mar de São Tomé, no blog alma de viajante
Tanto
peixe que havia em São Tomé! Durante os cinco anos que lá vivi acho que só comi
peixe!
Peixes
enormes! Eram
chernes, gigantescos e fresquíssimos, que vinham de São João dos
Angolares, e que o pintor Nézò, também pescador, nos trazia à cidade capital.
Lembro-me
sempre da imagem do meu empregado Zé Francisco a chegar à cozinha abraçado a um
desses peixes, sem saber como lhe pegar, mais parecendo dançar com ele do que
levá-lo, junto às roseiras de porcelana.
E vem-me hoje à ideia uma pintura que nada tem que ver com essa cena, mas que se aproxima, numa certa forma de ironia, do quadro The singing buttler, do pintor escocês Jack Vettriani.
E vem-me hoje à ideia uma pintura que nada tem que ver com essa cena, mas que se aproxima, numa certa forma de ironia, do quadro The singing buttler, do pintor escocês Jack Vettriani.
Detrás de uma bananeira, o Senhor Semedo espreitava-o, com um ar divertido, sem
se mexer para o ajudar.
Outras
vezes ia com a Milly comprar os peixe ao Mercado do Ponto. Havia o peixe bonito, o
voador, atum – tudo cortado em pedaços geométricos bem arrumadinhos
uns ao lado dos outros....
Aparecia
por vezes o fino espadarte azul, o Blue
Marlin, que se pescava nas águas da Ilha do Príncipe.
Mas esse encontrava-se só no restaurante Blue Marlin, que pertencia a uns sul-africanos que eram igualmente "donos" do ilhéu Bom-Bom.
O restaurante deles era o único sítio onde se conseguia comer carne boa: os célebres "T-bones", uma costeleta grande, assada nas brasas. E lembro uns amigos desses tempos, a Madalena e o Luís, que iam connosco...
Mas esse encontrava-se só no restaurante Blue Marlin, que pertencia a uns sul-africanos que eram igualmente "donos" do ilhéu Bom-Bom.
Eu, na ponte que liga o ilhéu Bom-Bom à ilha do Príncipe
o Blue Marlin, ou espadarte
O restaurante deles era o único sítio onde se conseguia comer carne boa: os célebres "T-bones", uma costeleta grande, assada nas brasas. E lembro uns amigos desses tempos, a Madalena e o Luís, que iam connosco...
Ora se
os pescavam e se as pessoas os comiam, queria dizer que eles existiam.
De
facto, avisaram-nos à chegada que era
melhor ter cuidado no mar alto. “Mas quem vai mergulhar no mar alto?”,
pensava eu.
Por causa dos tubarões, era perigoso
também, nadar fora de pé, diziam. Ou nas praias isoladas.
Procurei sempre não me afastar do areal, confesso! Porque tinha medo das correntes traiçoeiras que, bastava afastar-nos uns metros do areal, pareciam querer sugar os corpos e deitá-los de encontro às rochas.
Procurei sempre não me afastar do areal, confesso! Porque tinha medo das correntes traiçoeiras que, bastava afastar-nos uns metros do areal, pareciam querer sugar os corpos e deitá-los de encontro às rochas.
Nesses primeiros tempos, sempre
que passeávamos junto ao mar, ao longo da balaustrada que o costeava desde o
Pantufo, havia alguém que perguntava:
- Já
viram os tubarões da areia?
Baia de Ana Chaves, à noite
Era
ali perto que o Água Grande, o rio de
São Tomé, vinha misturar as suas águas com as do mar. Quem pensava em tubarões?
Da primeira
vez que me falaram nos tubarões, fiquei em sobressalto.
- Tubarões?
Aqui?
Nem
me lembro quem nos contou a história verdadeira
dos tubarões que viviam debaixo da areia da praia.
Cada
um tinha a sua ideia e todos diziam a sua: que era perigoso mergulhar fora da
costa, que já tinham desaparecido pescadores ao largo de São Tomé.
Um
dia perguntei ao senhor Semedo. Riu-se, mostrando as gengivas onde faltavam dentes,
com os olhos a brilhar tanto que eu me ri logo com ele.
-
Ah! dôtôra, há tubarão de areia, mas esses não fazem mal à
gente...
Estendeu o braço, apontando o mar como se estivesse ali mesmo do outro lado do passeio, ao lado da acácia de flores cor de laranja. O mar ficava perto da nossa casa, atravessada uma rua, estávamos na Marginal.
Estendeu o braço, apontando o mar como se estivesse ali mesmo do outro lado do passeio, ao lado da acácia de flores cor de laranja. O mar ficava perto da nossa casa, atravessada uma rua, estávamos na Marginal.
- Estão
enterrados na areia, continuou. Dormem todo o dia e não vêm cá para fora!
Depois, encolheu os ombros e virou-se para mim, sempre com o mesmo sorriso.
Depois, encolheu os ombros e virou-se para mim, sempre com o mesmo sorriso.
-
Acho que é assim. Os pescadores sabem destas coisas.
Repeti
o “cá para fora”, com um certo receio. Sentia-me
inquieta.
-
Nunca, dôtôra. Têm medo dos homens...
-
Têm mesmo, senhor Semedo?
Encheu
o peito de ar, como se ele fosse um daqueles homens de quem o tubarão tinha
medo.
- E
como é que eles comem? Não vêm à superfície?, perguntei.
-
Oh! Os peixinhos vão ter com eles. E eles comem-nos. Há tantos...
Ficou
a olhar, sonhador.
-
Andam por ali a tratar da vidinha. E os tubarões comem-nos. É assim a vida no
mar, dôtôra.
Gostava
de me contar estas coisas o senhor Semedo.
- É
assim, no mar..., repetiu.
Pensativo,
afastou-se a arrastar a vassoura.
E eu
ia dizendo mais para mim do que para ele :
O senhor
Semedo já estava longe, na outra ponta do jardim, a resmungar baixinho e não me podia ouvir.
Estive sem computador, um problema ligado ao blogger ou um vírus? Voltou,"tratado", mas não me parece curado...
ResponderEliminarCor, letra, tudo é difícil de acertar! Esperemos que com o tempo melhor! A primavera já está aí...
Senti a sua falta! Espero que o problema esteja resolvido de vez e não tenha que se ausentar de novo!
ResponderEliminarGostei da história. Gosto das suas histórias!
Se me dissessem que havia tubarões, mesmo que longe, e apesar de gostar tanto da água, já não me atreveria a meter-me no mar!Não, não! Admiro a sua coragem!
Nunca tinha ouvido falar de tubarões da areia.
(fui ao cinema ver um filme do Hitchcock, "Vertigo". Gostei.)
Um beijinho grande. Já cá temos a Primavera!
Maria João, Estes textos são uma delícia! Leio, releio, fico saboreando palvras e imaginando histórias. OBRIGADA!
ResponderEliminarBeijinhos
Luísa
Querida Maria João, ainda bem que está de volta!! O que vale é que existe o telefone...
ResponderEliminarQuanto aos tubarões, simplesmente deliciosas estas passagens.
Em terra, parece-me que devem existir mais tubarões do que no mar. E, são bem perigosos... O nome deles é: HOMEM!!
Eles comem tudo, eles comem tudo... diz a canção!
Ficou muito bem na fotografia.:))
Um beijinho.