Ouvimos falar desta poesia tipicamente japonesa como sendo algo diferente de tudo.
Haikus, haikis, haikais?
Ou Haikais, como dantes eram chamados? O que são
exactamente?
Definição encontrada na "wikipedia":
"Haiku ou haikai é uma forma poética de origem japonesa que valoriza a concisão e a objectividade. Os poemas costumam ter 3 linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses e 5 na segunda linha".
Mas por que razão gostamos do poema “haiku”? Pela simplicidade e imediateza, talvez.
Definição encontrada na "wikipedia":
"Haiku ou haikai é uma forma poética de origem japonesa que valoriza a concisão e a objectividade. Os poemas costumam ter 3 linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses e 5 na segunda linha".
Trata-se de dois volumes: “Haiku - Anthologie du poème court
japonais” (NRF, Gallimard/Poesie, 2002) e "Haiku du XX ème siècle – Le poème
court japonais d’aujourd’hui", mesma editora, 2007).
"Porque se ama o haiku?", pergunta Corinne Atlan, que assina o Prefácio da "Antologia" que autora traduziu, com Zémi Bainu, e que estou a ler.
"Sem dúvida pela aceitação que encontra em nós, entre o maravilhamento e o mistério. O tempo de um sopro (um haiku, segundo a regra, não deve durar mais do que uma respiração), o poema coincide de repente com a nossa intimidade, provocando o mais subtil dos sismos”.
"Sem dúvida pela aceitação que encontra em nós, entre o maravilhamento e o mistério. O tempo de um sopro (um haiku, segundo a regra, não deve durar mais do que uma respiração), o poema coincide de repente com a nossa intimidade, provocando o mais subtil dos sismos”.
Continuo a citar Corinne Atlan:
“Segundo Bashô (o poeta clássico, o mais antigo criador destes poemas), um poema perfeito deve revelar –no mesmo
momento- o imutável, a eternidade que nos transborda, (fueki), e o fugitivo, o
efémero que nos atravessa (ryûko).
O haiku treme e cintila, então, como um instante-poeta, uma fagulha que nasce da confrontação permanente entre o presente e a eternidade.”
Ando Hiroshige
O haiku treme e cintila, então, como um instante-poeta, uma fagulha que nasce da confrontação permanente entre o presente e a eternidade.”
"A eclosão espontânea de uma flor de sentidos”, acrescenta ainda a autora.
Penso nas sakuras e nas glicínias (wisterias) magníficas, ou as flores de ameixoeira que vão desabrochar por toda a parte, nesta Primavera! No Japão, a Primavera já começou há muitos dias...
Penso nas sakuras e nas glicínias (wisterias) magníficas, ou as flores de ameixoeira que vão desabrochar por toda a parte, nesta Primavera! No Japão, a Primavera já começou há muitos dias...
Têm o tempo de um
respirar. Ou de um suspiro.
É um "attimo”, dizem os italianos, palavra difícil de traduzir
que é sopro, momento fugitivo, efemeridade...
Hiroshige, ameixoeira em flor
Isso é o haiku. Como num movimento de respiração, a aproximação sensual do mundo que nos rodeia.
Antigamente chamado “haiki”, é um poema breve de 17 sílabas (não são exactamente sílabas...) que “canta” a natureza, a comunhão do poeta com as coisas, a relação com o
mundo, num indefinível sentimento que só certos poemas nos dão: suavidade,
entendimento, o anulamento do ser naquilo que o rodeia.
Identificação com o exterior, seja ele o luar, uma estação do ano peculiar, uma flor, um insecto, ou mesmo: "este tempo que nos enlouquece".
"susukis" ao luar
A sugestão, a impressão, a cor, a simplicidade.
Nas suas poucas sílabas, o equilíbrio entre o não-dito que se
adivinha, o estado de espírito fugaz, o olhar que se perde e se associa a um
sentimento é precário e subtil.
Atrás disso, vem tudo: a emoção e a dimensão imprevisível do mundo. A
mistura das sensações, as sinestesias suaves, sabiamente escolhidas. Os oxímoros (bem, os paradoxos) delicados. Tudo encontramos na breve música dos versos do haiku.
Kyioshika, Inverno
Os crisântemos, as flores róseas da cerejeira ou a brancura da flor da ameixoeira, as folhas rubras dos áceres, os pássaros. A imobilidade, a paz e a pureza e o ferver da vida...
Escrevia Bashô estes versos lindos e verdadeiros:
Escrevia Bashô estes versos lindos e verdadeiros:
"Sob as amendoeiras em flor
Agita-se e fervilha
a humanidade"
E tantos outros motivos, temas, na sua simplicidade quase absoluta.
Os nomes dos poetas são muitos. Desde a antiguidade aos tempos modernos...
O mais famoso, entre todos, talvez seja Matsuo Bashô que nasce em 1644 e morre em 1694. Depois, já no século XVIII, Yosa Buson (1716-1783) e Kobayashi
Issa (1763-1827).
casa onde teria nascido Bashô
Kobayashi Issa
túmulo de Buson, em Tóquio
Ando Hiroshige, Tóquio (ou Edo)
No século XIX aparece-nos Masaoka Shiki (1867-1902)
considerado o “pai” do haiku moderno. Shiki foi amigo e
mestre de Natsume Soseki - grande escritor japonês (1865-1915) que cultiva tanto o
haiku como o romance.
Masaoka Shiki
pormenor da capa da capa do livro "Haikus", de Soseki
o escritor Natsume Soseki
lanterna japonesa, Oda Cregh
Muito há a dizer sobre tudo isto, claro. mas nada como ler estes poemas curtos, que tentei traduzir (do francês, claro) o melhor que soube e que tanto prazer me deu.
Leiam, tentando sentir a atmosfera.
* * *
Anda
vem ver a neve
até ela nos enterrar!
Matsuo Bashô (1644-1694)
* * *
Sob as amendoeiras em flor
Agita-se e fervilha
a humanidade
a humanidade
Matsuo Bashô
* * *
És a mesma
este ano?
Matsuo Bashô
* * *
Ah cuco!
Aumentas mais ainda
A minha solidão!
Matsuo Bashô
* * *
O gato esquece o arroz
Colado aos bigodes
Tan Taigi (1709-1771)
* * *
Juntam-se os ossos do morto –
As violetas
têm pena
têm pena
Yosa Buson (1716-1783)
* * *
Abre
A estação do Outono
Kaya Shirao (1738-1791)
* * *
Ei-la a minha
última morada –
Cinco pés de neve!
Kobayashi Issa (1763-1827)
* * *
Diria treze anos -
Mais ou menos!
Kobayashi Issa
* * *
Com uma voz amarela
O rouxinol
Chama pelos pais
Kobayashi Issa
* * *
Noite de andorinhas –
Amanhã outra vez
não terei nada para fazer
Kobayashi Issa
* * *
A borboleta volita
Num mundo
Sem esperança
Kobayashi Issa
* * *
Borboleta que bates as
asas
Sou como tu –
Poeira de ser!
Kobayashi Issa
* * *
Gafanhoto –
Não pises as pérolas
de orvalho branco
Kobayashi Issa
* * *
Se pudesse morrer
Antes que o orvalho
seque -
Seria perfeito
Ozaki Kôyô (1867-1903)
* * *
Noite breve –
Quantos dias
Me restam para viver?
Masaoka Shiki (1867-1902)
* * *
Passou a meia-noite –
A Via láctea
Inclina-se sobre um bambu
Masaoka Shiki
* * *
A morte chega –
Alguém ri às gargalhadas
Nas ameixoeiras
* * *
Apagada a luz
as estrelas frescas
Entram pela janela
Natsume Soseki (1865-1915)
* * * * * * *
Prometo trazer mais poemas! Não me canso de os ler!
Maria João,
ResponderEliminarAdorei, ADOREI. Gosto muito de Haiku.
Gosto do "sopro" oriental: da arte, da poesia, do ritmo, do chá, da cerimónia... e não digo mais.
Tenho dois livros de haiku de poesia feminina. Não me lembro se já coloquei algum. Possivelmente sim.
Parabéns por esta postagem que foca este género poético.
Beijinho. :))
Gostei imenso deste post.
ResponderEliminarJá tinha algum gosto pelas coisas japonesas, mas tenho aqui aprendido a gostar de muito mais.
Já conhecia o haiku, mas não há muito, só desde que ando nestas lides blogueiras!
Lembro-me de ver alguns haiku no blogue da Ana.
Não tenho nenhum livro, hei-de ver se há em português. Acho muito bonito.
Um beijinho grande
Querida Isabel, também vi um "haiku" no blog da Ana, e o Manuel também pôs um há tempos. São admiráveis oela sua simplicidade e por tudo poder ser "tema"...
EliminarA Lumière é bem capaz de ter lá algum, a Cláudia falou de uma boa edição da Assírio & Alvim...
beijinhos
Vou já a "correr" perguntar à Cláudia!
EliminarEntretanto vi que a Editora Lincorne tem um, que tenciono pedir.
Também me lembro de ter visto há pouco tempo um poema no blogue do Manuel, sim!
Um beijinho grande e obrigada pela informação (preciosa)
Querida Maria João,
ResponderEliminarO Haiku encanta, pois com poucas palavras consegue transmitir muito... beleza, uma cultura, estado de espírito, felicidade, a natureza...
De Matsuo Bashô, tenho um livro da Assírio & Alvim, intitulado "O Gosto Solitário do Orvalho", traduzido pelo grande poeta Jorge Sousa Braga. Um apaixonado por este género de poesia.
Bonito post.
Beijinhos.
Cláudia! Cláudia! É para mim! É para mim! Guarde-mo por favor!!
EliminarObrigada!
Poemas em tres versos, pequenas jóias. Tèm que encerrar um pensamento muito profundo, dito de uma forma que certamente perderá beleza com a tradução, a poesia traduzida perde sempre, é uma forma de expressão um pouco como a música.
ResponderEliminarGostei, muito japonês!
Um beijinho grande
Noite de andorinhas—
Amanhã outra vez
não terei nada que fazer.
Obrigada!!!
ResponderEliminarHaikais são poesias especiais.É preciso ter muita sensibilidade e olhos de ler poesia para entendê-los.Belíssimo post. Abraços!!
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ResponderEliminarハリウッドゼロの世界"
目を覚ます人もあります
何もしません
そして、何もしないまま寝ます
何千ものです
何百万人に
毎日...
信じる理由
そのような世界で
退屈
不確実性
infuturo
何百万人
そして何百万人以上
ますます百万
テラスを拡張
ゼロ...
ちょうど待たなければなりません
最後..
か最後に信じないように
または死亡
彼らは、幻想に存在し
ムービー
Holywoodの"
著者に寄付
IBANPT 50 0035 0651 00473521000 24
カルロス・リベラルのAc
Gostei muito, MJ.
ResponderEliminarAutoriza-me que cite alguns dos seus Haicais
e esta sua página?
Beijinho.
~~~~
Claro que pode, Majo! Será um prazer para mim saber que os vai citar! O importante é espalhar a beleza da literatura. A beleza tout court...
EliminarBom domingo!
Belíssimo post,enquanto estava lendo me lembrei da história que meu avô contou sobre quando ele estava vindo pra o Brasil.
ResponderEliminarQuando ele veio ao Brasil o pai dele acompanhou até o porto de Kobe e disse um poema pra ele com 5 palavras Mio Musubu Koto o Wasurezu Fuyunoume traduzido é Ficar como ume fruta não se esqueça não deixe cair se esforce (não sei se esta correto porque nunca achei esse poema se algum de vocês souberem me avise por favor). Depois de uma semana o pai dele faleceu isto ele ficou sabendo quando chegou ao Brasil. Meu avô ele permaneceu firme apesar te todas as provações que ele teve que enfrentar.
Meu pai disse que Ume é uma fruta japonesa que não cai fica sempre firme no pé.
Acabei de descobrir esse encanto de poesia japonesa, estou maravilhada. Obrigada por esse belíssimo trabalho,parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigada, Madame Paré, u é que agradeço. Os "haikus" são poemas de poetas extraordinários na sensibilidade profunda e na expressão essencial de uma emoção ou sentimento. Dizem tudo naquele pequeno agrupamento de poucos versos.
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