"No casarão desconfortável –em preparativos para meter-me a caminho, a pé, pela estrada fora, até à cidade- bateram-me à porta àquela hora, já adentrada a noite, era coisa muito séria, sinal de grossa aflição a que urgia dar remédio rápido.
De dia, nunca uma chamada se me prenunciava de gravidade. De noite, não enganava: o caso era sempre desesperado. O som das pancadas repercutia-se na casa toda –assustava os ratos e os gatos vadios- e chegava aos meus ouvidos com uma ressonância medonha que acordava os terrores infantis que em todos nós dormem.
Alumiado com uma fruste candeia –que nem petróleo havia com a escassez da Guerra-, chego à janela que dá para a rua (rua estreita e primitiva, de um empedrado tosco e de casas atarracadas), abro o postigo e em baixo dou com uma esguia figura de camponês:
- Senhor doutor, tenho lá a mulher com trabalhos!
Vou pelo capote e, com a pasta inseparável em semelhantes emergências, desço as escadas e, num ápice, estamos ambos na azinhaga que contorna as muralhas delidas.
Brisa agreste que entra até ao tutano dos ossos. A lua com ensombrações intermitentes de nuvens densas, mais frígidas que com propensão a água.
Sim, o meu pai dizia, dizia. Contava da sua vida. Eu ouvia sempre... Resta-me lembrá-lo hoje que faria 100 anos...
Querida Amiga,
ResponderEliminarTambém eu recordo o Dr. Falcão. A sabedoria calma, o sentido de humor, a poesia-viva, o sonho constante, os cabelos desalinhados e a ternura pronta. Homens assim não desaparecem!
Um enorme beijinho
Saudades...
Luísa
Escolheu uma bela música.
ResponderEliminarNão mata as saudades mas ajuda a bem recordar.
Cordial abraço,
mário
Obrigada. è bom recordar com a música, tem razão, Mário.
ResponderEliminarO que dizes é muito bonito Luísa! Faz-me bem ouvir. Sei que eras muito amiga dele...
Abraço
Bonita recordação e as fotografias estão excelentes. É uma grande fotógrafa. Conheço esta paisagem, podem nem ser os locais exactos mas a paisagem é para mim muito especial.
ResponderEliminarParabéns ao seu pai que deve ter sido uma pessoa excepcional, humana e construtiva.
Parabéns à filha por o lembrar!
A sonata é bela e um presente maravilhoso para o seu pai que espreita lá do céu.
Bjs. :))
Não conheci o seu pai, mas gostava muito de o ter conhecido.
ResponderEliminarPelo que sei sobre ele no livro que tive oportunidade de ler,sei que era uma pessoa com uma cultura fora do vulgar e duma grande e genuína bondade.
Junto-me a esta homenagem.
A música é muito bonita.
Um beijinho
Enternecedor...
ResponderEliminarQuem é recordado assim nunca desaparece.
abraço
Fiquei contente por virem ter comigo. Obrigada. Tem razão, Virgínia: quem é recordado, não morre nunca!
ResponderEliminarIsabel, era sobretudo uma pessoa boa e que ajudava os outros, que se preocupava com os outros.
E acho que espreita lá do céu, Ana, gostava de o pensar de verdade!
beijos
Maria, Existe um comentário entre alguns roms - o dia sete de setembro, quem nasceu nesse dia, tem estrela larga, mãos bravas de orgulho pela verdade e pela coragem, assina com caneta de ouro, pois essa é a cor que nos acorda a alma e a necessidade de honrar a Deus todos os dias.
ResponderEliminarA este caro senhor e estimado doutor, rendemos uma oração, que Deus o traga junto como filho preferido e que seu voo seje sempre de curar, ainda que do outro lado, os filhos e filhas que dele precisar. Que esteja em paz.
bjs das 5 - saudade é o amor que fica.
Parabéns!!!
ResponderEliminarUm belo texto, bela a lembrança.
Ver sítios que conheço tão bem, por onde passo todos os dias. E o mais engraçado, a foto que está no gabinete médico da Patologia Clínica que eu descobri à pouco que é do teu pai, eheheheheh.
O sr. que dá nome à minha rua eheheh.
Beijo, meu Falcão Lunar!!!
Lindas palavras! O Falcão Lunar agradece, Carlota!
ResponderEliminarAmigas dos Vurdóns: que bom ouvir esse ditado rohm! Era verdade...Nais tuke
Belo texto, uma recordação que não tem preço para ti,que terás muitos escritos dele, suponho, porque quem escreve assim escreve toda a vida. Esse "ambos", refere-se a ele e ao capote?
ResponderEliminarAcabou os seus dias no lugar que merecia e certamente quis para ele, essa casa maravilhosa em plena natureza.
!00 anos! O meu fazia-os em 2009. Acho que viveram num momento bonito, que pensariam da vida se estivessem aqui agora?
Parabéns por ter tido um pai fantástico.
Quanta beleza, Maria João!Comovi-me com esta evocação do seu pai e com a homenagem a Portalegre. Poesia pura! Parece que o vejo a ele, que eu própria caminho nas ruas de Portalegre... Sim, quem assim é falado é eterno - e está enternecido a ouvi-la...
ResponderEliminarUm beijinho,
lurdes
Conheci tão bem o Dr. Feliciano Falcão... tenho tantas lindas histórias dele... no Café Facha...
ResponderEliminarAmigo anónimo, quem é? Sim, o Café Facha...
ResponderEliminarE que histórias tem? fico curiosa... Escreva.
Olá.
ResponderEliminarObrigado por me recordar da data precisa.
Vou escrever sobre ele. Mais uma vez!
Com amizade. Bjs.
JDACT
Nota: Só me é permitido o anónimo.