“C’est arrive près de chez vous”, é um filme belga, de André Bronzel, Rémy
Belvaux e Benoit Poelvoorde, que fala desse horror que passa ao nosso lado e não queremos ver... Aqui é um serial killer que adora música clássica e filosofia, mas que vai matando, violando, sem grandes estados de alma: crimes banais, para ele...
Documentário a preto e branco que é uma sátira negra sobre um "serial killer" - assassino sem piedade: “Manual de instruções para crimes banais.” (1992) Em
inglês “Man bites dogs” ("O homem morde aos cães”, que acho um título fantástico!).
Como resolver todos esses problemas?
Dei por mim irritada. Estive tranquila, em Porto Covo, mas abri o
jornal e descobri uma vez mais como o mundo é (continua...) cruel, ingrato, e perverso.
Às vezes confesso que me esqueço que é assim, cheia do meu optimismo, “à
maneira” do Candide, do Voltaire, e das minhas ideias de "utopias para todas as
ocasiões"...Mas será mesmo assim? Será possível acreditar?
Ou resta-nos, apenas, ficar de lado a ver, observar, a fixar no papel ou na
película o momento, a luz, a beleza, o instante que já passou?
Ou comprar um novo livro? Para adiar o tempo de morrer?
Ou comprar um novo livro? Para adiar o tempo de morrer?
Ou ler um poema?
“Le ciel est pardessus le toit
Si bleu, si calme,
Un arbre par dessus le toit
Berce sa palme...”
E continuo a desfiar o "rebanho" dos meus pensamentos...
Fora, as ruas plácidas de Port Covo, a paisagem, os campos, o mar, as pessoas na conversa do café.
Tudo parece em paz, simples como no poema de Verlaine.
Mas a vida bate à porta, a desinquietar-nos, a cada momento!
Notícias e mais notícias! Violências, aluviões, rios que galgam as cidades que
se descobrem indefesas, guerras fratricidas brutalmente mais dolorosas, guerras “normais”, espiões, um
nunca acabar de desgraças e calamidades, naturais umas, desnaturadas as outras.
Imagem da Guerra Civil de Espanha, Republicanos (1936)
Se não houvesse espiões, não havia os maravilhosos livros do Ian Fleming ou do
John le Carré ou do Daniel Silva!
A desculpa da luta anti-terrorista levou a muita coisa horrível, no campo
da perda das liberdades adquiridas com tanta luta...
Mas o terrorismo em si levou ainda a coisas muito piores, entre elas essa mesma “desculpa”
a que os governos tiveram direito - por causa deles, dos terroristas...
As destruições e as mortes imperdoáveis, que vêm sempre agarradas!
As destruições e as mortes imperdoáveis, que vêm sempre agarradas!
E o resto?
Interessa-me, sim, o que se passa à minha porta, na minha terra, no meu
mundo. "Près de chez moi"...
Egoísmo? Inconsciência total? Não, porque sei que o nosso pequeno cosmos
é parte do cosmos e todos os problemas estão ligados.
O que importa à maioria das pessoas ler nos jornais que se matam na Praça Tahrir do maravilhoso Cairo?
Ou que morrem na Praça Taksim, da bela Istambul da Mesquita Azul?
Ou que morrem na Praça Taksim, da bela Istambul da Mesquita Azul?
Alguém se importa verdadeiramente? Alguém faz um gesto que não seja a
pensar no próprio interesse?
Deixem os espiões espiar e tratem do resto!
Deixem os espiões espiar e tratem do resto!
“Quero lá saber dos turcos, é um problema deles,
que se arranjem...”
Tristes tempos...
Eu também não quero saber, porque “eu” não posso fazer nada, e faria se pudesse, se isso servisse de ajuda para alguma coisa constructiva, de verdade, penso...
E a indiferença não é perigosa?
Eu também não quero saber, porque “eu” não posso fazer nada, e faria se pudesse, se isso servisse de ajuda para alguma coisa constructiva, de verdade, penso...
E a indiferença não é perigosa?
Quem quer ajudar, quem quer ser ajudado - e para quê? Nojenta hipocrisia dos
governos e de quem “opina” sem saber.
Como no Iraque o que passou, passou; como na Líbia, o que passou, passou e
foi esquecido. Como o que acontece na Síria vai passar. A que preço? Com que
riscos?
E, na Turquia, a Praça Taksim vai ter os seus mortos e, depois, daqui a uns
meses, quem os lembra?
Interessa-me, pois, é o que se passa na porta ao lado, interessa-me saber que
pessoas iguais a mim, algumas conheço e outras não, estão sem trabalho, estão
sem dinheiro, foram corridos das casas - porque não pagavam o empréstimo
contraído noutros tempos melhores- ou porque, simplesmente, o dinheiro deles acabou!
Queixamo-nos das greves. Claro que a altura dos exames "incomodou" - mas, se não incomodasse...alguém daria pela greve?
No entanto, há professores que não têm trabalho;
há
professores que mudam de poiso todos os anos quando arranjam trabalho;
há
professores que ficam colocados a 100kms de distância das famílias;
há professores que,
se forem trabalhar as tais 40 horas semanais, na escola, (que o governo lhes quer impingir agora ) não terão
tempo nem para viver!
Porque o trabalho de um professor, com um horário “lectivo” de 20 ou 22
horas a “dar aulas” é “insuportável” já de si! Preparação das lições, realização (confecção?) de testes para 5 ou 6 turmas de 30 alunos (o que soma 150-180 exemplares a corrigir depois...), interrogatórios orais para avaliar isto e aquilo, as várias competências.
Se houver mais horas, (além das reuniões, processos dos alunos, organização de
dossiers, mapas de faltas, mapas disto e daquilo, realização das pautas,
avaliações e auto-avaliações) isso tornar-se-à fatal para o professor!...
Aliás, não é por acaso que esta é a profissão com mais percentagem de depressões e problemas de ansiedade, doenças do foro psicológico...
Resta-lhes vendê-los ao desbarato? E quem os compra? Sim, quem os quer, se
não forem uma pechincha? Há dias uma amiga falava-me desse problema da filha: sem trabalho, acabado o subsídio de desemprego, restou-lhe voltar para casa da mãe e vender os móveis!
A solução pode ser mandá-los para casa dos pais, à espera de melhores dias? Mas a casa dos pais já está cheia!
Bem, eles próprios
já estão em casa dos pais, ou dos irmâos, outra vez, muitos com a mulher e os filhos, à espera
dos tais melhores dias. Ali, onde, pelo menos, têm um tecto e comida...
Ouço falar amigas, ouço-as queixarem-se porque é sempre muito doloroso ver
os filhos com problemas. Dói, duplamente!
Mas isto é vida?? Não há nada a fazer?
Há, tenho a certeza de que há.
Há, pelo menos, o caminho que nós achamos justo. Mesmo que a subida seja difícil...
Deixo uns versos de António Machado, que nos podem acompanhar e dar força!
“Caminhante não há caminho, /o caminho faz-se a andar”(*).
Andemos, pois, pelo nosso caminho! Não há tempo a perder...
(1) Videos do filme de que falei acima...
(2) Poema completo de António Machado (que encontrei hoje, no blog "bloggetrotter")
O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO
"Caminhante,
as tuas pegadas
São o
caminho e nada mais;
Caminhante
não há caminho,
O caminho
faz-se ao andar.
Ao andar
faz-se o caminho
E ao
olhar-se para atrás,
Vê-se a
senda que jamais,
Se há-de
voltar a pisar.
Caminhante
não há caminho,
Somente
sulcos no mar."
António Machado (Sevilha 1875 - França 1939) - Cantares - O
Caminho Faz-se Caminhando.
Sempre esteve e estará tudo aí, as flores do Mal e do Bem, o caminho por fazer, a bondade, o sofrimento, a violência, a injustiça, o amor, a solidão...
ResponderEliminarNão podemos perder o norte, e enquanto nos tocar un caminho levadeiro, temos obrigação de ser felizes e agradecidos. Só se vive uma vez, e cada um uma só vida, ninguém pode levar às costas todas as vidas do mundo. Não somos anjos, como diz a Piaf...
Beijinho