Os Olhos de Jade
CAPÍTULO 14
Joan caminhava, apertando a gola do blusão de malha que lhe aquecia o pescoço esguio. Demorou-se no jardim, olhou as árvores e os canteiros de flores em redor da casa, o tronco retorcido e sem folhas da trepadeira de glicínias.
Estava uma manhã de sol fria e as árvores, lavadas pela chuva, tinham os ramos brilhantes.
Estava uma manhã de sol fria e as árvores, lavadas pela chuva, tinham os ramos brilhantes.
Pensava que, se tinha razão, e alguém tinha espreitado pela janela no dia anterior, haveria sinais de pegadas debaixo da janela.
Curvou-se, apoiada nos joelhos, e afastou as ervas rasteiras, procurando uma marca, mas o exame cuidadoso nada adiantou, a terra estava empapada das chuvas da noite e as ervas, apenas salpicadas dessa mesma terra molhada.
- Será possível que a minha imaginação me engane duas vezes? Estou a ficar transtornada?
Costumava ser lógica, não se deixava impressionar facilmente.
- De repente, sofro de “alucinações”, tenho pressentimentos, tenho medo! Eu?!
Mary ainda não tinha chegado. Era sábado e costumava vir mais tarde por causa das compras para o fim de semana. Sentiu a falta dela.
- Preciso de falar com alguém!, pensou. Vou acordar o Gabriel...”
Resolveu preparar o pequeno almoço para os dois, mas, quando foi espreitar ao escritório, para lhe perguntar o que queria, não o viu.
A luz estava fechada e a secretária limpa, só o computador continuava ligado. Reparou num envelope comprido que tinha escrito por fora “não abrir”.
Tocou-o, e a curiosidade fê-la girar o envelope tentando perceber o que estava dentro.
- Serão os papéis da mãe?
A ideia dos papéis obcecava-a.
Pela espessura e formato viu que se tratava de uma diskette.
- Deve estar a dormir, coitado. Fez bem. Se calhar não dormiu nada toda a noite.
Bem gostava de saber que papéis eram aqueles.
- Terá encontrado alguma coisa? E a diskette para que servirá?
Na cozinha, pegou no tabuleiro e começou a preparar o pequeno almoço. A manhã passara e ainda não tinha comido. Encheu uma grande taça com leite e corn flakes, fez um café bem forte e foi sentar-se no sofá da sala com o tabuleiro ao colo.
Recostou-se, pôs os pés em cima de um banco e suspirou. Sentia-se deprimida. De repente, tinha perdido o apetite. Limitou-se a tomar o café que, entretanto, arrefecera e fumou o primeiro cigarro do dia.
-Meu Deus, se ao menos o Michael chegasse depressa! Não consigo fazer nada.
Ouviu barulho, pousou o cigarro e foi a correr. Era o carro de Helen.
- Helen! Minha querida! Ainda bem que vieste, parece que adivinhaste como precisava de ti! Estava para aqui sozinha como um cão, a pensar na vida e a sentir-me a última desgraçada do mundo! O Gabriel está a dormir...
Não conseguia parar de falar enquanto ajudava Helen a sair do carro.
- Eu adivinho sempre tudo, querida, já sabes, a tal telepatia... Ao pequeno almoço estava a falar com a Emily sobre a nossa conversa de ontem e apeteceu-me vir dar uma olhadela, ver-te, falar com a Mary, com o vosso jardineiro.
Bateu-lhe no braço, suavemente:
- Enfim, vamos começar uma investigação a sério!
- Tens razão. Preciso de raciocinar em voz alta com alguém que me perceba, que me ajude. Estava a pensar no Michael e apareceste tu!
Olhou para os embrulhos, e disse:
-Não era preciso trazeres comida, a Mary foi às compras, deve vir carregada também...
-Nunca é demais e não te esqueças que vem aí o teu irmão. Vem neste fim de semana, não é?
-Está bem, mas antes de começarmos a investigar, como tu dizes, vamos primeiro tomar um café a sério! Já tomei um, mas não me soube bem, deixei-o arrefecer.
- Sim, minha querida, um café sabe-me sempre bem!
- Sim, minha querida, um café sabe-me sempre bem!
-Podemos tomá-lo na cozinha? Não te importas? Contigo não faço cerimónia e sinto-me bem ali, mais quentinha. Quando era pequena adorava estar na cozinha...
Quando Mary chegou, Helen ajudou-a a arrumar as verduras no frigorífico, enquanto lhe ia fazendo perguntas.
Quando Mary chegou, Helen ajudou-a a arrumar as verduras no frigorífico, enquanto lhe ia fazendo perguntas.
- Mary, diga-me, reparou nalguma coisa fora do comum, antes da morte da senhora? Por exemplo, um telefonema estranho. Ou uma carta? Percebe o que eu quero dizer?
- Sim, percebo...
Pensou um pouco e disse, abanando a cabeça:
- Cartas não houve, só os chocolates e as flores. A senhora adorava chocolates. E telefonemas, claro, isso houve, mas...
- Chocolates? Mas quem é que lhe mandou os chocolates?
- Julguei que tinha sido a senhora, Mrs. Croft...ou a Miss Emily...
- Por amor de Deus, Mary, não me chame Mrs. Croft! Collins, só Collins, Mary! Helen Collins…
- É verdade, esqueço-me sempre que o Mr. Croft...
- Passou à história, é isso. E lembra-se em que dia foi?
- Sei muito bem, então não me lembro? Foi no dia a seguir ao jantar que houve cá em casa. Toda a gente telefonou a agradecer, mandaram flores à senhora e essa caixinha de chocolates, pequenina.
Helen tirou a boquilha da mala preta e acendeu um cigarro. Aspirou com força o fumo, antes de dizer:
Helen tirou a boquilha da mala preta e acendeu um cigarro. Aspirou com força o fumo, antes de dizer:
- Chocolates!? E quem os trouxe? Como é que vieram?
- Ninguém, quer dizer, vieram normalmente. O carteiro é que os trouxe! Era um embrulho pequeno, assim, normal...
E Mary mostrava com as mãos o tamanho do embrulho.
- De onde é que vinha? Reparou na direcção?
E Mary mostrava com as mãos o tamanho do embrulho.
- De onde é que vinha? Reparou na direcção?
- O carimbo era de Brighton, por isso é que julguei que era das senhoras. Acho que foi o que a senhora pensou...
- Por quê?
- Disse assim: “ Sabe sempre do que eu gosto...”, ou coisa parecida, e riu-se enquanto abria a encomenda. Vi que eram cinco chocolates.
- Só cinco chocolates? Que disparate! Eu não mandei chocolates nenhuns, nem eu nem a Emily!
E num aparte, para Joan:
- Nem nunca mandaria só cinco...Façámos, claro, e mandei-lhe sete rosas vermelhas. Era um hábito nosso...
Virou-se para Joan:
- Quase um código: “Red roses for a blue lady.” A canção, não conheces?
- Sim, tia Helen. Mas por quê só cinco chocolates? Ninguém oferece uma caixa tão insignificante...
Joan ficara a pensar. Helen interrompeu-lhe o pensamento:
- Sabes por quê? Porque cinco chocolates comem-se num instante e o efeito do veneno é concentrado num curto espaço de tempo!
Joan virou-se para Helen, devagar:
-Sim. É isso. Toda a gente sabia que a mãe não resistia aos chocolates! E o Gabriel é alérgico, ainda ontem falámos nisso. E todos sabiam.
-Que horror!, disse Helen. Isso é horrível!
- Oh! Helen, tenho medo!...
Livro fantástico "Os olhos de Jade"!
ResponderEliminarJá comento de visual novo.
Um beijinho
Empolgante!
ResponderEliminarVai publicar ou já está publicado?
Gostei.
Um beijinho!:)
Obrigada!
ResponderEliminarPublicar? Eu até publicava, está pronto, mas quem o quer???
Beijinhos para as duas e um bom domingo.
Belo visual Isabel!