Gostava tanto de mexer na vida, De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe... E não há forma: cada vez perdida Mais a destreza de saber pegar-lhe. Viver em casa como toda a gente Não ter juízo nos meus livros – mas Chegar ao fim do mês sempre com as Despesas pagas religiosamente. Não ter receio de seguir pequenas E convidá-las para me pôr nelas – À minha Torre ebúrnea abrir janelas, Numa palavra, e não fazer mais cenas. Ter força um dia pra quebrar as roscas Desta engrenagem que empenando vai. – Não mandar telegramas ao meu Pai, – Não andar por Paris, como ando, às moscas. Levantar-me e sair – não precisar De hora e meia antes de vir prà rua. – Pôr termo a isto de viver na lua, – Perder a frousse das correntes de ar. Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas Por casa dos amigos que frequento – Não me embrenhar por histórias melindrosas Que em fantasia apenas argumento Que tudo em é fantasia alada, Um crime ou bem que nunca se comete E sempre o Oiro em chumbo se derrete Por meu Azar ou minha Zoina suada... Paris - Janeiro 1916. Mário de Sá-Carneiro, Poemas Completos Edição Fernando Cabral Martins Assírio & Alvim, 2001 |
Sá Carneiro era um grandíssimo poeta, e um homem muito torturado.
ResponderEliminarIsto continua esquisito. Recebeste o meu sermão?
Mário de Sá-Carneiro foi o primeiro autor de quem li toda a obra. Depois de ter lido "A Confissão de Lúcio" andei às voltas por todas as livrarias, até conseguir ter tudo. A peça «Amizade» foi a última que consegui. Para a ter comprei um exemplar de uma tese de doutoramento sobre a mesma, onde vinha publicada em anexo.
ResponderEliminarO Manuscrito da imagem lá acima não existe numa imagem maior?!
André.
MJ,
ResponderEliminarÉ lindo este poema!
Como sinto profundamente o poema de Mário de Sá-Carneiro e como gostav de o ter conhecido.
Beijinho!
Não conhecia, achei belíssimo.
ResponderEliminar5 bjs mais o meu.
Um poeta que partiu muito antes de tempo. Talvez superior ao próprio Pessoa. Já ouviu Adriana Calcanhoto cantá-lo?
ResponderEliminarBeijinhos