Lembro-me
bem de ir, miúda, com a minha irmã, pelas
casas da família “pedir os santinhos”!
Havia muita gente a quem pedir:
todas as tias da minha mãe, irmãs da Avó Branca, que eram muitas - e muito generosas.
Portalegre, na noite (foto do portalegrense J.F.)
Seguíamos pela rua da
Sé, virávamos lá ao cimo pela rua da Misericórdia à procura da tia Zézinha,
voltámos ao Largo da Sé para ir visitar, na rua Acciaioli, a tia Mariquinhas, descendo pela rua 19 de Junho, antiga Rua da Carreira.
Para subir ao 1º andar de uma
casa que fazia esquina com a Rua de Elvas, quase em frente do velho Café Alentejano. Era onde vivia a tia Leopoldina...
o Café Alentejano, na Rua de Elvas (internet)
E, depois, ao 2º andar para receber as
moedas de prata de 10 escudos que nos
reservava a outra tia Mariquinhas, mulher do Tio Adelino, que lembro sempre cheia de ouro.
Recordo dias de sol, tal como hoje. Como se, no dia dos santos, o tempo se
mantivesse suave, mas sempre um pouco ventoso.
Em casa, a Florinda preparara as broas de milho e mel, e as “papas”
de milho que o meu pai adorava!
Eu punha muita canela e açúcar por cima, porque me
parecia “deslavado” o gosto delas. Mas as broas – feitas com mel, e a saber a água de sementinhas
(assim chamava a Florinda à "erva doce") e uma amêndoa espetada no alto - antes de irem ao
forno - , essas eram a minha perdição!
Nunca mais comi broas como as da Florinda...
Broas de milho e de mel (imagem da internet)
Papas de milho, com açúcar e canela (internet)
Nunca mais comi broas como as da Florinda...
quadro de cetim bordado, que estava em casa da minha avó, com o retrato da mãe dela
Tudo passou, a casa da infância “afundou”, tudo morreu... só a recordação desses tempos se mantém viva.
pássaro papa-amora, blog "Trepadeira"
Tiro uma frase do livro que estou a ler, um livro belo que sabe falar do regresso ao passado, com ternura e poesia:
"Tudo era absoluto, intenso e quase doloroso nesses tempos, quero referir-me ao poder que tinham as coisas para me tornar feliz." (Joyce Carol Oates, "Nós éramos os Mulvaney").
na Corredoura, em Portalegre
"disfarçados", para o Haloween...
capa do DVD, do filme de terror, John Carpenter
Recordar é viver! Bom feriado. O último... :(
ResponderEliminarBom feriado último...
EliminarBonitas recordações de uma infância feliz.
ResponderEliminarTão lindas as meninas da foto!
Eu também costumava ir pedir o "santorinho".
É engraçado ter estas coisas para recordar.
Um beijinho
Rezar aos santos antes do dia dos mortos ou se esconder deles disfarçando e se alegrando??? não sei,enfim, gosto das bruxas que colocou, são todas engraçadas.
ResponderEliminarNão fazia parte das nossas comemorações sair as ruas, então era dia de missa, penitência e nem podia brincar direito ... muito tuim isso.
Gostei das suas lembranças e dasfotos, quanto as broas, vou já buscar receitas e ver se são iguais as minhas.
bjs muitos.
O que seria de nós sem as memórias? se é pelo sonho que vamos, são as memórias que nos tecem...
ResponderEliminarBeijinhos da nossa cidade
Luísa
Andamos todos à procura de um tempo perdido. Apesar de tudo, há ruínas
ResponderEliminarsempre belas!
O texto é muito curioso, aliás como sempre.Também, na minha terra, Penamacor,neste dia,íamos a casa das pessoas, sobretudo abastadas, a pedir o "santorum", deturpação de sanctorum,ou já palavra aportuguesada e de uso regional.Tudo é pretexto para estudar a língua, como património cultural.
É interessante saber estas pequenas diferenças...
EliminarPedir os "santinhos",na minha terra, "pão por Deus", nas Beiras, ou "santorinho", como diz a Isabel, Sanctorum ou "santorum"... na sua Penamacor - é a riqueza da nossa língua e da cultura.
Inevitável, este não ser um dia de recordações. Não apenas do dia de Todos os Santos, mas da infância, da família,...
ResponderEliminarQue meninas tão bonitas, as das fotografias. Quem diria que a MJ nos iria encantar com estas histórias?
Já estaria escrito nas estrelas?!
Um beijinho.:))
Cláudia, acho que nas estrelas está tudo escrito! E depois nós é que damos "um jeitinho" pr'aqui ou pr'ali...
EliminarBeijinhos