As estátuas falantes de
Roma...
Ao fundo da Via del
Governio Vecchio, onde passava todos os dias, estava a Via Pasquino e a Piazza do mesmo nome.
E olhava sempre para a estátua de Pasquino, uma das chamadas
“estátuas falantes” de Roma.
Os restos da estátua
pertencem a um grupo escultórico (talvez do século III AC) que representaria Menelau e Pátroclo, segundo relatam os “guias”.
imagem retirada da internet
Foi
encontrada no século XV perto da Piazza Navona e estava em tal estado de
degradação que nenhum antiquário a quis. Acabou por ser colocada na esquina
onde ainda hoje está, perto do Palazzo Braschi, a dois passos da Navona.
Cedo, junto da estátua, surgiu o hábito de virem "protestar" os escritores, os poetas ou os simples cidadãos deixar os seus “escritos” violentos, em tabuletas de madeira, outras vezes, num simples papel.
Ali mostravam a
sua indignação contra os governos e as autoridades, ou, apenas, contra as prepotências dos
grandes... e dos pequenos.
Faziam-no num modo satírico, “pesado” e eram uma “voz”
importante da “oposição” – de outro modo inexistente, nesses tempos.
Eram o porta-voz do humor, da crítica, do protesto.
“Pasquino” é ainda hoje o “símbolo da liberdade de imprensa”,
como o foi desde a Roma do Renascimento. E sempre!
Por curiosidade, para quem não saiba, é deste Pasquino que se
“criou” a nossa palavra “pasquim” (através do francês “pasquin”) – jornal, em sentido
pejorativo, e a “pasquinada” (do francês “pasquinade”).
Ou, ainda, “pasquinagem”, “pasquinar” e “pasquineiro”,
presentes nos nosso dicionários!...
Mas ele não era o
único!
Ao Pasquino “respondiam”, da Piazza Venezia, na esquina com o Pallazzetto, a “Madama
Lugrezzia” (em romanesco), Madama Lucrezia pois.
Talvez tivesse pertencido ao grupo da estátua de Ísis do Campo Marzio e, dialogando com Pasquino, dava também ela a voz ao povo...
Madama Lugrezzia (imagem da internet)
Ou o “Marvorio” (Marforio) que se encontra menos
visível, no Museu Capitolino, estátua colossal do “Oceano”- antes, perto da Chiesa di San Luca e Santa Martina);
Marforio, imagem da internet
Ou o
“Babuíno”, arrumado ao canto da Via del Babuino,
outra estátua decepada de uma fonte, que representaria Silénio mas que os romanos achavam parecer-se mais
com um “babuíno”: e por isso lhe ficou o nome. E, daí, também, o nome da rua...
imagem de Babuíno, retirada da internet
Quando no Pasquino aparecia afixada uma crítica, logo da Madama
Lucrezia vinha a resposta súbita, ou outra crítica ainda mais feroz era "disparada" como um tiro do
Marvorio ou do Babuíno.
imagem retirada da internet
Porque o romano
não brinca na sátira! Nem na mordacidade com que se observa e observa os outros...
Sátira que tantas vezes sabe virar, acérrima, contra si
próprio...
Basta ver os filmes italianos (comédias e tragédias) em que
ao humor se acrescenta essa tal auto-crítica impiedosa: Vittorio Gassman, Ugo
Tognazzi, Alberto Sordi, Nino Manfredi... o que fizeram eles se não isso, de forma
magnífica?
Para não falar de Tótó...
O espírito de liberdade continua a girar por Roma. Basta ver as fotografias que acima vos deixo...
E, aos pés do
Pasquino, encontram-se os mesmos – e outros-
protestos.
Vi-os lá!
(*) Pasquim
(in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) : “algo escrito que se afixa
em lugar público, com expressões injuriosas”
Pasquinada : “crítica mordaz, artigo que insulta”.
Ler, para saber mais...
Gosto imenso destas curiosidades que, acho eu, humanizam e distinguem os lugares.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito interessante.
ResponderEliminarGostei muito das fotos, em especial aquela dos dois simpáticos curiosos...
Sabe que me tem deixado uma grande vontade de conhecer Roma? Talvez um dia seja possível, quem sabe...
Um beijinho e boa semana
Isabel, quando vamos?
ResponderEliminarPor mim, partia ainda hoje...
Estou certa que Roma tem um encanto que poucas
palavras conseguem descrever!!
Muito interessante o que nos conta sobre as estátuas e o Pasquim!!
Beijinhos.
Gostei da história,até porque na Espanha usam a palavra "pasquin" com um significado mais genérico, por exemplo de propaganda eleitoral.
ResponderEliminarNa Wikipédia falam dum tal Pasquino, dono de uma sapataria, onde parece que começou tudo.
Feliz semana, beijos