quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poema de Florbela Espanca: "Perdi osmeus fantásticos castelos..."

Perdi os meus fantásticos castelos




Perdi os meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:

Quebrei as minhas lanças uma a uma!
Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
-Tantos escolhos! Quem podia vê-los?-
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!


Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

Florbela Espanca, in “A Mensageira das Violetas”

Ilustrações: 3 pintores Pré-Rafaelitas




1- Edward Burne-Jones, estudo para cabeça


2- Gabriel Rossetti, Proserpina


3- John William Watehouse, Destiny


4- John W. Waterhouse, Boréas


10 comentários:

  1. Incrível como a tristeza, a desilusão, a perda, podem tornar-se intensamente belas.
    Um beijinho
    Luísa

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  2. Olá, Maria João

    Não conhecia este poema de Florbela Espanca.
    É bonito e triste como são quase todos os seus poemas.

    Tantas perdas... ficavam ainda a dor, o sofrimento, a tristeza e a solidão - Companheiros fiéis. Também eles poderiam ir!!

    Um beijinho terno e amigo,

    Cláudia

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  3. Lindíssimo o poema, como são todos da Florbela Espanca. Gosto muito.
    E lindas as pinturas.
    Um beijinho grande

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  4. Saudações Mrs Falcão e como sempre me surpreendo a cada postagem que encontro aqui. Florbela é uma daquelas estrelas que passa com seu brilho encantado, hipnotizando os mortais que pouco sabe usar o bem mais precioso que tem chamado sentimento, mostrando a temática abordada, principalmente amorosa. O que retratava era o amor e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. Grande poetisa e uma ilustre portuguesa. Namaste.

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  5. Vivi intensamente a poesia de Florbela Espanca quando era muito nova (sabia este soneto e muitos outros de memória). Hoje,já velhinha, sei que só perdi o que nunca foi meu.
    Estás bem? Mando-te um beijinho

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  6. Belo. Belíssimo!!
    Adoro Florbela Espanca, e rever este poema lindíssimo fez-me sorrir.
    Toda a sua obra é eternamente bela, dolorosa sofrida.
    Adoro.

    Beijo Meu belo Falcão Lunar!!!

    Carlota Pires Dacosta

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  7. Sempre gostei mais de lutar do que de chorar.
    Às vezes chorar também faz falta,desde que deixemos ir nas lágrimas o desdalento.

    Cordial abraço,
    mário

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  8. MJ,
    A melancolia de Florbela Espanca resultou muito bem nos seus poemas. Aqui, a MJ casou-os muito bem com a pintura pre-rafaelita.
    Tudo muito belo.
    Beijinhos! :))

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  9. Querida M. J. Falcão,
    Mais que do amor, a Florbela foi uma grande cantora da dor e do desencanto. Me mesmo sendo sentimentos que nos corroem a alma, não deixam de ter lá a sua beleza. Como disse o nosso Vinícius, "pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza".
    Florbela transformou a sua dor e o seu desencanto em beleza.
    Quanto às pinturas, cada vez que vejo algo assim me pergunto: será que os borrões que hoje estão pendurados nas paredes das galerias são mesmo Arte? Não sei...

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