segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estrangeiros? A Terra toda é a minha casa!

"O estrangeiro louco"...

O filme de Tony Gatlif intitulado "Gadjo Dillo" (1997) fala de um "estrangeiro louco", assim se traduz o título.


A palavra Gadjo (no feminino gadji) é um termo da filosofia Rhom (Romani) que significa alguém que não é Romanipen (isto quer dizer: a totalidade do espírito Rhom). 


Tony Gatlif 

Rona Hartner, uma das figuras

Normalmente refere-se aos não-ciganos, mas pode ter também o sentido dos que, sendo ciganos, não pertencem porém  cultura “cigana”. 

Na língua menos cuidada, no slang, a palavra Gadgie é bastante usada no Ulster e no Nordeste da Inglaterra -  da palavra “romani” Gadjo.



Também é usado como “argot”,  em França, sobretudo no Sul e significa o mesmo que Gadgie. 
Outra forma alternativa de Gadjo é a palavra portuguesa, "gajo" (fulano, um desconhecido) pertencente ao calão: "Gajo" tem aqui uma conotação negativa.

No fim e ao cabo, estrangeiro é estrangeiro...

Não foi Moustaki, o judeu grego de Corfù, quem cantou "Le Métèque"?






"Avec ma  gueule de Métèque
De juif errant, de pâtre grec
De voleur et de vagabond
Et mes cheveeux aux quatre vents..."
... e etc


Mas estrangeiro em relação a quê? Diferente de quem? Qual o autóctone que o decide? E esse autóctone não passa a estrangeiro quando "colonizado"?
A Terra é uma só ... e a raça "humana" também...

Dizia outro realizador, Akira Kurosawa, que bem conhecem  que dizia : "Penso que a terra inteira é a minha casa..." Gostei da frase, da atitude.
Akira Kurosawa

"Que importa que eu vá pelo mundo fora. Mesmo sem falar as línguas estrangeiras, não me sinto de fora, estou no meu lugar. 

Penso que a terra é a minha casa. Se todos pensassem assim, talvez as pessoas pudessem perceber a loucura das fricções entre países. E pôr-lhes-iam um fim!" 

Akira Kurosawa, Red Beard, 1965


O filme de Kurosawa fala das relações de amizade entre um médico da cidade e o seu assistente, vindo de outro lado do Japão. 


 Shugoro Yamamoto

Baseado numa história de Shugoro Yamamoto ("Akahige") e na infindável temática de solidão, humilhação e ofensa do Dostoievsky  - de "Humilhados e Ofendidos" a "Pobre Gente".

Fala da dificuldade de viver, da diferença e das ofensas... Mesmo quando não são estrangeiros. Ou não será também o pobre e o ofendido um estrangeiro na sua própria terra?Caso para pensar!





9 comentários:

  1. Bom dia querida,

    Sempre,desde criança,questionei o estrangeirismo,afinal não somos todos habitantes do mesmo planeta??Gostei muito desse post e concordo,a terra toda é minha casa sim!!
    Susy Pavlov

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  2. Não conheço o filme nem o realizador. Deve ser interessante.

    Gosto do Kurosawa mas também não vi este título.
    Moustaki tem uma forma muito sua de cantar. Gosto das suas canções de intervenção. Já não o ouço há muito tempo.

    Dostoievsky é um escritor que gosto bastante e que durante muito tempo preferi a Tolstói. Todavia, neste momento, é difícil escolher entre os dois.

    "O Estrangeiro" é um livro de Camus que li e adorei. Apetecia-me ser estrangeira, agora mais do que nunca.

    A frase do Kurosawa é interessante faz lembrar Sócrates:
    «Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo». Uma citação que me prendia a atenção na paragem do Metro, Cidade Universitária.

    Ser poliglota facilita muito a vida.

    Beijinho. :)

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    1. Ó Ana, tem que procurar! Eu vi "Latcho Drom", um filme sobre as origens (?) dos ciganos, a cultura,a música: é maravilhoso! Posso emprestar-lhe o DVD quando cá vier...
      Sócrates não era nada parvo... É uma frase lapidar, mas é tão difícil de "aceitar" para alguns... beijinhos

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  3. Na verdade se todos pensassem que a terra é a nossa casa, talvez não houvesse conflitos. Mas também não os haveria se mesmo com fronteiras, alguns fossem menos gananciosos e egoístas.
    O respeito é a base de tudo, mas há muita gente que não sabe respeitar os outros. Mais do que uma questão de "riqueza" ou não, é uma questão de cultura e educação. Por isso os países deviam apostar na educação dos cidadãos. Mas não o fazem...

    Gostei muito do post.
    Um beijinho grande

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    1. Obrigada, querida Isabel! Claro que o respeito é a base de tudo, como muito bem dizes! O respeito pela diferença, já que ninguém é igual a ninguém... bjs

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  4. Eu sinto-me espanhola e portuguesa, no entanto noto que não sou autenticamente nem uma coisa nem a outra, e o que noto sobretudo, é que para os portugueses sou espanhola e para os espanhóis, portuguesa. Um pouco triste, mas a gente habitua-se a tudo na vida...
    Beijinhos, gostei do post.

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  5. Até é bom! Porque quando te acham espanhola os portugueses devem ter um bocadinho de inveja...E nuestros hermanos devem pensar: "que guapa esta portuguesita!E fala tão bem português!" (coisa que eles não sabem............)
    beijos

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  6. Gadjo Díllo é mais uma dessas verdades desconcertantes que Gatfi insiste em mostrar tão bem. Somos todos estrangeiros, pois nossa casa não é aqui e ao mesmo tempo, somos estrangeiros de onde? se a terra foi feita para todos. Das cercas?

    As vezes me sinto estrangeiro do mundo.

    bjs e opré romale - avante ciganos (Todos)

    Bonita e verdadeira a tradução da romanipen - a totalidade de ser cigano). lindo, muito, muito bonito. But, but, buino.

    bjs muitos

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    1. Obrigada, Elisa, conhecer-vos ajudou-me a abrir mais os olhos para as vossas lutas! Somos todos iguais, somos um NÓS enorme, mas tantas vezes não nos encontramos...
      Um beijo (7 antes...), sempre perto de vocês!

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