O livro é a história de quatro amigos. Três deles vivem no mesmo prédio, na residência universitária, na esquina da rua de Rashad Paxá, e estudam na Universidade.
Estudam, têm amores, ambições, discutem e divertem-se.
O quarto é um jornalista que passa por casa deles, de vez em quando.
Vêm de classes sociais diversas, uns têm mais posses do que
os outros. Uns são religiosos, os outros não. Simplificando: são muito diferentes,
mas são amigos.
Ali Taha, o apaixonado e idealista Ali, Mamoun Radwan, o estudioso
e religioso, Ahmed Bider o jornalista independente, e Mahgoub Abdel Daym, o
ambicioso, o cínico Maghoub.
O romance começa com as conversas e discussões dos jovens
estudantes, quase no final do curso. E vai acabar com algumas desilusões. E a
separação inevitável.
Mahgoub segue o seu percurso acidentado, a sua fome em todos
os sentidos. Ambição desenfreada, insuportável pobreza, tudo vai cimentar um
egoísmo feroz e o desprezo de tudo.
A ambição política, claro. Porque, para eles, tudo é política.
Dizia Mafhouz: "Em tudo o que escrevo vão encontrar política. Pode não haver histórias de amor ou outros assuntos mas a política está sempre; é o ponto axial do pensamento."
Dizia Mafhouz: "Em tudo o que escrevo vão encontrar política. Pode não haver histórias de amor ou outros assuntos mas a política está sempre; é o ponto axial do pensamento."
Enquanto os outros falam, se abrem, ele apenas comenta com a
breve interjeição céptica, a propósito
de tudo, sem nunca se comprometer: um “tozz!”, redutivo.
“A melhor melhor equação do mundo consiste em: religião+ciência+filosofia+moral = tozz!”, respondia-lhes ele.
A sua filosofia - comenta o autor- consistia na “liberdade, na sua percepção
egocêntrica, e o “tozz” era a sua mais exacta insígnia. Era a emancipação de
tudo: dos valores, dos ideais, das crenças, dos princípios. Em resumo, toda a
herança da sociedade.”
O mal e o bem? Essa dualidade não existe! Só acredita em si
próprio, só luta por si próprio.
Um dia interroga-se, dubitativo: "terá o altruísmo o mesmo encanto do
egoísmo?”
Nihilista, sem escrúpulos e sem esperança? Aposta tudo e
aposta mal. A hipocrisia de que se rodeia vai ser fatal.
No sacrifício de tudo, dos próprios pais e da honra, tudo vai
perder.
"O que poderia fazer um egoísta da sua laia, que neste mundo
tão-só se preocupava com a sua pessoa quando as forças da desgraça se aliavam
contra a sua felicidade?”
Livro de grande inteligência e perspicácia que soube bem
falar da realidade egípcia, realidade que soube “adivinhar” e compreender,
mesmo no que se refere aos dias de hoje, às recentes “revoluções da Primavera”...
No final, quando Mahgoub desaparecera já das suas vidas, dirá
Ahmed Bide, o jornalista:
“Porque estão já a brigar? A hora do combate ainda não
chegou!”
E o livro termina:
“Os três companheiros, amigos inimigos, sorriram após o que
trocaram olhares carregados de significado como se os três se interrogassem: «O
que será que nos reservas, ó futuro?»”
Obras de Mafhouz:
"Old Egypt" (1932); "Cairo Modern" (1945);
A Trilogia do Cairo: Palace Walk (1956), Desire Palace (1957), Sugar Street (1957);
The children of Gebelawi (1959, também chamado Children of our Alley) -o mais famoso dos seus livros- foi proibido no Egipto por alegada "blasfémia".
A novela Miramar (1967) que gira à volta da figura feminina de Zohar a jovem empregada da pensão "Miramar", de Alexandria.
O Escritor, apesar de ameaçado de morte pela "fatwa" lançada pelo sheik Omar Abdul-Rahman (quase "realizada", em 1994, quando foi apunhalado e ferido gravemente no pescoço e num dos olhos), continuou até ao fim da sua longa vida a escrever a sua "crónica" da sociedade egípcia. Em 2006, teve funerais de Estado...
O sheik Omar cumpre prisão perpétua numa prisão americana, acusado de estar implicado no atentado ao Wall Trade Center de N.Y e noutros atentados terroristas.
O Cairo Novo foi publicado pela Civilização Editora. Recentemente saiu a novela Miramar, entre outros. Outros livros também saíram na Difel e na Contraponto.
Obras de Mafhouz:
"Old Egypt" (1932); "Cairo Modern" (1945);
A Trilogia do Cairo: Palace Walk (1956), Desire Palace (1957), Sugar Street (1957);
A novela Miramar (1967) que gira à volta da figura feminina de Zohar a jovem empregada da pensão "Miramar", de Alexandria.
O Escritor, apesar de ameaçado de morte pela "fatwa" lançada pelo sheik Omar Abdul-Rahman (quase "realizada", em 1994, quando foi apunhalado e ferido gravemente no pescoço e num dos olhos), continuou até ao fim da sua longa vida a escrever a sua "crónica" da sociedade egípcia. Em 2006, teve funerais de Estado...
O "sheik cego", Omar Abdul
O sheik Omar cumpre prisão perpétua numa prisão americana, acusado de estar implicado no atentado ao Wall Trade Center de N.Y e noutros atentados terroristas.
O Cairo Novo foi publicado pela Civilização Editora. Recentemente saiu a novela Miramar, entre outros. Outros livros também saíram na Difel e na Contraponto.
Gostei de ler o post.
ResponderEliminarQueria ler alguns destes livros e ainda não consegui.
Vou lendo o que é possível...
Boas sugestões para o Natal.
Das melhores prendas para dar e receber: livros!
Um beijinho
Eu só vi um filme, rodado em México, inspirado no livro dela "El callejón de los milagros", que recebeu o Premio Goya, e lembro-me que Mahfuz foi candidato ao Príncipe de Asturias de las Letras, sei que tem uma extensa e importante obra.
ResponderEliminarGostei do teu post, é bom que recordemos a tanta gente maravilhosa que vai caindo no esquecimento.
Beijinhos