quinta-feira, 8 de julho de 2010

Outro livro, outro autor: o escritor lituano Icchokas Meras e o seu livro” Impasse


o escritor Icchokas Meras

Talvez muitos não conheçam Icchokas Meras. Eu própria não sabia quel ele era, até há pouco ...

Só o li há pouco tempo –apesar de ser, há longos, anos um best-seller o livro de que vou falar.
Chama-se “Impasse”.
Li-o por acaso, devo dizer. A Bárbara que é filha da minha grande amiga Lívia é que teve essa ideia.
Mandou-mo pela mãe: “Leve-o porque a Maria João há-de gostar...”
Não vejo a Bárbara há anos. Lembro-a como uma garota, ainda a crescer, curiosa da vida, que sorria muito, tinha uns dentes engraçados e uns olhos a brilhar .
Acertou. Gostei do livro, li-o em dois dias sem parar.
Fui ver quem era o autor. Espantei-me de não o ter conhecido.

A Stalemate Lasts But a Moment, edição americana

retrato de Icchokas Meras, na Lituânia

Breve biografia:

Icchokas Meras nasceu em Outubro de 1934, em Kelmé, pequena cidade no noroeste da Lituânia, onde residia a comunidade judaica mais antiga do país.

A família morreu durante o trágico mês de Julho de 1941, durante a deportação. Icchokas, com sete anos, é poupado com um grupo de crianças da sua idade (1).


É recolhido- e escondido- por uma família de camponeses lituanos. Nos anos difíceis do pós-guerra faz a escola secundária, revelando muito cedo a inclinação para escrever.


Começa a publicar no jornal local.


Em 1958, forma-se no Kaunas Polytechnic Institute com uma licenciatura em “engenharia radio-electrónica”. Começa a dedicar a maior parte do seu tempo livre à literatura.

Capa da edição francesa de "Stalemate", nas edições Stock

Em 1960 publica o primeiro livro de contos, "The Yellow Patch", baseado em cenas da sua própria infância, no gueto.


Os seus romances, short stories, ensaios ou peças de teatro foram vastamente publicados e traduzidos em várias línguas.

Meras recebeu muitos Prémios literários, incluindo o “International Rememberance Award for Excellence and Distinction in the Literature of the Holocaust”, pelo livro a que me refiro, A Stalemate Lasts But a Moment, publicado em Portugal com o nome “Impasse” (Quetzal Editores, 2006).

Literatura do Holocausto... O que é? Fácil: é a que fala desse horror que foi a deportação e morte de milhões de seres humanos -só porque eram judeus.

Como Elie Wiesel, Aaron Appelfeld e outros, Icchokas Meras escreve sobre uma experiência vivida: os guetos, as perseguições, a deportação, a fuga...

O livro de Aaron Appelfeld, "Badenheim 1939", é uma "anunciação" das deportações

Sobreviveram os três, mas deixaram para trás, mortas, as suas famílias, as ilusões, e vieram carregados de sofrimento e até de remorsos por terem sobrevivido. Appelfeld, garoto de nove anos, foi deportado com o pai e outros habitantes da aldeia, foge a dada altura, esconde-se e vive na floresta (disso fala em Tzili e Uma vida) alimentando-se e sobrevivendo à maneira dos lobinhos.
Depois vai errando pelos campos, de quinta em quinta, pedindo comida, fazendo uns trabalhos, passando despercebido porque o seu cabelo muito loiro o fazia passar por ucraniano. Acabou por ser recolhido pelo Exército Vermelho.
O terceiro escritor de que vos falo hoje, Elie Wiesel, foi deportado com o pai para o Campo de extermínio de Büchenwald e depois Auschwitz. Assiste à morte do pai e salva-se in extremis pela chegada do Exército Vermelho, que libertam o campo.
O Impasse:
O romance de Meras passa-se no gueto da cidade de Vilnius, num espaço e tempo curtos. Um dia enquanto decorre uma partida de xadrez invulgar, cuja finalidade é “salvar ou não salvar” o grupo de crianças que vai ser mandado para os campos.
Abraham Lipman, um dos mais velhos do gueto, intercede junto do Comandante nazi. As condições que o Comandante impõe são a realização de uma partida de xadrez entre ele e Isaac, filho mais novo de Lipam: se o adolescente prodígio conseguir vencer, as crianças serão poupadas, mas se o contrário acontecer...

Esse dia é importante para várias pessoas do gueto, de modos diferente: Isaac Lipman ( e os outros filhos de Abraham Lipman) : e Buzia, Janek, Ina, etc.
O jogo de xadrez vai ser decisivo para a sorte das crianças do gueto: aí se instala a responsabilidade do jovem jogador.

Se ele perder, elas vão ser levadas; se ele ganhar, elas salvam-se mas ele será morto. Só o empate os poderia salvar todos. Schoger sabe que o empate é praticamente impossível.

Um Impasse.

A partida joga-se, pois, à noite, entre o Comandante alemão Schoger, e o jovem judeu Isaac (Isia), grande jogador de xadrez.

E cruzam-se os destinos, conhecemos a vida e os amores, as dificuldades e os anseios das pessoas fechadas no gueto.

O fim é previsível? Não sei. Talvez não seja...

Vale a pena ler...

Porque é um belo livro, claro. E porque é importante não esquecer...

_________________________________________-

Dados biográficos de Meras:

Em 1963, Meras publica dois livros, The Earth is Always Alive e o mundialmente conhecido “A Stalemate Lasts But a Moment” (Impasse).

Em 1965, publica outro romance: “What the World Rests On”.

Em 1971, seguem-se “The Week of the Moon” e “The Old Fountain”.

Desde 1972, Icchokas Meras vive em Holon, em Israel.

_____________________

(1) Conta o autor: "no dia 28 de Julho de 1941, fui levado para um fosso para ser fuzilado (...). Por sorte, decidiram não matar todas crianças. Por mais sorte, ainda, encontrei gente que dava valor à vida duma criança de sete anos..."

(2) Elie Wiesel, Prémio Nobel da Paz, nasce em 1928. É um escritor americano (naturalizado em 1963)es

Aos 16 anos é internado nos campos de concentração de Buchenwald e Auschvitz onde assiste à morte do pai. E onde toda a sua família morre.

Vai viver para França depois da Guerra, estuda na Sorbonne.

Em 1950 era correspondente de jornais americanos, israelitas e franceses. Parte para os Estados Unidos em 1956.

Night (1958) conta os horrores que presenciou como deportado nos campos de morte. Escreve mais duas novelas: "Dawn" (Amanhecer) (1960) e "The accident" (1961), sobre o mesmo assunto.


Capa de "Night" (A Noite), de Elie Wiesel

(3) Aaron Appelfel nasceu em 16 de Fevereiro de 1932 na aldeia de Zhadova perto de Czernowitz, na Roménia, (hoje Ucrânia). No ano de 1940, tinha Appelfeld oito anos de idade, os Nazis invadem a aldeia e matam a mãe a tiro. Appelfeld é deportado com o pai para um campo de concentração na Ucrânia.

Depois da Guerra passa alguns meses em "campos para sobreviventes perdidos", em Itália."A Idade dos Sonhos" e "Badenheim 1939"

Aaron Appelfeld emigra para 1946. Vive em israel desde essa dEmigra em 1946. Vive em Israel desde essa data.

Alguns destes livros de Appelfeld são para mim inesquecíveis!:

Italiccapa da edição inglesa de "O Immortal Bartfuss", de Appelfeld

Outros:

"The Retreat""Badenheim 1939" (nas termas de Badenheim, os veraneantes (judeus) apercebem-se de algumas estranhas mudanças, mas nunca sonham com o que lhes vai acontecer...)

"The Immortal Barthfuss" (Barthfuss é uma personagem que não tem igual e o livro tem uma grande humanidade...)

"Fragmentos de uma vida" (publicado pela Civilização Editora)

"O quarto de Mariana" (o último romance que publicou)

NOTA! Depois da "visualização" do post, vi que ficou completamente descontrolado! Mas não há nada a fazer: quando as máquinas entram nisto, fico sem alternativa, porque não percebo nada desta parte...paciência!.
Desculpem...

2 comentários:

  1. Nâo tem nenhuma importância.Eu também nâo entendo nada disto, muito menos que você,o que me vale é que o Enrique é informático,e tem uma paciência evangélica...Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Pois é, mas irritam-me estas coisas...O meu "professor" é o meu filho, mas anda por fora. Foi ele que me "limpou" o tal vírus, mas limpou tão bem que decidiu "limpar" duas script pens que não estavam "atacadas"...~
    Por sorte, "...
    beijos

    ResponderEliminar