Sim, ontem o dia foi como um pesadelo! Parece uma história de loucos. Pesadelo nem seuqer climatizado "à Miller", nem nada de especial: um pesadelo simples...
- O meu telemóvel "afogou-se" em vinho tinto!
Ainda o levei ao "pronto-socorro" da Optimus, na Praceta de S. João, mas não havia nada a fazer.
- O meu telemóvel "afogou-se" em vinho tinto!
-Isso é uma história futurista!, dirão. Do Boris Vian...
Não é surrealismo, nem Boris Vian, nem futurismo, nada disso! É real, vivido e sofrido.
Assisti à morte dele sem poder fazer nada!
Como os pesadelos que nos assaltam na noite e de onde queremos fugir...Cercados por todos os lados, sem voz, sem pernas...
O empregado só me disse, trágico :
-Coitado, está morto e bem morto!
E acrescentou, com um ar enojado:
-Que cheiro!
Como se eu acreditasse que nunca tinha bebido -ou cheirado- vinho tinto...!
Culpa de quê?
Desta vida que se vive, das pressas, do stress, the struggle for life, time is money (?)e outros ditos -tudo isso de que tanto se fala e que sofremos na pele -é de facto o culpado desta morte!
As noites insones, à espera de uma pessoa se levantar para ir para a internet (conheço gente assim!), andar num rodopio, da sala para a cozinha, a murmurar:
"Já é tarde! Passou quase a manhã..."
Claro que é tarde...
Mas tarde para quê?
Qual é a pressa? Onde vamos?
Suspiro e penso:
- Sabemos sequer para onde vamos?
E, preocupada:
-Vou perdendo os meus belos hábitos de alentejana que se preza e gosta de ir com calma, devagar, sem corridas inúteis, a sentir o tempo...
O ritmo mudou e eu não me adaptei ao ritmo...
Se não, vejam:
Ontem de manhã, saí, fui a correr às compras, tinha hoje um almoço cá em casa, amigas do coração, não tinha vinho (não bebo)...
Etc. Ontem de manhã, saí, fui a correr às compras, tinha hoje um almoço cá em casa, amigas do coração, não tinha vinho (não bebo)...
Para ser mais rápida, e não dar aso a partir as garrafas, deixando-as no mesmo saco, pus uma dentro da mala de mão...
Chego a casa a correr, abro a porta cá em baixo, subo as escadas de pedra, tropeço, não me posso agarrar ao corrimão porque tenho um saco de bananas pendurado da outra mão...
E caio.
Não estava previsto... Aí começa o pesadelo...A garrafa -de vinho tinto, claro- bate logo no chão, e parte-se.
Não ligo porque pelos vistos a mala era bastante impermeável, até que vejo o elevador com uma mancha rubra, digna de filme de horror, espalhada à minha volta.
Entro em casa, pouso a mala no lava-loiças, volto a sair, vou limpar o elevador, etc.
Não ligo porque pelos vistos a mala era bastante impermeável, até que vejo o elevador com uma mancha rubra, digna de filme de horror, espalhada à minha volta.
Entro em casa, pouso a mala no lava-loiças, volto a sair, vou limpar o elevador, etc.
Quando volto a olhar para dentro da mala, vejo "tudo" a boiar em vinho. Papéis, carteira, cartões de crédito, cheques!
Grito, aterrorizada:
-O meu telemóvel!
Corro para o lava-loiças onde a mala se entornara, rubra...
Tarde de mais. O telemóvel estava completamente "embriagado", com bolhas de vinho dentro do mostrador, a fazer glu-glu...
E morreu.
Não me perdoo, e sei que ele não me perdoou:
Nunca bebemos juntos, é certo, nem água, mas fomos amigos tantos anos, e ...deixei-o morrer afogado num mar de vinho tinto!
Acho tão injusto.
Percebo que não me tenha perdoado.
Até tive vontade de chorar. Sobretudo porque tinha lá os telemóveis dos amigos -alguns irrecuperáveis- e mais de 500 fotografias.
Pois é. Tenho a mania da fotografia, do instantâneo, do momento que passa... e levava-o para toda a parte.
E, de repente, o tempo leva tudo!
Havia uma quantidade de fotos dos sítios mais estranhos.
Enfim....Nem tudo é irreparável: o meu filho (ah! os filhos!), há pouco tempo, tinha-me passado, grande parte delas para o computador!
Resta-me pedir aos amigos -que me lêem- que mandem -devagar...- um sms.
E escolher outro telemóvel...
Sem me deixar levar pelo ataque feroz das publicidades, vendas-super, promoções, ofertas, tudo grátis, etc.
Felizmente o meu filho disse, tranquilo, como sempre:
-Está calma, vê quantos pontos já tens, que eu escolho-te um bom!
-Está calma, vê quantos pontos já tens, que eu escolho-te um bom!
Voltei ao meu velho telemóvel tipo-carroça e vou esperar...
(Resistir! Não comprar! Não instalar!)
gostei*
ResponderEliminarObrigada. Calculei que tinha de gostar, com esse nome de blog: ante morte é que se aproveita!
ResponderEliminarBela História e muito bem contada!
ResponderEliminarOs meus sentimentos pelo desastre do seu telemovel.Sei o que sentiu,porque já passei pelo mesmo,o meu caiu ao mar e nem sequer pude velar o cadaver e recolher as joias que levava dentro.Conforme-se pensando que foi uma morte dôce,porque estava completamente bêbedo.
ResponderEliminarNâo perca os hábitos de alentejana,(os meus avós eram de Alter),porque às nossas idades o maior luxo é poder viver devagar.Beijinhos
Já me consolei a pensar que "podia ser pior"...
ResponderEliminarCalcule se era eu!!! Morrer afogada em vinho tinto...?! Que horror!
Mais vale rir, não é?
Eu bem tento resistir e fincar os pés para não partir, para não correr, mas casei com um cigano/caixeiro-viajante/holandês voador e ninguém o agarra!
Querida amiga, sinto-me um bocadinho culpada porque EU ÍA ALMOÇAR!! E, ainda por cima..., levei do Alentejo mais vinho tinto. Pense no lado bom, vai ter um telemóvel novo, hiper-moderno. Tão moderno que, se calhar, só beberá champagne!!!
ResponderEliminarBeijinhos
Essa do champagne é boa! Claro que quero um desses que "pedem" champagne para morrer...Com "spleen", à Baudelaire, eu sei lá que mais...!
ResponderEliminarhehehe...gostei da dica do empregado da optimus..lolol.. ta mto bonita e divertida a historia:) marty
ResponderEliminarEu compreendo...
ResponderEliminarQuando ele é muito os neurónios baralham os circuitos eléctricos, vem-se «coisas», ouvem-se «ruídos», sentem-se «cheiros esquisitos» …
Acima de tudo «contam-se histórias mal contadas»!
No melhor pano cai a nódoa. E se ele era do bom a única coisa que eu lamento é a garrafa partida que nem as galinhas aproveitaram.
MFonseca
Pois é...Obrigada pelo apoio...
ResponderEliminarTodos os que entramos neste jôgo é por algum motivo.O meu é muito simples,procurar encher conversando um persistente pequeno vazio que sempre estará aí.Adoro as suas historias pessoais,porque é onde você é você,uma senhora com classe.Beijinhos
ResponderEliminarVou contar uma nova "viagem"...
ResponderEliminarLamento a morte do telemovél!
ResponderEliminaré uma perda irrecuperável... mas
a vida continua. Ele estará certamente bem divertido... pois,um litro de vinho até a mim me deixava bastante divertida...
Beijinhos
delfina