Ainda há dias lembrei aqui a “Shoah”,
o Holocausto. E lembrei uma amiga que sobreviveu aos campos de concentração e se chamava Susie Heffez.
Sentimos no ar “tendências”
e ouvimos palavras que assustam e, às vezes, dou por mim preocupada...
Culpa do problema económico, no fundo da
questão financeira em que o neo-liberalismo selvagem, nos mergulhou e que tudo transformou num quase-caos, numa confusão tal que nem mesmo os que pensavam perceber um pouco...não percebem nada.
O problema social, causado pela crise e pela austeridade forçada, aumenta as desigualdades, o desemprego e o desespero das gentes!
E pesa no quotidiano das vidas. Há quem sonhe com soluções drásticas.
E pesa no quotidiano das vidas. Há quem sonhe com soluções drásticas.
Na desorientação, no
descontentamento e no medo que é palpável nas pessoas ao ver as televisões, ler
os jornais e ouvir as conversas, muitos se encostam - ou são empurrados- para a "esperança" fatalista de soluções de força que podem ser perigosas.
Vêem-se crescer partidos que se intitulam "nacionalistas" e que não são apenas
populistas, e que podem levar ao desenvolvimento rápido de uma extrema-direita perigosa e a “desvios”
preocupantes.
Sobe a raiva nos mais
fragilizados, acusa-se o imigrante, o estranho - o que não tem culpa- e exaspera-se o
sentimento racista e xenófobo. Nós somos um povo que dizem brando
para o bem e para o mal. Por cá, o racismo não impera, felizmente, ou, pelo menos, por agora ainda é
ténue...
Mas noutros países, voltou a
ideia xenófoba e anti-semita - porque o judeu está sempre "na baila"...
E assinalo o que aconteceu em
Itália, com o “Partido 5 Estrelas”, um partido sem grande nexo, sem ideologia (partido “qualunquista”,
diriam os italianos que já conheceram destes partidos no passado), populista e pseudo-contestatário, que engloba em si todo o descontentamento e a desconfiança nos
partidos ditos clássicos.
Li afirmações do líder, o
ex-cómico Beppe Grillo (a quem, aliás, nunca achei graça e vi os programas dele
quando vivi em Itália), do género: “Os
judeus são como o Átila: por onde passam, os palestinos desaparecem”. Afirmações racistas e perigosas sempre - o que levou a comunidade judaica a protestar.
(in Nouvel Observateur, 28 Março-3 de Abril)
E uma professora ameaça uma aluna, dizendo: "Tu, em Auschwitz, devias estar atenta!" vejo no jornal La Reppublica de hoje (*).
Depois, justificou-se dizendo que estava apenas a referir um lugar onde havia ordem, organização...
(in Nouvel Observateur, 28 Março-3 de Abril)
Beppe Grillo e a frase infeliz...~
Depois, justificou-se dizendo que estava apenas a referir um lugar onde havia ordem, organização...
Na França, há muito que o Front National de Marine Le Pen (herdado do pai, Jean-Marie Le Pen) levantou a cabeça.
Na Alemanha, é o jovem realizador
David Wnendt (nasceu em 1977 e estuda cinema em Berlim e Praga) que alerta para
o problema do neo-nazismo, no seu filme “Guerreira”, saído em fins de Março, em França.
"Vidas medíocres, desemprego, vazio ideológico, bebedeiras pontuadas com "Heil Hitler!", misoginia e actos de barbaridades eis o quotidiano destes degenerados". Meios onde grassa o ódio ao estrangeiro. São os "gangues da suástica" e a velha "renovada" ideologia fascista- leio no Nouvel
Observateur (semana de 21-27 de Março).
François Forestier, o articulista, denuncia "um filme choque : os "novos nazis" e termina o artigo dizendo:
"Guerreira é um aviso, uma demonstração, um sinal. O filme tem um estilo directo e constata sem hesitações: é preciso eliminar esses crápulas."
François Forestier, o articulista, denuncia "um filme choque : os "novos nazis" e termina o artigo dizendo:
"Guerreira é um aviso, uma demonstração, um sinal. O filme tem um estilo directo e constata sem hesitações: é preciso eliminar esses crápulas."
Na Áustria, a imagem de Hitler aparece “normalizada” na publicidade, até nas garrafas de vinho, nas canecas para os turistas, etc, e muitos
(demasiados!) hoje consideram que ele “não foi assim tão mau”. (N.O. 21-27
Março).
Tornou-se banal Hitler e o mal?
Na Grécia, com a crise galopante
e o descrédito dos político e a ideia de que “já não temos nada a perder”, podem
acontecer coisas perigosas, talvez irreversíveis.
Tornou-se banal Hitler e o mal?
Relentos de nazismo? Garrafas de vinho e Hitler
Para já, houve a subida do partido neo-nazi “Alba Dourada”, um partido que pensa no próprio futuro e “prepara a regeneração do espírito grego”, como diz a propaganda.
E organizando manifestações junto de figuras "fortes" dos heróis da história da Grécia, como diante da estátua de Leónidas, nas Termópilas...
Leónidas, o herói- guerreiro de Esparta
elementos de "Alba dourada", frente à estátua de Leónidas
Criaram, de facto, cursos daquilo a que chamam o “despertar nacional”, dedicados a crianças de 6-10 anos, instrução ministrada por membros do partido que vão, igualmente, recrutar miúdos mais velhos, nos liceus.
manifestação de "Alba dourada"
E apareceram grupos musicais de "culto" nazi, como por
exemplo, o grupo rock-punk chamado “Pogrom” (* *) que canta uma a canção-farol “Auschwitz”, apelando
para uma nova Auschwitz...
Deixo a letra que é bem explícita
e que encontrei no Nouvel Observateur de 28/03-03/04 (p. 29).
"Fuck Wiesenthal
Fuck Anne Frank!
Fuck Anne Frank!
Fuck
a tribo de Abraão!
Imagino o ar atónito da minha
amiga Susie, adolescente de 12 anos, em Auschwitz, e
a pergunta que, no seu espanto e dor, quase não conseguia articular e lhe queima a alma sensível :
"Por que nos odeiam? Que mal fizemos nós”?
"Por que nos odeiam? Que mal fizemos nós”?
(*) http://www.repubblica.it/cronaca/2013/04/05/news/professoressa_antisemita-55970015/?ref=DRL-6
(* *) Significado de "pogrom" (do russo): movimento organizado visando o extermínio de certas colectividades, em especial de judeus.
(* * *) Simon Wiesenthal (1908-2005) -judeu austríaco (do antigo Império Austro-Húngaro) sobrevivente dos campos de Janowska e Mauthausen que decidiu, no fim da guerra, procurar os criminosos nazis, impunes. Conhecido como "o caçador de nazis"...
(* * * *) http://www.filmdeculte.com/cinema/film/Guerriere-4615.html
(* *) Significado de "pogrom" (do russo): movimento organizado visando o extermínio de certas colectividades, em especial de judeus.
(* * *) Simon Wiesenthal (1908-2005) -judeu austríaco (do antigo Império Austro-Húngaro) sobrevivente dos campos de Janowska e Mauthausen que decidiu, no fim da guerra, procurar os criminosos nazis, impunes. Conhecido como "o caçador de nazis"...
campo de Mauthausen
(* * * *) http://www.filmdeculte.com/cinema/film/Guerriere-4615.html
É preocupante e assustador o caminho que as coisas podem levar quando as pessoas andam descontentes.
ResponderEliminarMuito preocupante!
Temos que continuar a esperar! Não nos podem roubar tudo... beijinhos
EliminarFaço minhas as palavras da Isabel.
ResponderEliminarÉ muito preocupante e assustador!!
Os totalitaristas sempre estiveram aí, dispostos a aproveitar as debilidades da democracia. Não podemos deixar-nos levar pelo catastrofismo, porque há muito mais que perder do que já perdemos: a liberdade, a dignidade, a paz, a vida! Temos que sair desta todos juntos e ser capazes de construir uma sociedade mais sã e transparente. Afinal os anos de progresso tinham pés de barro, era uma mentira e uma estafa que está a sair à luz graças a que as instituições ainda servem para alguma coisa. Vai custar muito arranjar isto, mas não podemos consentir que venham os de sempre a acabar de estragar tudo. Se no passado acabaram por perder, não vai ser no século XXI que vão ganhar a batalha à democracia, que está muito mais arreigada.
ResponderEliminarLiberté, Egalité, Fraternité!!
E um grande beijo,( é um bom post, apesar dos pesares).
Conquistas sem preço: liberdade, dignidade e paz que temos de defender hoje, tens razão. Com unhas e dentes!
EliminarLiberté, Egalité, Fraternité...sempre!
beijo!