infância “afundou”, tudo morreu... só a recordação desses tempos se mantém viva.

pássaro papa-amora, blog "Trepadeira"


Tiro uma frase do livro que estou a ler, um livro belo que sabe falar do regresso ao passado, com ternura e poesia:

"Tudo era absoluto, intenso e quase doloroso nesses tempos, quero referir-me ao poder que tinham as coisas para me tornar feliz." (Joyce Carol Oates, "Nós éramos os Mulvaney").

na Corredoura, em Portalegre


"disfarçados", para o Haloween...

Hoje, em que os "santos" foram substituídos, em tantas terras do mundo, pelas "bruxas",  tradição saxónica (gótica?) do Haloween, o "Dia das Bruxas!"


capa do DVD, do filme de terror, John Carpenter


Não faz mal, porque eu também gosto das bruxas! A “velha” e eterna Maga Patalógica, e a Madame Mim, mais o Mago Merlín, quem os não recorda? 






Bruxos bons, menos bons, bruxinhas divertidas, como não ter saudades?


9 comentários:

  1. Recordar é viver! Bom feriado. O último... :(

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  2. Bonitas recordações de uma infância feliz.
    Tão lindas as meninas da foto!
    Eu também costumava ir pedir o "santorinho".
    É engraçado ter estas coisas para recordar.
    Um beijinho

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  3. Rezar aos santos antes do dia dos mortos ou se esconder deles disfarçando e se alegrando??? não sei,enfim, gosto das bruxas que colocou, são todas engraçadas.

    Não fazia parte das nossas comemorações sair as ruas, então era dia de missa, penitência e nem podia brincar direito ... muito tuim isso.
    Gostei das suas lembranças e dasfotos, quanto as broas, vou já buscar receitas e ver se são iguais as minhas.

    bjs muitos.

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  4. O que seria de nós sem as memórias? se é pelo sonho que vamos, são as memórias que nos tecem...
    Beijinhos da nossa cidade
    Luísa

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  5. Andamos todos à procura de um tempo perdido. Apesar de tudo, há ruínas
    sempre belas!
    O texto é muito curioso, aliás como sempre.Também, na minha terra, Penamacor,neste dia,íamos a casa das pessoas, sobretudo abastadas, a pedir o "santorum", deturpação de sanctorum,ou já palavra aportuguesada e de uso regional.Tudo é pretexto para estudar a língua, como património cultural.

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    1. É interessante saber estas pequenas diferenças...
      Pedir os "santinhos",na minha terra, "pão por Deus", nas Beiras, ou "santorinho", como diz a Isabel, Sanctorum ou "santorum"... na sua Penamacor - é a riqueza da nossa língua e da cultura.

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  6. Inevitável, este não ser um dia de recordações. Não apenas do dia de Todos os Santos, mas da infância, da família,...
    Que meninas tão bonitas, as das fotografias. Quem diria que a MJ nos iria encantar com estas histórias?
    Já estaria escrito nas estrelas?!
    Um beijinho.:))

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    1. Cláudia, acho que nas estrelas está tudo escrito! E depois nós é que damos "um jeitinho" pr'aqui ou pr'ali...
      Beijinhos

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