sábado, 6 de março de 2010

O lado escuro da lua...









O lado escondido da lua

“Temos de nos preocupar com o que aconteceu ao Leandro Filipe, um menino de 12 anos, de Mirandela, que morreu por se ter atirado ao rio para que nunca mais lhe tornassem a bater. Temos de fazer alguma coisa para que nunca mais nenhuma criança sinta vontade de fazer o mesmo. Querem uma causa nacional urgente, aqui têm uma. Deixem-se dessas "merdas" com o Crespo ou a Moura Guedes e pensem nas crianças que têm medo de ir à escola.”
(Publicado por Eduardo Jorge Madureira)

Haverá em todos nós um “dark side”, uma face escura, como na lua?
Poderá existir inato, logo desde a infância? Fala-se sempre da crueldade das crianças... Será natural? Será a "luta" pela vida? Por crescer numa selva desconhecida? A necessidade de nos defendermos? O medo? Serão mais tarde as condições de vida?
De quem é a culpa?
Será a educação? Será culpa dos pais? (Penso que ninguém terá a coragem de dizer que é "culpa dos professores"!)

Nunca mais parava de me interrogar.
Porque, perante o caso do suicídio de uma criança, devemos sobretudo interrogar-nos.

Não sei por que acontece a violência de uns contra outros –os mais fortes contra os física e psicologicamente mais frágeis claro- nas escolas, entre miúdos...


Nestes últimos dias tem-se falado muito em Inglaterra de um caso sucedido aqui em 1993: dois rapazinhos de 10 anos arrastam pelas ruas de Liverpool uma criança de 2 anos que vão enchendo de murros e de pancada, até o deixarem morto num canto. Em Liverpool, cidade socialmente degradada com muita pobreza e vidas difíceis, é certo.

Crianças sem rumo abandonam a escola, vagueiam sem rumo e encontram bárbaras maneiras de se divertir –ou de se vingar?-, torturando uma criança indefesa. Os adultos que os viram passar, por que não intervieram?
Justificam-se dizendo que os dois rapazes afirmavam que o miúdo era irmão deles. Desde quando é normal irmãos mais velhos darem murros a um irmão ainda criança? Indiferença, desinteresse, penso. Indesculpável.

Foram condenados os 10 anos e estiveram internados num estabelecimento correccional. O Juiz que transformou a sentença de prisão perpétua numa pena mais leve justificou-se: “são crianças muito pequenas, que, provavelmente se tivesses tido mais três ou quatro anos não teriam tomado esta atitude. Demos-lhe esta oportunidade” .

Saíram em 2001, com nova identidade, e desaparecem na bruma. Com o 12º feito e “a capacidade de se exprimirem em bom inglês sobre o que lhes aconteceu e sobre os remorsos que sentiram”, diz o articulista do Guardian .

Voltou a falar-se outra vez deles, há dias, porque, enquanto um deles seguiu um caminho normal, sem percalços, o outro voltou a ser preso, e está na cadeia agora algures no País de Gales.
O que concluir? Cada um concluirá o que entender.

Por mim penso que a crueldade, a "potencialidade" do mal existe e que cada um de nós, aprende, desde criança, a controlar, canalizar, sublimar essa potencialidade pela vontade própria, pela educação, pelo amor.
Quem não leu a horrível história do esquecido e grande William Golding, “The Lord of flies” (O Deus das Moscas), leitura obrigatória o curriculum das escola inglesa?

"The story that never grows old... Lord of the Flies remains as provocative today as when it was first published in 1954, igniting passionate debate with its startling, brutal portrait of human nature."
Uma história (1954) que nunca envelhece e permanece como uma provocação ateando debates apaixonados pelo brutal retrato da natureza humana que pinta.
Um grupo de adolescentes, náufragos numa ilha “regridem”, voltam aos estádio selvagem (?), quase mágico, esquecem todas as regras aprendidas comportam-se como se fossem seres primários deixando vir à superfície –incontroláveis- os instintos, a vontade de exercer poder, do mais forte –ou mais inteligente? Ou mais manipulador?- sobre o mais fraco.
Alegoria da humanidade? O retrato da natureza humana é em Golding assustador.
E, num aparte, interrogo-me: De facto, como se explicam, no nosso século XXI, as atitudes “primárias”, sádicas e atrasadas, que levam estudantes universitários portugueses a exercer a retrógrada praxe sobre outros estudantes -novatos, “caloiros”?
A humilhação, a tortura, a pseudo-escravização e domínio (efémero) do outro...
Como explicá-lo?
Mas voltemos ao assunto que interessa:
Por que será que os círculos fechados propiciam este tipo de situações? Lembro o famoso livro de Agatha Christie, “Dez negrinhos”, em que o mesmo círculo de violência e morte se fecha sobre um grupo de pessoas, numa ilha cortada do mundo.
Ou o paquete de luxo, parado mo meio do oceano, numa história de Mary Reinhardt? Vão-se matando uns aos outros.

Ou um outro livro, de Anthony Berkeley (outro bom escritor policial inglês), em que sucede o mesmo: alguém, numa ilha, começa uma série de assassínios em cadeia.

Qual o fio que liga tudo isto? Nem todos os perdidos nas ilhas, ou náufragos se comportam deste modo...
Claro que não.
Mas os círculos fechados podem “provocar” reacções destas.
E o que tem isto a ver com as escolas? Com o modo de relacionamento agressivo/defensivo entre os jovens alunos? Ou com o bullying que alastra pelos centros educativos de toda a Europa?
De quem é a culpa? Como remediar estas situações?
Não acho que seja apenas falta de policiamento nas escolas. "Policiar" nunca foi solução para nada: educar, ensinar, sim.
Acredito na “prevenção” das situações de risco sejam elas o que forem.

E como fazer a prevenção nestes casos?
Não me cabe a mim explicá-lo... Não sei.
Para isso é que todos deveríamos estar a “contribuir”: pensando a sério -sem pretendermos ser “cérebros” a tentar descobrir soluções infalíveis –que as não há. Talvez organizando "encontros" nas escolas, grupos de trabalho com os professores/alunos/pais/psicólogos.

Fazer "reflectir".
A sério. Não com a intenção de “cumprir mais um programa”.
Com a missão de “estudar”, perceber, ensinar a “conviver”, a respeitar, como existe já em certas escolas em França ou Inglaterrra.
Mas só nas escolas? Claro que não! Noutras formas formas associativas, ligadas ao desporto, à cultura: pequenos grupos que possam funcionar nas escolas e intervir como uma especial forma de ensino, de educação...
Porque a educação ajuda a prevenir tudo, todos os males? Talvez não, mas ajuda a resolver muitos!
Em França, nos tempos do Governo socialista de Jospin, havia nas escolas um "serviço" de ex-estudantes na escola que vinham sob forma de voluntariado –mediante um pagamento e em part-time- ajudar nos tempos livres.
A falar, a ajudar a "despoletar" conflitos nos intervalos com os alunos mais turbulentos, mais agressivos, e menos adaptados.
Até que ponto isto é “realizável”, perguntamos todos. Tudo se pode fazer. Basta haver "a vontade de"!
Quando uma criança chora e não quer ir à escola, nem sempre é porque não lhe apetece e prefere ficar em casa a brincar...

Pode ser grave: medo! E ter medo é a sensação mais horrível que existe!
___________________
O tema de The Dark Side of the Moon inclui o conflito, ganância, a passagem do tempo e os estados de doeça mental (em parte inspirada pela degradação da saúde mental de Barrett).
Se aceitarmos como facto as palavras do grupo de "
rock progressivo", Pink Floyd, não existe um lado escuro da Lua - ela é inteiramente escura.

De certa maneira, está cientificamente correcto, porque a Lua não produz luz própria, limita-se a reflectir a luz do Sol.
Mas, embora a superfície lunar não reflicta muita luz, ela própria é tão grande que mesmo assim parece brilhante quando afinal está cheia de uma noite escura...
Afinal estamos no tal dark side of the moon?
Haverá outro lado? Temos que procurá-lo!

6 comentários:

  1. A crueldade está nesta organização social.O sucesso a todo o custo,custo dos outros.cada sucesso é sempre à custa de milhões de insucesssos,para não dizer fome e morte.
    Produtividade,para quem?
    Lucro lícito?O que é e quem o define?
    Crianças abandonadas em casa dos pais.Pais sem paciência sequer para os ouvir.
    Medo?Todos temos.É preciso é levantar a cabeça e isso é o que eles não querem.
    Estão a educar esta sociedade assim.
    É como lhes convém.
    Cordial abraço,
    mário

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  2. Ainda bem que pensa assim. Esse é por certo um dos grandes problemas de hoje.
    Há um movimento hoje -felizmente- que começa a tentar "desacreditar" esse empurrar para a sociedade do sucesso, da produtividade, do lucro (de alguns) etc.
    Muitos procuram outra vez voltar ao "ser" em vez do "ter", mas não é fácil porque não têm ajuda!

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  3. Você e eu tivémos a sorte de ter dois pais maravilhosos,que amando-nos,nos ensinaram a amar.
    Para mim muitos verdugos sâo também vítimas,de si mesmos.Se convertéssemos a sociedade no "Mundo Feliz"de Huxley,que vamos caminho disso,estaríamos todos perdidos numa ilha de solidâo sem retorno,porque já nâo saberia ninguém que um dia ser homem foi ser capaz de amar,e que só o amor dá sentido a tudo isto.
    Beijinhos da Maria

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  4. Excelentes interrogações e algumas constatações dolorosas e perturbadoras. Para além de todas as causas possíveis, também me parece que a principal está na sociedade, gravemente doente, que construímos. Urge repensar o modo como vivemos e nos relacionamos com os outros.
    É horrível pensar no sofrimento desta criança!
    Beijinhos

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  5. M J. Parabéns pelo dia das mulheres. Seja muito feliz. Bjs

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  6. Por isso é importante repensar, reflectir, dar novas soluções, esperanças!
    Bom Dia da Mulher! Em Roma, em todos os cantos da cidade, e nas praças,há raminhos de mimosa para oferecer.
    Obrigada Elzenir

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